O conteúdo aqui exposto é desapegado de esmero acadêmico e sem filiação a movimentos.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Libertário e a escravidão: a falsa antítese.
Tenho lido bastante sobre situacionismo, anarquismo, pós-anarquismo e tantas outras literaturas que se negam ser qualquer coisa que se aporte a alguma filiação ideológica.
Os textos quanto mais radicais negam ou dão pouca a nenhuma atenção ao mutualismo.
O medo de se identificar com os "ismos" ligados aos libertários, na verdade não nos liberta.
O simples fato de nos posicionar contra o autoritarismo já é em si uma prisão.
Não adianta desmerecer a insuficiência filosófica, política, teórica e propositiva de nenhuma corrente libertária, se intitulando mais libertário. Isso a negação, ainda que robusta, é uma prisão.
Em seu sentido poético, ser libertário é concebível, inspirador e motivador, mas na prática o libertário é apenas um tipo de prisão não conservadora.
Quem é libertário, já está filiado, só que sem fichas de militante.
Houve tanta pestilência em se assumir ideologicamente que há abusos. Ser a-ideológico não é nobre nem prudente, inclusive nos coloca até mais perto dos fascistas do que imaginamos.
Não somos livres diante da tortura, dos achaques, tiranias, maus tratos aos que são postos em posição subjugo pela classe dominante e sua guarda civil e polícia contra as pessoas por serem pobres, por genero que se identificam, por tipo de formação corporal, por etnia e hábitos culturais e religiosos ...
Um libertário não é livre, nem o anarquista egoista é livre, senão, sinonimo de libertário seria a pessoa hedonista.
O que mais me intriga nesses sites e blogs é o abandono completo do mutualismo.
Talvez porque o mutualismo tenha um cunho amoroso.
Como se pode supor, amor é um construção cultural ou uma invenção para libertários mais libertos.
Pode-se negar a existência do amor, mas não a do afeto.
Somos afetados pelas pessoas e por algumas dessas somos capazes de fazer coisas esquisitas, loucuras e idiotices. Com radicalismo emocional que nos seria melhora tratar como crianças do que adultos responsáveis.
No que me afetou sempre no anarquismo é o mutualismo. Mesmo com esse caráter cristão da "partilha do pão" não vejo qualquer sentido em viver sem o desenvolvimento e preocupação com o mutualismo.
Essas mega mudanças estruturais preconizando o fim do Estado e das hierarquias me passa mais ser uma inspiração revolucionaria política do que humana.
A revolução política é urgente, tanto mais é a humana. Devem ocorrer concomitantes, mas nossa condição humana tosca sempre deixa o melhor para depois.
Não posso crer em quem nega o afeto.
Até nego a palavra solidariedade por essa sim ter o caráter de falso altruismo.
O mutualismo nos sentidos que pesquiso nas relações humanas não está e reparar aos que não tem nada, nem de supor uma justiça aos que foram roubados, mas pelo prazer do afeto que isso carrega.
Não é para mim o mutualismo tal como o cooperativismo que me vem sempre um sentido prático de unir forças para alguma finalidade comum.
Solidariedade, cooperativimo e gentileza estão muito abaixo do sentido do mutualismo.
O mutualismo está antagonicamente oposto à caridade.
E para mim, a genese do mutualismo está em ser e querer ser afetado pela nossa humanidade e não meramente para salvar os que são depauperados de sua dignidade.
Devemos lutar contra o autoritarismo, contra o Estado, mas ter esse espírito de que somos melhores do que nossos algozes é uma grande bobagem messiânica.
Escondemos um sentido cristão, messiânico de iluminação marxista contra a desigualdade, enfim, sermos responsáveis demasiado pelos que não podem ou acreditamos não entender sua condição de expropriação.
O que parece tão maduro, me passa a imagem de distribuição de hóstias quando alguém chuta a porta e a arromba. Há tanto de cristão nisso que vejo uma escravidão dissimulada de libertarismo.
Tentando me afastar da retórica dissimulada. Não me importa nenhum militante infeliz sob a capa de libertário, tal como um vegetariano ingênuo, que é melhor que ninguém por suas objeções gastronomicas.
