sábado, 29 de março de 2014

Exames Nacionais e Prêmio Nobel da Economia

Eu mesmo não sei a razão que James Heckman, prêmio Nobel de Economia que reclama dos prejuízos causados às escolas dos exames nacionais. Esses examens criados pelos governos paleo-liberais para aferir a qualidade das escolas e professores!?!? Ele fala, fala e fala....mas não cita a palavra controle! Bãozim ele né!? 

Foda é ver gente tão inteligente falar umas bobagens inúteis para o que se chama "educação".

JC e-mail 4918, de 24 de março de 2014
James Heckman fala sobre a importância de medir e avaliar habilidades não cognitivas ou socioemocionais e seus impactos na qualidade do ensino, usando modelagens econômicas e técnicas psicométricas

Ministros da Educação, formuladores de políticas públicas e especialistas em ensino de vários países se reúnem em São Paulo amanhã e terça-feira para ouvir o economista James Heckman, prêmio Nobel de Economia, falar sobre um tema que está no radar das políticas educacionais de governos do mundo inteiro: a importância de medir e avaliar habilidades não cognitivas ou socioemocionais - como liderança, abertura a novas experiências, otimismo, perseverança - e seus impactos na qualidade do ensino, usando modelagens econômicas e técnicas psicométricas.

No seminário "Educar para as competências do século XXI", organizado pelo Ministério da Educação (MEC) e Instituto Ayrton Senna (IAS), Heckman e seu assistente na Universidade de Chicago Tim Kautz vão apresentar um trabalho acadêmico encomendado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que pretende mostrar que avaliações educacionais de larga escala, como o Pisa e a Prova Brasil, por exemplo, aplicadas hoje em vários países para medir a qualidade do ensino, têm um potencial limitado.

No sábado à noite, antes de embarcar para o Brasil, Heckman foi enfático ao dizer ao Valor que os atuais instrumentos para aferir bom desempenho escolar corromperam os sistemas educacionais como um todo. "Quando dissemos que os testes educacionais eram a coisa mais importante para orientar as políticas educacionais, as crianças e os professores ficaram só focados em ensinar e aprender com base nesses testes. As grandes avaliações corromperam o sistema educacional tradicional. O que nós queremos mostrar é quais são as habilidades que mais importam para a vida, então muito melhor do que ficar dando pontos pelo conhecimento em inglês, português ou matemática é avaliar como o comportamento e a motivação da criança impactam nesses conhecimentos", afirma Heckman.

Na entrevista a seguir, feita por telefone, o prêmio Nobel de economia em 2000 também disse que não defende o fim das avaliações educacionais como elas são hoje, mas que seja restaurado um equilíbrio entre as medições e interpretações das habilidades não cognitivas e cognitivas (memória, capacidade de racionalizar e interpretar) na condução das políticas educacionais.

Além da participação de Heckman, outro destaque do seminário é a apresentação, por pesquisadores do IAS, de resultados de um teste-piloto que mostra a relação entre habilidades não cognitivas e desempenho escolar feito com alunos da rede estadual do Rio de Janeiro no fim de 2013.

Valor: O que o trabalho que o sr. e o pesquisador Tim Kautz vão apresentar em São Paulo traz de novidades?
James Heckman: Irá mostrar basicamente 1: como medimos as habilidades não cognitivas e que impactos elas trazem ao longo da vida; e 2: como certas intervenções sociais podem melhorar habilidades cognitivas e não cognitivas na escola, principalmente durante a primeira infância. Foi um pedido da OCDE. Eles sabem que habilidades não cognitivas são muito importantes para compor as notas do Pisa [Programme for International Students Assessment], mas elas não estão sendo consideradas no teste. Nós mostramos que elas podem ser medidas, o Rio de Janeiro está mostrando isso.

Valor: A OCDE pretende mudar o Pisa? Além das notas de línguas, matemática e redação, quer incluir testes de comportamento para medir a influência das competências ditas socioemocionais no desempenho escolar?
JH: O Brasil está na frente do jogo com a experiência do Rio, por isso está ajudando a OCDE nessa experiência. A OCDE está fixada na avaliação do Pisa e na conferência deve confirmar que o teste não deve ser tão limitado na perspectiva de composição de suas notas.

Valor: Como avaliações desse tipo, que relacionam habilidades não congnitivas com aprendizado, podem ajudar a melhorar as políticas educacionais e o ensino?
JH: Hoje estamos avaliando a qualidade da educação com base nas notas do Pisa. O que nós queremos mostrar é quais são as habilidades que mais importam para a vida do estudante. Isso define uma melhor maneira de acompanhá-lo, saber quem precisa de ajuda e, talvez, evitar que muitos fiquem para trás. Então, muito melhor do que ficar dando pontos pelo conhecimento em inglês, português ou matemática é avaliar como o comportamento e a motivação da criança impactam no conhecimento.

Valor: Renovar a educação a esse ponto implica uma revolução dos modelos que conhecemos hoje?
JH: Se você olhar para a educação americana há 50 anos não é uma revolução. Basicamente as escolas americanas ensinavam como construir o caráter do estudante. A maioria delas costumava transmitir valores como cooperação, moral, a importância de frequentar a escola. Isso não é uma revolução, talvez seja uma revolução dentro da revolução: as escolas não devem estar focadas somente em um único aspecto de sucesso do estudantes, aquele medido pelos testes, agora há mais evidências para saber como valores contribuem para a educação.

Valor: Mas isso não implicaria uma série de mudanças? Preparação de professores, currículo...
JH: A abordagem tradicional da educação sempre foi a de encorajar a criança, mostrar valores, ensinar toda uma gama de habilidades. O que deve acontecer é que devemos nos voltar para esse esquema. O que aconteceu é que quando dissemos que os testes educacionais eram a coisa mais importante para orientar as políticas educacionais, as crianças e os professores ficaram só focados em ensinar e aprender com base nesses testes. As grandes avaliações corromperam o sistema educacional tradicional. Valorizar competências socioemocionais na escola é mais como um retorno ao Jardim do Éden do que uma revolução, é realmente voltar anos no tempo para melhorar as políticas educacionais. É importante dizer que nós podemos medir essas competências e nós sabemos que elas são importantes. Não é uma revolução porque é o que professores sempre fizeram, ensinar o básico em termos de conhecimento, mas também valores.

Valor: O sr. está defendendo o fim das avaliações educacionais de larga escala?
JH: Não, ambas [avaliações] são importantes. Não é preciso ir de um extremo a outro, mas o mais importante aqui é restaurar um equilíbrio. O que aconteceu é que nós passamos a focar tanto nas habilidades cognitivas e deixamos outras habilidades que são importantes para trás.

Valor: Usando o Pisa como exemplo, é possível integrar um teste tradicional que mede conhecimento com um que avalia habilidades não cognitivas?
JH: Há um quadro que mostra que determinada criança é boa em matemática, talvez não tão boa em português. Se incluirmos aí outro aspecto, podemos saber talvez que essa criança tem problemas em cooperar com seus colegas de classe, mas é muito perseverante. Saber essas coisas é uma estratégia que você dá para o professor. Você está dizendo para ele: essa criança é um pouco deficiente aqui, tem bons resultados nesse outro aspecto. A partir disso, você cria um alvo para levar a criança a um outro nível. Isso representa um sistema educacional mais efetivo do que simplesmente focar um problema relacionado à nota de uma disciplina.

Valor: Governos precisariam gastar mais para ter um modelo educacional orientado pelo resultado dessas novas avaliações?
JH: Não. É uma questão de enfatizar o que é ensinado aos professores nas faculdades de pedagogia, nas licenciaturas, e como recompensá-los pelo seu trabalho. O professor devia pensar em como produzir a criança como um todo, o ser humano como um todo. Eu não acho que seja preciso mais dinheiro para isso, de forma alguma.

Valor: O Brasil é um país desigual, os professores são mal remunerados. É comum ouvir de professores que, além de ensinar, eles também têm que ser meio psicólogos, tratar dos problemas familiares dos alunos, cuidar do aluno que chega com fome na escola. Dar aulas olhando para essas novas habilidades não significa mais trabalho para os professores?
JH: Bom, é preciso pensar o que faz, de fato, uma educação ser efetiva. Talvez seja preciso enfatizar o que os professores faziam no passado, que era a boa maneira de ensinar. Isso tem que ser reconsiderado. Ensinar é uma forma de ser pai e mãe, de preparar para a vida, não sei se uma forma de ser psicólogo também, mas professor tem que ouvir muito as crianças. Eu me solidarizo com esses professores dos quais você fala, embora não conheça seus salários. Mas o que eu posso dizer é que uma educação efetiva é muito diferente daquela que só foca em escrever, ler e contar. Educação só será melhor se os professores souberem trabalhar com outras habilidades, como a motivação das crianças.

Valor: Seu trabalho é geralmente criticado por focar em resultados econômicos. Mesmo as pesquisas sobre primeira infância e habilidades não cognitivas têm como foco o fator produtividade e o retorno econômico do indivíduo para a sociedade. Como responde a isso?
JH: É um erro. Estava na Itália no mês passado e recebi críticas parecidas. De acordo com dados americanos, nós estimamos uma taxa de retorno de 7% a 10% por ano em termos de valores econômicos para a formação escolar. Mas isso subestima uma taxa total de retorno de uma pessoa com melhor formação escolar que tem mais chances de desenvolver melhores condições de saúde, tem mais chance de desenvolver melhor sua autoconfiança, melhorar uma grande gama de relações que podem ser quantificadas. E nós estamos quantificando isso aqui em Chicago. Eu acho que essas críticas são um equívoco sobre a importância dos resultados econômicos, que não estão sozinhos, tentamos unir resultados econômicos com um conjunto de valores. Por exemplo: estimular o desenvolvimento na primeira infância tem grandes efeitos em saúde, ajuda a reduzir substancialmente o risco de diabetes, incidência de doenças cardíacas no futuro.

Valor: Os governos estão mais atentos a temas como esses que serão discutidos no seminário em São Paulo?
JH: O seminário é um exemplo da preocupação de governos com o tema. Há três meses, conversei com os ministros da Educação do Reino Unido e da Noruega, que se mostraram muito abertos para o assunto. Há um diálogo público em andamento, mas leva tempo fazer essas ideias avançarem.

(Luciano Máximo / Valor Econômico)

domingo, 23 de março de 2014

Castellers da Cataluña uma experiência de ego explodido: anarquismo e mutualidade!


Formação da base do Castelo
Em 2008 tive a oportunidade de conhecer uma manifestação cultural da Cataluña na pequena vila de Esparraguera. As famílias se reuniam para montar castelos humanos “Castellers”. Eu não sabia bem o que eu ia ver.  De repente aquelas pessoas começaram a se organizar de modo peculiar.

Eu via que logicamente iam subindo de três em três uns sobre os outros. Diante dos meus olhos foi surgiu um andar, depois outro composto por homens, nem mais fortes nem mais gordos. Um técnico e outros assessoravam quem entrava onde. Cada pessoa tinha um lugar específico para entrar, fosse qual fosse sua estrutura física ou idade. Na base os observadores eram postos em lugares de apoio e se apertando para a base não abrir.

Nos andares subsequentes iam mulheres, depois os adolescentes, as crianças até que no topo subiam duas crianças de não mais de 5 anos, que levantavam a mão como que batendo um sino. Depois desse gesto, ocorria a desmontagem, mais perigosas, pois as crianças e filhos daqueles todos ali podiam cair e se machucarem.
Criança batendo a sineta

Sei apenas que quando via aquele castelo humano montado fui tomado de imensa emoção e meus olhos marejaram. Havia um sentido em si, total, completo, bom, não sei dizer, mas fazia muito sentido de tudo que estava especulando ser uma sociedade e uma possível relação humana.

Três Agurreros "Agulhas"


Os bicudos como eu figurava éramos chamados para fazer parte da base.  Não tive dúvida quando me chamaram a ser prensado entre ombros. Até o modo de se colocar era importante para que no caso houvesse uma queda nós não nos machucássemos. Quando mais complexa e mais alta a torre humana, mais pessoas e mais inquietação com a base em ser compacta e armada. Na medida em que cada andar subia o corpo vibrava como o zunido de uma caixa de abelhas. Ali sim a sensação de união de explosão de ego parecia mais que uma metáfora.

Torre de 8 andares e Criança no topo: Perigo!

Nesse período que estive na Cataluña estive num festival em Vila Franca de Penedes. Lugar onde as principais equipes de Castellers do país se reuniam para fazer as suas torres de 1, 2, 3, 4 e cinco pessoas por andar e vi uma que se montou até 9 andares com um criancinha de capacete subir no topo. Vi alguma dessas torres caírem e até sair gente machucada. A descida é onde ocorre o perigo, mesmo na montagem eles só sobem os andares se os técnicos ou orientadores confirmarem a segurança. Em uma das quedas de torres que vi houve um dos homens da torre que catou uma criança no ar para impedir sua queda. 

Contaram-me que a adoção do capacete ocorreu após o falecimento de uma criança por uma queda.
Essas crianças do topo eram guardadas longe de ver as outras equipes montarem suas torres, pois se alguma caísse e a criança poderia ficar chocada, assim, talvez o medo a impediria de subir.
Formação base vista de cima ou La piña: a Pinha como a fruta do pinheiros

Nessas torres mais complexas eu participei de várias formações de base, inclusive, os bicões não ficavam em qualquer lugar. Toda densidade necessária é importante. Afinal, filhos, esposas, netos e parentes estão envolvidos numa construção intergeracional. A compreensão desse sentido comunitário e responsabilidade familiar e social, o amparo para construir algo, os filhos mais novos no lugar mais perigoso, tudo isso me cortava o peito.