O ser puro é uma bosta!
domingo, 19 de janeiro de 2014
Por que os militares de hoje não admitem os crimes cometidos pela ditadura
Não devemos deixar uma linha sequer dos crimes realizados pelos militares e civis durante a Ditadura Militar.
Embora os mortos tenham sido comparativamente menores aos dos países vizinhos, a destruição das vidas de quem sobreviveu é um holocausto moral que deve ser devidamente julgado.
domingo, 19 de janeiro de 2014
É do jornalista Luiz Cláudio Cunha o extenso, hiperbólico e contundente artigo publicado na última edição da revista Brasileiros, no qual mostra por que os militares brasileiros de hoje se recusam a fazer o mea culpa pelos crimes da ditadura.
São 20 páginas que, na íntegra, somam mais de 12 mil palavras. Nelas, Cunha cobra dos militares o mesmo gesto feito pelo jornal O Globo em setembro do ano passado – a histórica admissão do erro do veículo-âncora das Organizações Globo para o apoio dado ao golpe militar de 1964 e aos 21 anos subsequentes que fizeram o País imergir no mais longo período autoritário de sua história.
O momento é propício para cobranças e gestos do gênero. Afinal, 2014 não será apenas o ano da Copa do Mundo no Brasil: em 31 de março (ou 1o de abril, dependendo do intérprete daqueles dias confusos), completam-se 50 anos do golpe; abril também marcará os 30 anos da importantíssima e derrotada campanha das Diretas Já; e, em novembro, se chegará aos 25 anos da primeira eleição direta para a Presidência da República depois das décadas de ditadura.
Acrescente-se à galeria de efemérides a conclusão das atividades da Comissão Nacional da Verdade, que deve publicar seu relatório final no segundo semestre.
Tudo somado, pode-se ter um ano-marco dos processos de verdade, memória e justiça, e da consolidação dos direitos humanos no Brasil.
Não é pouca coisa, e o artigo de Cunha oferece uma relevante contribuição para entender sérios entraves nesse terreno. Seu título é direto na contraposição da inércia dos militares ao gesto do Globo: “Por que os generais não imitam a Rede Globo”.
Cunha é o experiente repórter que chegou a ser consultor da Comissão Nacional da Verdade, e dali foi afastado por criticar alguns dos seus integrantes e a falta de empenho do ministro da Defesa e dos comandantes do Exército e da Marinha no esclarecimento de crimes da ditadura.
Embora crítico das Organizações Globo, o exemplo do mea culpa a que recorre é justificável: para ele, a Globo foi o principal sustentáculo civil do regime autoritário. “Não cabe discutir se o gesto da Globo envolve puro marketing, medo velado das manifestações, mero oportunismo político ou um genuíno arrependimento”, afirma o artigo. “O que importa é o inédito, amadurecido, eloquente reconhecimento de um memorável, irremediável erro pelo mais poderoso grupo de comunicação do País”.
O jornal O Globo – lembra Cunha – fez dura oposição ao governo de João Goulart e “já em 1965, no ano seguinte à sua deposição, inaugurou a rede de televisão que se forjou e se consolidou à sombra do regime militar que a Rede Globo apoiou com o fervor de fã de auditório”. (Ele não cita, mas convém lembrar que a esmagadora maioria dos grandes jornais, incluindo aqueles que mais tarde seriam vistos como opositores do regime, Estadão e Jornal do Brasil, fez o mesmo em 1964: apoiou a derruba de Jango.)
Em setembro de 2013, O Globo publicou duas páginas e um editorial em que reconheceu, com solenidade e sem disfarces, o equívoco do apoio ao golpe militar e à ditadura subsequente. Não foi a única confissão. O jornal também admitiu que a tíbia cobertura da campanha das Diretas Já resultou de um erro de avaliação político-jornalístico.
Os militares fingem que nada fizeram
Por que os militares não fazem o mesmo? Porque “fingem que nada fizeram ou nada têm a se desculpar”, responde Luiz Cláudio Cunha em seu artigo, contabilizando o balanço de 21 anos de uma ditatura que atuou “sem o povo, apesar do povo, contra o povo”:
- 500 mil cidadãos investigados pelos órgãos de segurança;
- 200 mil detidos por suspeita de subversão;
- 11 mil acusados nos inquéritos das Auditorias Militares, cinco mil deles condenados;
- Dez mil torturados nos porões do DOI-Codi;
- Dez mil brasileiros exilados;
- 4.862 mandatos cassados, com suspensão de direitos políticos, de presidentes a vereadores;
- 1.202 sindicatos sob intervenção;
- Três ministros do Supremo afastados;
- Congresso Nacional fechado três vezes;
- Censura prévia;
- 400 mortos pela repressão, 144 dos quais desaparecidos até hoje.