Disseram-me que essas torres humanas era coisa específica da Cataluña. Algo que surgiu no medievo como uma figuração das capelas e de cunho religioso. Não sei dizer a origem, mas para ultrapassar o terceiro andar, os homens tiveram que incluir as mulheres. Sem as mulheres não haveria essa ousadia de fazer 9 andares. A incorporação da mulher foi um passo para reconhecer a importância delas na sociedade? Não sei dizer!? Mas as doidinhas adoravam subir, tal como os adolescentes e crianças.
a Pinha formação tal como é a fruta do pinheiros

Eu estudando anarquismo e vendo um exemplo vibrante de mutualismo diante de meus olhos. Pensei que naquele modelo ninguém era inservível, todos eram importantes. Todos eram protagonistas, todos sabiam os riscos e a adrenalina de fazer algo junto. Isso é o mais perto do que vi ser uma relação anarquista, embora aconteçam tantas experiências sociais, festas, cerimoniais ou nos esportes de massa experiências de catarses dos sentidos, tal como conclusões de nossa humanidade, ali, a metáfora era brincante, uma ciranda de corpo horizontal e vertical.


segunda-feira, 17 de março de 2014

Anarquista o caralho! Conheçam Rosângela Rosa e o programa do leite!


Em 1993, quando cheguei a primeira vez em João Pessoa-PB conheci uma mulher. Estava na ante sala da presidência de órgão do governo do estado. Rosângela é assistente social e foi conversar comigo, pois íamos trabalhar juntos. 


Chegou aquela moça de pele dourada, um batom vermelho sem igual e de olhos verdes brilhantes. Foi o início de uma grande amizade e cumplicidade em muitos trabalhos de empreendimentos sociais e produtivos com indígenas, camponeses e associações de trabalhadores por vários lugares da Paraíba.



Rosângela tem cinco filhos e é casada com Djalma, que é um mestre obras até hoje, embora tenha começado a trabalhar aos 14 anos de idade. Hoje Rosângela é avó. Uma mulher linda, integra e que sempre esteve ao lado das pessoas, mas que sempre exigiu delas reações.



Tenho muitas histórias dela. Uma sempre me acompanhou: trata-se de um trabalho que ela participou de entrega de leite para mães pobres. No início desse programa criado por Sarney, todas as crianças até 10 anos recebia uma quantidade. Durante anos sucessivos esse limite de idade foi caindo e criado outras exigências.



Na década de 1990 já era a idade de 3 anos e até um certo peso médio que tinha-se o direito a esse leite e um litro de óleo de soja. Se a criança atingisse o peso, sairia do programa. 



Rosângela me contou que um dia uma mãe se assustou. O filho tinha atingido a recuperação da desnutrição e do peso. Ela disse a essa mãe que não poderia mais receber esse leite.



A mãe perguntou quanto o filho teria que perder de peso para voltar a receber o leite. Após algum tempo essa mãe retorna com o filho abaixo do peso estipulado e voltou integrar o programa.



Essa mãe tinha mais dois filhos e aquele leite que era para apenas um servia para os três. Era a fonte de alimento para uma mãe pré-fome zero.



Encontrei Rosângela recentemente e retomei essa história. Ela confirmou tudo, lembrava-se dessa mãe. Ela e o pai faleceram de tuberculose e um desses filhos se tornou um bandido perigoso que parece ter matado uns tantos e fatalmente acabou sendo morto.



Dos outros filhos não falamos. Se o programa do leite alimentou pessoas que seria boas ou más não sabemos.



Como lidar com tanta miséria nesse pais? Como participar de políticas de Estado e nos mantermos íntegros.



Para mim, educação é igual a esse leite. Embora inspirados nos melhores valores e direitos, a melhor ou pior educação não é em si um gerador de conduta social construtiva.



A educação, tal como esse leite é um direito. Nãõ estou falando dessas escolinha boas que de tempos em tempos ganham prêmios e viram ícones de força de vontade e amor!



E Rosângela? Nesses anos ela não mudou nada fisicamente. Menos ingenua, menos encantada com as ideologias e políticas, continua a trabalhar no posto de saúde da prefeitura, no Estado e mantendo a integridade.



Tem até um irmão no alto escalão do Governo, mas isso não a fez mudar, mas se sentir mais imprensada pelas auto exigências.



Para um anarquista, servir ao Estado é algo contraditório, manter-se integro nesse ambiente, mais difícil ainda. 



Rosângela, não arredou o pé dos direitos a serem efetivados, não vergou..estava dançando chorinho no Projeto Sabadinho Bom em João Pessoa com Djalma, com aquele sorriso vermelho e olho de criança. Incredulamente crente se deu o direito de dançar!



Anarquista o Caralho!



Depois conto a história do trator no meio do canavial que Rosângela consegui para nos tirar de uma atoleiro num trabalho de demarcação de terras indígenas na Baia da Traição!




quarta-feira, 12 de março de 2014

Alunos prendem 11 professores e funcionários!


Esse fato já ocorreu incontáveis vezes. O fato pode ser risível ou trágico.

Ainda assim, a escola tem servido para criar loucos! 


Alunos prendem 11 professores e 4 funcionários na sala dos professores
Corpo de Bombeiros quebrou o cadeado e liberou os reféns; cinco responsáveis já foram identificados
iG Minas Gerais | ALINE DINIZ 

Alunos aproveitam o recreio, trancam professores e vandalizam escola
Pelo menos cinco alunos prenderam 11 professores e outros quatro servidores da área pedagógica dentro da sala dos professores durante o recreio, na manhã desta quarta-feira (12), na Escola Estadual Maria de Barros, em Ituiutaba, na região Centro-Oeste de Minas Gerais. A instituição de ensino fica na rua Cláudio Manoel da Costa, no bairro Independência.
Desesperados, os educadores ligaram para o Corpo de Bombeiros. “A guarnição foi para o local por volta de 10 horas, e os militares cortaram o cadeado e liberaram as pessoas”, conta a soldado Renata Fonseca do Corpo de Bombeiros de Ituiutaba.
Segundo a Polícia Militar (PM), os alunos trancaram a grade de proteção da porta com um cadeado. Depois, eles iniciaram um tumulto e quebraram carteiras e vidros, colocaram fogo em uma lata de lixo, e quebraram um ventilador.
Todos os cinco estudantes identificados tem 16 anos. Os militares foram até a casa deles, porém, até o fechamento dessa matéria, eles não haviam sido encontrados.
Os alunos foram dispensados, porém, nesta quinta-feira (13), a escola funcionará normalmente.
Sem histórico A Superintendente Regional de Ensino de Ituiutaba, Ises Gomes, informou que esse tipo de ocorrido não é frequente na escola. “O ocorrido foi pontual. A escola não tem histórico de atos de violência, vamos iniciar um trabalho de conscientização na escola em parceria com a Promotoria da Infância e Juventude e com a patrulha escolar”, garante.
Além de precisarem prestar esclarecimentos à polícia, os responsáveis pela confusão sofrerão sanções na escola. A última medida pode ser a o remanejamento. “Vamos encaminhar os alunos para um centro com psicólogos e assistentes sociais”, disse Ises.



quarta-feira, 5 de março de 2014

Cooperativa Longo Maï a minha primeira experiência coletiva


Entre maio de 1991 e dezembro de 1993 vivi em Longo Maï-França. Ai tive a primeira experiência coletiva de minha vida. Nesse período passei os primeiros meses com uma equipe de marcenaria em Forcalquier/Limans. Depois me mudei para outra fazenda Longo Mai em Treynas, distrito de Chanéac, na Alta -Ardèche onde cuidava de ovelhas e animais da fazenda. Antes de partir vivi seis meses em Mas de Granier, em Saint-Martin-de-Crau, onde cuidava de legumes orgânicos, participava das feiras livres. Em cada um desses lugares tive experiência que me marcaram.

A minha preocupação com ações coletivas se iniciaram bem cedo em minha vida. Durante os anos de 1983 e 85 tive conhecimento teórico do cooperativismo na escola agrícola e esse tema sempre tomava meu máximo de idealismo juvenil, acima inclusive de minha autonomia econômica.

O desejo por processos sociais e coletivos começaram cedo, mas transitavam entre o idílico e autossuficiência rural. Dessas experiências vistas e algumas parcialmente vividas, associadas o naturalismo criou-se em mim um aspecto sectário e de entrega monástica.

Em 1991 soube da existência de uma comunidade na França através de minha irmã. Ela me informava que Longo Mai recebia jovens do mundo inteiro e que seria uma boa experiência se eu juntasse dinheiro para comprar a passagem e ver o que era isso.

Na época eu criava abelhas em Leoldina-MG. Tinha parceria com fazendeiros e cuidava de 30 colmeias. Vendia o mel e a própolis no Rio de Janeiro. Com esses ganhos e com muita ajuda eu comprava dólares para não ser corroído pela inflação agressiva da década de 1980. Pus-me a estudar francês com um professor que vivia em Leopoldina, que sempre amou a língua, mas nunca conseguiu viver em país francófono.

O que eu entendia de Longo Mai era que tinha um caráter político de esquerda, mas isso passava pela minha cabeça como um local de ações humanitárias. A percepção do que era coletivismo, organização e ações políticas eu só fui compreender quando lá cheguei.

Ao chegar na França eu não entendia nada do francês falado. Por sorte em Avingon, quando desembarquei na estação de trem, consegui encontrar um estacionamento debaixo da estação, que de fato era uma rodoviária. La estava escrito o horário do ônibus para a cidade de Forcalquier.

Forcalquier era uma dessas pequenas cidades do interior da França com poucos habitantes. Os telefones haviam acrescido um número na época e eu não conseguia fazer contato. Essa experiência de não saber me comunicar e ter que me virar me deu para o resto da vida a compreensão próxima do que é uma pessoa analfabeta e surda.

A cada pessoa de Forcalquier que eu perguntava e me dirigia eu não era bem tratado. Depois soube que Longo Mai não era muito querida na época por algumas pessoas da cidade. Entrei num bar e um camarada de bota, chapéu e adereços de cowboy puxou ou eu puxei assunto. Ele ia para Longo Mai e que eu esperasse ele tomar umas doses de Pastis (um extrato de anis estrela alcoólico que se adiciona 4 partes de água, no Brasil chama-se Arak). Achei engraçado e meio cafona, mas foi a única pessoa que entendeu para onde eu ia. Era um dia quente e o carro dele era uma kombi adaptada como uma casa.

Assim comecei a ver a terra seca, pastagem de característica árida que aprendi ser a paisagem mediterrânea da Provença. A ansiedade de chegar naquele lugar era incrível. Língua estranha, lugar diferente e totalmente descolado das coisas que me davam segurança.

Uma brasileira morava no local e me recebeu apresentando um rapaz português, José, que iria conversar comigo com mais calma e me integrar na equipe dele. José era uma pessoa de muitas habilidades por ser marceneiro, enfermeiro e por ter feito muitas coisas na vida. E tinha o lado português que é uma proximidade diferente para a cultura que eu tinha.

Nessas primeiras conversas eu fui integrado na equipe de marcenaria. As atividades gerais eram fazer cozinha uma vez por semana, fazer parte da equipe de rádio noturna, panificação, alimentar os porcos e qualquer outra atividade de mutirão para colheita.

Nesse primeiro contato senti que tudo me atraia. Não eram calorosos, mas amistosos. Não percebia relações familiares, embora houvesse muitos jovens e crianças. Localizar os casais e referenciais de família perdurou por algum tempo até que eu desistisse. Na verdade, eles não incentivavam essa sensação de família nuclear e mais tarde entendi como era essa relação entre os casais e seus filhos.

No entardecer tive a sorte de ser um dia que o Comédia Mundi, grupo musical de canções cigana ia tocar. O refeitório da comunidade era também o palco, Grange Neuve se chama. Esse espaço tinha sido no passado um abrigo de ovelhas modificado para ser uma sede de convívio. Era todo feito em pedras e madeira reconstruído por eles, embora grande, com todas aquelas pessoas e mesas ficava muito aconchegante e para minha cabeça, um tanto medieval.

O jantar me impressionava pela forma mesmo dos franceses comerem uma salada de entrada com vinho e pão, depois o prato principal e o acompanhamento, mais aquela movimentação de gente de várias nacionalidades. Só essa ambientação multicultural já me deixava extasiado.

As músicas ciganas coroaram a chegada e o início de uma paixão com tudo aquilo que era maior do que eu imaginava. Com 21 anos eu já era um romântico exagerado, mais aquele ambiente internacionalizado e fazendo coisas políticas, prática e em coletividade, me fazia perceber que aquilo não podia ser vivido só um pouquinho de mim. Decidi permanecer o máximo possível.

Eu tinha que aprender logo o francês e me virar para entender aquelas discussões tão malucas e densas. Nas noites que se seguiram eu me sentia entre extasiado e confrontado com valores morais que mais tarde percebi ser resultado de minha formação cristã, ainda que já me considerasse ateu. Ateu cristão era risível. No Brasil somos cristãos por osmose, até quem se nega crer e ter fé divina é cristão e no pior sentido.

Em qualquer noite alguém poderia bater uma faca ou garfo num copo e iria acontecer uma reunião grande. Havia um dia específico que sempre ocorria algum informe, convocação para alguma frente de trabalho, um debate de algum visitante que podia ser músico, político, jornalista ou membro de outra comunidade Longo Mai. Havia várias coletividades na França, Suíça, Áustria, Ucrânia e até na Costa Rica.

Numa forma genérica o que mais se aproximava dessa organização eram os kibutz de Israel, mas com um cunho de engajamento de esquerda. No primeiro momento eu pouco compreendia esses debates por serem temas que não faziam parte de minha formação, por serem questões políticas e abordagens próprias deles e pela precária compreensão do francês que ainda não era capaz de acompanhar essa complexidade, mesmo se fosse em português eu não teria entendido muito o que era debatido.

Tive uma formação política que era bem rasa e se limitava à justiça social. Não fazia muita ideia de questões políticas mundiais e o máximo que podia dizer era que Collor era representante das oligarquias brasileiras. Não sabia o que era luta de classes, privatização, unificação da Europa, queda do muro de Berlim, fragmentação da Iugoslávia, das descolonizações dos países africanos e a tragédia que os abatia.

Era muita coisa para meu puritanismo, vegetarianismo, ateísmo cristão, sexismo, imaturidade, romantismo, além disso, não sambava, não jogava futebol e impregnado de um ecologismo idílico-narcisista. Ao meu favor? Um pouco do calor humano brasileiro, estigma da felicidade em sofrimento, a música, cultura legal e uma vontade grande fazer coisas com e pelos outros que sempre me acompanhou. Essa vontade de fazer junto nunca me largou e mesmo com meus equívocos e imaturidade, sei bem que isso que me segurou em momentos de confronto.

O confronto, o conflito e o choque não eram evitados por eles, mas eu, na minha intuição, fugia de todos confrontos ou os fazia se qualquer segurança. Tentei ser antropofágico, mas essa estratégia não dura muito tempo em ambiente tão intenso e de relações tão orgânicas. Tentava não me mostrar tão incomodado e punha sobre mim as tarefas mais difíceis, embora pudesse assumir coisas mais simples. Essa parte cristã e estoica me fazia ir sempre para longe daquilo que me traria mais conforto e de certo modo tenho essa tendência. Assumir coisas para mim que vão dar trabalho. Um hedonista por um lado e um autocrítico severo.

Vivi seis meses em Forcalquier-Limans onde a vitalidade e a chegada de pessoas era incrível. Fiz parte da equipe que iria fazer a construção de um bar para receber os participantes do Fórum Cívico Europeu. Nem imaginava que usar britadeira me daria tantos calos e tão rapidamente em minhas mãos para quebrar aquela rocha calcária para fazer a fundação desse pequeno quiosque. Eu fazia menos ideia do que significava este fórum.

Toda semana saia um jornal chamado Le Grand Père de Chainais que continha críticas políticas com uma acidez que ia me marcar para sempre em minha escrita. Nessa época de aprendizagem do francês coincide com o momento de aprendizado da escrita do português. Punha minhas angústias em cartas aos meus amigos e parentes. Parecia uma metralhadora, mas muito dessas coisas não faziam sentido para as pessoas e outras eu nem tentava contar.

O fórum aconteceu em agosto, em pleno verão, recebendo políticos, jornalistas engajados, sindicalistas, cientistas políticos e por ai vai. Lembro-me de ver e ouvir o René Dumont, agrônomo terceiro mundista (nem existe mais essa expressão hoje), o ex presidente de Cabo Verde Aristides Pereira, ex- presos políticos de Portugal e Jean Cardonel, padre dominicano muito respeitado na França. Esses eram os que eu entendia a magnitude, contudo, havia muitos outros destacados que eu nem imaginava serem igualmente importantes.

Também ajudamos a levantar uma lona de circo alugada para ocorrer o evento. Guardando as proporções era como o Fórum Social que ocorreria no Brasil anos mais tarde. Essas dinâmicas me deixavam com maior sensação de compromisso político e humano.

Conhecer delegação de pessoas da Polônia, Ucrânia, Mali e de tantas outras nacionalidades eram num mesmo tempo entusiasmante e chocante. Ter dessas pessoas um tipo de contato, de diálogo, de trocas era algo que mexia com meu entendimento de mundo, da diversidade e até da afetividade.

Eu sabia que Longo Mai havia passado por pressões, denúncias, campanhas difamatórias e processos de todo tipo. Também percebi e soube de histórias que a aproximava mais de uma seita política do que de um grupo anarquista. O fato é que qualquer comunidade tem uma crítica externa que também oscila pelo sectarismo. Ainda percebendo essas coisas eu preferia estar ali e sabia que há coisas que não se explicaria facilmente para quem vive fora de um conjunto tão complexo de relações. Longo Mai realmente assustava.

Nesse período que fiquei em Forcalquier/Limans levantamos uma casa de madeira e eu fazia um programa sobre a Bossa Nova na Rádio Livre Zinzine, ainda guardo comigo uma fita com a gravação de um desses programas. Uma madrugada por semana eu fazia uma parte da programação noturna, mas tinha vergonha de falar. Conhecer a dinâmica de uma rádio me estimulava.

Britadeira, marcenaria, cozinha, colheita de feno, panificação, programa de rádio e apicultura, além disso, debates, convívio com estrangeiros, noções do que é a África, a Provença, a riqueza cultural e a mídia banal de um país rico. Lá tive o primeiro contato com a tecnologia Minitel, uma pré-internet da França. Tudo isso regado de muito idealismo e romantismo na minha cabeça puritana.

Decidi após o Fórum Cívico Europeu ir para Ardèche. Inicialmente convidaram para fazer a “transumance” que é um transporte a pé de um rebanho de ovelhas até um local mais quente para passarem o inverno e gestarem os cordeirinhos. Foi cinco dias de comitiva, algo inexplicável de dizer. Andando a pé, em média de 20 km por dia.

Essa experiência magnífica me animou ir para Ardèche, mas não foi de todo uma decisão muito boa. Um núcleo de 4 pessoas e um bebê era muito intenso por um lado e de pouca troca do outro. Todavia, cuidar de ovelhas e ter uma cadela pastora foi uma experiência a parte.

Durante esses pastoreios eu comecei a ler livros enquanto as ovelhas paravam para ruminar. Algumas vezes soprava o vento Mistral, forte, frio, constante e tive a experiência de sentir soprar uns três dias e noites com esse vento sem trégua. Um vento de enlouquecer. Essas condições rústicas eram completadas com o tipo de abrigo. Era uma fazenda antiga que serviu para produção de amêndoas e bicho da seda. Nosso abrigo era uma casa de pedra sem calefação. Colhíamos os galhos secos nos bosques para aquecer a lareira. O fogão era a carvão nos servindo para fazer as refeições e em seu forno colocávamos dois tijolos de cerâmica vitrificada, isso servia para aquecer nossas camas. As roupas de campo eram tão esfregadas nas plantas de tomilho selvagem que até hoje me recordo do aroma que saia do casaco quando o punha no cabide dessa cabana.

Após alguns meses o primeiro cordeiro nasceu e foi contratado um caminhão para transportar as demais matrizes e dessem suas crias na fazenda nas montanhas. Um ciclo anual. Esses seis meses terminaram. De fato, o isolamento e minha imaturidade pesaram. Houve um desentendimento banal e eu acabei indo para outra fazenda.

Fui então para a fazenda que fazia produção de legumes orgânicos para as feiras livres de três cidades, para a comunidade e para exportação. Eu já tinha conhecido esse local e achei o mais caloroso. Ao meu gosto teria ficado lá de cara, mas me meti a ir para uma fazenda mais rigorosa, mais fria e que se mostrou mais difícil de estabelecer relação de afeto.

Em Saint Martin de Crau, a fazenda Longo Mai do Mas de Granier foi um momento de recomeço, de novas amizades e de compreensão melhor da coletividade, forma de organização, de decisão, resolução de conflitos e amizade com os camponeses e militantes étnicos Provençais e outros. Por estar perto de Aix em Provence, Arles, Marseille e outras cidades importantes havia a proximidade com magrebins, povo do marrocos e de outros do lado de lá do mediterrâneo.

Por lá eu ajudei a cultivar muito legumes, também cuidava das abelhas, colhia azeitonas e embalava azeite, atuava na fábrica de conservas e fazia a feira uma vez por semana e vez ou outra ajudávamos camponeses amigos em seus mutirões. De fato esse tempo foi o que mais trabalhei, que mais me diverti e aprendi.

Todas essas experiências de trabalho, organização, capacitação técnica e de convívio foi a experiência particular que tive. Com conflitos para entender o que é um país rico, nosso conceitos de riqueza, de bem estar, de autossuficiência, de politização, de apoio a causas humanitárias e políticas.

Isso ao lado de um sem número de experiências com pessoas que vinha de outras partes inquietas com aquela experiência, um tanto anarquista, autogestionada e que completava 20 anos na época.

Teria muitas coisas para preencher estas histórias. Nesse breve texto omiti muitas das coisas que me chamaram atenção e que me fizeram olhar o compromisso coletivo com outros olhos, menos romântico por um lado e mais realista. Vivi uma utopia em marcha. Com seus defeitos, com suas virtudes e com a visão clara de que aquilo estava acima de qualquer coisa socialista ou comunitária que eu tenha imaginado antes e visto depois em minha vida.

O fato de em Longo Mai eles romperem com a vida de família nuclear e de liberar as mulheres de parte do cotidiano de cuidar dos filhos foi imprescindível para entender como a gestação, o amor protetor pesa sobre a vida política e intelectual das mulheres.

Havia um rodizio para que adultos e não necessariamente os pais cuidassem da alimentação, levar e trazer da escola, assim, pais tinham uma presença com os filhos no início do dia e mais tarde. Isso iria acontecer até os 7 anos de idade. Depois essas crianças iriam ficar numa casa coletiva coordenada por um adulto e quando entrassem na puberdade iriam para outra casa autogestionada na comunidade.

Os jovens que decidissem continuar estudos iam para cidades que ofereciam esses estudos. Mas todos que continuavam na comunidade permaneciam nesse sistema até a idade posterior que equivaleria ao ensino médio do Brasil.

De algum modo essas medidas concretas assustam as pessoas que são de fora. Apartar pais e filhos é muito radical para a maioria de nós. Nada disso quer dizer muita coisa se a pessoa tem em sua idealização da vida ter uma família. Nessas vidas comunitárias, mesmo as que não desejam romper com essa condição, os filhos acabam sendo cuidados por todos.

A relação em que comunitários vivem, dialogam, decidem passos juntos e realizam conduzem a outras questões é uma experiência desafiadora, mas também libertadora. De algum modo as pessoas são liberadas de fazer compras semanais para suas casas, o cotidiano de administração de uma vida familiar deixa de ser atomizado e isso libera tempo para si e para as atividades intelectuais, políticas e de cuidados familiares.

A mulher sob essas condições não paralisa sua vida cultural, profissional, intelectual e política por ser mãe como ocorre em geral. Essa utopia não passava sem seus problemas e por algumas vezes ocorriam reuniões para resolver conflitos e discordâncias na conduta desses cuidados de filhos coletivos. Em algumas situações o apego exagerado ao próprio filho ou aos pais era tanto criticado, quanto era um assunto a ser tratado de um modo que nunca imaginei para minha formação na moral da família que conheço.

Todo esse contexto mexia com meus valores e minha compreensão de comunitarismo. Era ousado, criticado e na minha visão de brasileiro os via com certo frio afetivo. Demorou algum tempo para perceber que no caso de alguns casais isso não se apresentava como um problema, mas uma liberação.

A comparar com Summerhill, escola de internato e democrática da Inglaterra, onde se estabelecia o afastamento dos pais na idade de 7 anos para que eles não fossem vitimados pelo complexo de Édipo que alimentavam os pais. Essa perspectiva era mais forte para os jovens hippies dos anos 1960 e por socialistas mais radicais.

O fato é que quem decide viver essa utopia, questionando a vida patrimonialista, contra a moral da família e contra a total responsabilidade sobre os destinos de seus filhos, se encaixa no libertarismo, socialismo, comunitarismo e no rompimento da sociedade do controle. Mas nem todos tem a coragem de enfrentar essas coisas.

Eram nesse sentido anarquistas, revolucionários e rompiam com o falso moralismo. Isso não os livrava de rompimentos, troca de pares e da tristeza que é perder a companhia. De fato, eles não viviam o amor livre no sentido hedonista e idealistas de alguns anarquistas e socialistas. E obviamente não vivi tanto tempo para entender todas as insatisfações nem as vantagens disso. Muitos integrantes permaneceram e muitos, após anos de convívio partiram.

Alguns filhos partiram, outros após a formação decidiram permanecer e continuar essa conduta e desafio. Esse confronto da vida comum e conservadora, até entre os socialistas fora dessas utopias vivas permanece como um grande contra ponto e conflito.

Ser revolucionário ou libertário em um nível apenas do amor livre, do tipo ninguém é de ninguém, hedonista e permanecendo narcisista, nunca me fez muito acreditar em discursos comunistas e coletivistas.

Sigo ainda com Longo Mai que é fundamental romper opressão da maternidade obrigatória da mulher, num campo que assusta muitas delas, também que é esse apego romântico com os próprios filhos e amor que gera sentimentos individualistas e narcisistas nos filhos. As mães podem ser maternais, podem desejar ter quantos filhos lhes interesse e não almejar uma família planejada pela circunstância econômica de 1 ou 2 filhos no máximo.

Parece-me uma violência a decisão das mulheres esperarem a maternidade até a última data orgânica, somente após de todas as conquistas econômicas e profissionais para um dia poder ter filhos totalmente protegidas, isso não parece algo humano. O problema não é só ter poucos filhos e planejados, mas tê-los somente quando já se resolveu a segurança econômica que é prova do controle da vida dessas pessoas e é uma imposição sobre seus corpos e sentires, não uma escolha dos casais.

No ambiente dos trabalhos e atividades adultas não havia a obrigação de permanecer especialista de nenhuma função. A pessoa podia trabalhar 5 ou mais anos como pastor de ovelhas e depois trabalhar como marceneiro, produtor de legumes, jornalista, músico ou qualquer função. Era estimulado apenas não pular de função a cada inverno.

Não havia uma imposição capitalista que te circunscrevesse ser uma única coisa. Além disso tudo, ninguém trabalhava exclusivamente num setor todos os dias da semana. Assim, além de poder mudar e aprender novas funções, o trabalho escolhido não era levado à exaustão e a uma especialização prepotente.

Claro que mesmo com essa liberdade, as pessoas se especializam em obras, eletricidade, agricultura por uma identidade pessoal e isso era pensado e permitido, sempre com essa situação em que se podia alterar esse curso.

As condições de minha partida em 1993 foram muito complexas para mim, mas havia muitos refugiados de outros países e eu estava mais tempo do que permitido pela legislação e eu não era uma prioridade no momento. Do mesmo modo, ainda que tão favorável àquela experiência, minha compreensão e conduta era escapista e de algum modo isso me fragilizava e tive quer ir embora por uma decisão coletiva que me marcou para toda a vida.

Na época em que vivi em Longo Mai a média de idade era de 30 anos, em 1998, após 5 anos de minha partida eu retornei e passei duas semanas em Mas de Granier em Saint Martin de Crau e as inquietações da aposentadoria se colocavam mais evidentes. O espirito jovem e as ações continuavam, mas as contingências mudaram. As primeiras levas de jovens universitários e graduados já configuravam outros conflitos e necessidades para Longo Mai. Era notável um refluxo  e de pouca renovação próprios de todos os movimentos desse tipo na década de ouro da Social democracia na Europa e sua política neoliberal.

Longo Mai completou 40 anos em 2013. Vivendo essa utopia e tornar o impossível algo possível. Desafiando a vida no sentido que eles elaboraram para si próprios, sem sugerir uma religião, um modelo para os outros e com uma rede de relações de apoio político na França e no exterior que vai além do que eu jamais imaginei e jamais encontrei tão desafiadoramente.

Essas diversidades e outras experiências de formação coletiva existem e se confrontam com o machismo, sexismo, patrimonialismo e atomização do indivíduo e da família. São desafios práticos, ousados e que mexem com valores mais arraigados em nós do que o fetiche de alguns comunistas que não rompem com a culpa cristã.

O respeito que tenho por essas experiências e a compreensão da ousadia ofensiva para os que se assustam com essas ideias estiveram sempre sob minha forma de ver as relações e as ações coletivas. Não idealizo essas alternativas, não mitifico e sei que não são idílicas e ausentes de defeitos.

Optei viver no Brasil, agindo onde é possível o mutualismo e a compreensão dos anseios coletivos. De tal modo que não quero que ninguém copie ou reproduza Longo Mai, tanto menos que isso seja um modelo para a sociedade.

O fato é que tem pessoas que se desafiam mais e não se escondem sob a máscara de uma hipotética e sectária união coletiva, onde vivem pessoas boazinhas e afáveis, mais fetichizadas do que praticável. Não há como aceitar a sociedade injusta e uma das formas de ir contra a opressão é se unir e tentar romper com comportamentos cristalizados que começam no nível doméstico das opressões. Talvez isso que sempre me manteve em apoio crítico ao Movimento dos Sem Terras, uma ousadia combativa na luta pela terra e na conquista da dignidade, mas um pensamento conservador sobre tudo mais que nos oprime. Cada um com suas lutas possíveis, isso que importa!

A cada dia a revolução que busco é a humana e não a política econômica. Devemos permitir que pessoas mais ousadas, mais altruístas e utópicas vivam suas poesias. Desejo eu viver ou apoiar essas experiências. Realmente a frase de uma tirinha de El Roto, cartunista espanhol, apresenta a seguinte ideia: “Se não sabemos para onde vamos porque todos seguem para o mesmo caminho?”

Meu espírito de engajamento é o mesmo de quando era jovem, creio que esses desafios vão além da produção intelectual de direitos humanos. É em nossa vida que as coisas devem mudar e nesse sentido que todas as pessoas que realmente pensam mudar alguma coisa da sociedade, deve pensar como mudam o seu próprio nível de compreensão e práticas da vida antiautoritária, antinacionalista e antipatrimonialista.


Enquanto isso, devemos favorecer todo esforço que se coloca contra o autoritarismo, dos mais miúdos de nossas casas aos da superestrutura. Nada de fatalismo. Utopias miúdas de apoiar pessoas são melhores do que o pessimismo e desistência de lutar para uma condição humana digna e profícua. Isso nunca termina, sempre devemos desejar o melhor do melhor para que a dignidade global seja respeitada.

domingo, 2 de março de 2014

Preparado para tudo!

Nós nos preparamos para tudo, menos para o que não estamos preparados.

Por todo o horror que a educação formal provoca e auto comprova ser uma bosta para as pessoas mais atentas, ainda assim, as pessoas apostam nessa preparação.

Os pais são muito aterrorizados com o futuro e por isso, tornam o presente dos seus filhos um inferno.

Quando vejo amigas e amigos inquietos com suas filhos e filhos de 27 anos ou mais, me pergunto para que tanto preparo se nessa idade ainda se sentem no direito de serem co-tutores da vida desses eternos jovens.

Tanta preocupação e co-dependência da dependência.

É muito difícil que deixem esse jovens se tornarem donos de seus narizes!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Adestramento de filhos autocráticos

O texto abaixo, retirado do Portal IG Delas, trata de como deve deixar de criar pequenos tiranos. Não alerta por outro lado que os pais sentem-se muito culpados pela educação que tiveram e tratam seus filhos como cãozinhos de luxo que aprendem a falar.  

Confere o fato que na educação democrática e libertária que o principal é a criança ter liberdade, mas também uma liberdade pelo amor compulsivo e possessivo dos pais. Depois, os pais criam seus tiranos e não conseguem se libertar de adolescentes indolentes, hedonistas e auto centrados.

A culpa burguesa dos pais na educação dos filhos e na tentativa de pasteurizar-los de todas as dificuldades faz com que um dia eles temam seus filhos permanecerem na família, não com filhos, mas como sub-esposas ou sub-esposos. Alguns são expulsos, outros permanecem e valores burgueses implantados permanecem criando mutuas tiranias.

Embora todas a situações abaixo indicadas já existissem nos primórdios da educação anarquista. Temos agora que ler essa indumentária adestradora para pais infantilizados pelo sucesso econômico.


9 passos para impor limites

Terapeuta, autora, mãe e avó, Diane Levy separa as atitudes que valem a pena das que só gastam energia e compartilha sua fórmula para ter filhos disciplinados

Camila de Lira, iG São Paulo

Getty
Interpretar a atitude da criança é chave para impor limites
Na incansável luta para impor limites, muitas vezes os pais desperdiçam mais energia do que deviam. Para evitar isso, a psicóloga neozelandesa Diane Levy, autora do livro “É Claro que Eu Amo Você... Agora Vá para o Seu Quarto!” (Editora Fundamento) e especializada no aconselhamento de pais, separa aquilo que apenas cansa daquilo que dá certo na hora de educar os filhos.

“Há um bom punhado de coisas que fazemos ao tentar educar as crianças e que simplesmente não ajudam”, ela comenta, em depoimento ao iG Delas . “Quando você evita explicar muito, avisar muito, adular, subornar, ameaçar e punir, você poupa tempo e energia e mantém a sua dignidade como pai ou mãe. Quando você pede, diz e deixa a distância emocional fazer o trabalho, suas crianças rapidamente aprenderão que quando você pede que eles façam algo – ou que parem de fazer algo – eles não tem alternativa a não ser fazê-lo”.

Segundo Diane, reconhecer e evitar estratégias exaustivas e inúteis torna os pais mais convincentes em suas ordens ou instruções. Ela explicou, a pedido do iG Delas , as atitudes menos efetivas na hora de impor limites – e, do outro lado, as que mais garantem êxito. Leia abaixo os conselhos.

Divulgação
Diane Levy: "Quando você evita explicar muito, avisar muito, adular, subornar, ameaçar e punir, você poupa tempo e energia e mantém a sua dignidade como pai ou mãe"
1. Não se explique demais
“Quando pedimos para uma criança fazer algo ou para parar de fazê-lo, nosso hábito é de seguir com uma grande explicação de porquê tal ação é necessária. Se nossos filhos não respondem à primeira explicação, pensamos que ela não teve apelo para eles (ou que eles apenas não a entenderam) e, então, gastamos tempo e energia em tentar convencê-los novamente”, explica Diane.
Se a criança não entendeu porque está sendo solicitada a fazer ou deixar de fazer algo, dificilmente ela será convencida por mais e mais explicações. O que ela precisa entender é que tudo o que você pede é para o bem dela – e assim será até ela crescer.


2. Não dê mais de um aviso
“Ao dar várias chances e avisos, nós mostramos às crianças que não acreditamos naquilo que dizemos e que não esperamos uma ação efetiva até darmos muitos e muitos avisos”, diz Diane. “A maioria das crianças entende que enquanto os pais estão nesse ‘modo de aviso’, nada irá acontecer com elas”. Portanto, seja firme.


3. Não adule
Você se pega usando frases como “se você arrumar seu quarto, ganha um chocolate” ou “faça toda a lição e te dou um brinquedo” com frequência? Pense melhor. “Quando os adultos se esforçam adulando e coagindo as crianças para que elas façam o que devem, isso significa que só os pais estão fazendo o trabalho duro, enquanto os filhos esperam uma recompensa convincente o bastante para encorajá-los a começar uma tarefa que não é mais que obrigação deles”.

4. Não suborne
As crianças devem ser acostumada a agir dentro de um senso de obrigação. “Se o único jeito de conseguirmos fazer com que as crianças façam o que mandamos é oferecendo algo, nos deixamos vulneráveis a ter que pensar em maiores e melhores ‘mimos’ com o tempo. Além disso, essa ação dá às nossas crianças a permissão de perguntar ‘o que você me dará se eu fizer isso?’ – e esse não é um bom hábito para se encorajar”, resume Diane.


5. Não ameace
Ameaças funcionam com "se você não fizer isso.. então eu irei…”. Diane explica que, assim, você abre um contrato e isso dá margem para a criança negar a oferta. "Aprendi essa lição muito cedo com o meu primeiro filho. Quando dizia 'Robert, se você não guardar seus brinquedos agora, não iremos ao parque essa tarde', ele apenas respondia 'tudo bem'. E eu ficava sem saber para onde ir", relembra.
"Outro problema em ameaçar é que, se você fala que irá fazer algo, é obrigado a cumprir isso. A maioria das ameaças que tem como objetivo persuadir a criança a fazer o que foi pedido nos pune mais do que a elas", explica Diane. E exemplifica: “Os pais ameaçam: 'Se você não fizer isso imediatamente, não verá mais TV pelos próximos três dias'. É mais provável que a vida de quem fique mais difícil com essa ameaça?".


6. Não puna
Segundo Diane, algumas crianças aprendem através das punições, mas muitas se tornam ressentidas, irritadas e se sentem tratadas de forma desleal. “Também, se usarmos a punição, nossos filhos podem simplesmente aprender como aguentá-las – e voltarem a fazer aquilo que tentamos evitar”, afirma.
Mas se os pais deixarem de explicar, avisar, adular, subornar, ameaçar e punir, o que eles podem fazer? Diane sugere uma estratégia simples, com três passos: peça, diga e aja.


7. Peça uma vez só
Diane recomenda que os pais simplesmente peçam o que deve ser feito e observem a resposta do filho. Isso dará a eles uma informação importante. “Quando as crianças se negam a fazer o que foi pedido, eles usualmente expressam uma das três formas a seguir: tristeza, irritação ou distanciamento”, ensina ela.
A tristeza é simbolizada por chateação. “Eles parecem ofendidos e dizem ‘por que eu?’”, descreve. A irritação se manifesta em confronto: “eles discutem e acusam você de ser injusto com eles”. O distanciamento é caracterizado por indiferença. “Eles ignoravam você, olham para outro lado e continuam o que estão fazendo”, completa Diane. “Tudo isso significa que a criança não fará aquilo que pediu”. Mas como reagir?


8. Diga de maneira enérgica
“Vá até o seu filho – isso pode ser um pouco difícil para os pais, pois significa que eles terão que parar aquilo que estavam fazendo, levantar e ficar do lado da criança”, orienta Diane. Segundo ela, a presença próxima vale a pena. “Uma vez que aparecemos perto da criança, ela sabe que isso significa que ela terá que fazer o que foi pedido”.
A autora recomenda que os pais falem baixo – isso mostra que eles estão no controle tanto da própria voz quanto da criança – e que olhem seu filho nos olhos.

9. Aja
Se seu filho não respondeu a nenhuma das ações anteriores, você precisa fazer algo. “A coisa mais efetiva que você pode fazer é usar a ‘distância emocional’ até que ele esteja pronto para fazer o que foi pedido”, aconselha Diane. “Pegue-o no colo ou pela mão e o leve para o quarto. Diga firmemente ‘você é bem-vindo para se juntar à família assim que estiver pronto para fazer o que pedi’, e deixe-o sozinho”, completa. Lembre-se: o seu filho tem o poder de se reunir à família ao fazer o que lhe foi pedido.

Quando as crianças são maiores – e tirá-las do lugar é mais difícil – Diane recomenda que os pais apenas determinem consigo mesmos: “eu não farei nada até que ele esteja pronto para fazer aquilo que eu pedi”. E continuem com o que estiverem fazendo, normalmente. “Quando a criança aparecer com um pedido, você pode calmamente lembrá-la de que ficaria feliz em atendê-la, assim que ela fizer aquilo que foi estabelecido (e ignorado) anteriormente”, diz a autora. “Ele pode fazer duas ou três tentativas para chamar sua atenção, mas vai acabar entendendo que precisa fazer o que foi solicitado pelos pais”, finaliza.