“A mentalidade dominante dos generais brasileiros (…) rechaça qualquer avaliação do passado recente, escorregando pelo raciocínio simplório e fácil do ‘revanchismo’”, afirma Cunha.
Pressões como a da revista Brasileiros, da Comissão Nacional da Verdade ou do projeto Arquivos da Ditadura, do jornalista Elio Gaspari, ajudam a iluminar as sombras existentes sobre o papel dos militares na violação de direitos humanos naquele período.
São alvos, por exemplo, a localização dos restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia, a violência contra povos indígenas, os assassinatos dos jornalistas Vladimir Herzog e do ex-deputado Rubens Paiva, as suspeitas sobre as mortes dos presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek e o desaparecimento de milhares de presos políticos enquanto estavam nas mãos do Estado.
E a tortura. A tortura foi o instrumento extremo de coerção e extermínio, último recurso da repressão política que o Ato Institucional n° 5 libertou das amarras da legalidade.
Para usar uma expressão celebrizada por Elio Gaspari, foi quando a ditadura envergonhada transformou-se em ditadura escancarada; quando a primeira foi substituída por um regime anárquico nos quartéis e violento nas prisões: foram os Anos de Chumbo, que conviviam com o Milagre Brasileiro. Ambos reais, coexistiram negando-se. (Para muitos, houve mais chumbo do que milagre, uma vez que a tortura e a coerção dominaram o período.)
Em seu artigo na revista Brasileiros, Luiz Cláudio Cunha lembra os exemplos de generais argentinos e uruguaios, que assumiram publicamente as atrocidades cometidas. Igualmente as comissões daqueles países, que ajudaram a Argentina e o Uruguai a não temer abrir cicatrizes fechadas do passado.
(O artigo não cita, mas é possível lembrar outros exemplos notáveis de reavaliação do legado de violência do passado, como a África do Sul do apartheid, o Peru de Fujimori e o Chile de Pinochet.)
O silêncio que diz muito
O texto de Luiz Cláudio Cunha põe o dedo em riste para os três comandantes das Forças Armadas: o general Enzo Martins Peri, o almirante Júlio Soares de Moura Neto e o brigadeiro Juniti Salto. Sem qualquer ligação com as sombras deixadas pelos colegas de farda da ditadura, os três deixam claro a discordância com a ideia de exumação do passado.
Em 18 de novembro de 2011, ao sancionar a lei que criava a Comissão Nacional da Verdade em cerimônia no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff (ex-guerrilheira) era aplaudida por toda a plateia ao sublinhar aquele “dia histórico”, segundo suas palavras. Aplauso seguido por todos os presentes, exceto por quatro pessoas: justamente os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e do chefe do Estado-Maior Conjunto.
Foi uma cena curiosa: todos eles contidos, mãos sobre o colo, imóveis. No código consentido dos comandantes militares, a ausência do aplauso foi uma das maneiras de dizer pouco e insinuar muito.
A resistência da banda fardada
O artigo de Cunha cita outras evidências que refutam prognósticos otimistas quanto a possível mea culpa dos militares:
- Mentiras expostas em livros didáticos usados por 14 mil alunos matriculados em escolas militares do País;
- O excesso de escolas que homenageiam presidentes e comandantes militares;
- O “sumiço” de documentos como explicação de oficiais para defender a impossibilidade de elucidação de casos de tortura e desaparecimento da época da ditadura;
- A dificuldade que militares ainda demonstram para aceitar a prevalência da autoridade civil (como o espantoso incidente envolvendo o ministro da Defesa, Celso Amorim, e seus assessores civis, barrados na entrada do CIE, o Centro de Informações do Exército, sob o argumento de que ali não entram civis, apenas militares; só o ministro, calado, pôde entrar).
Diante dessa resistência, o mais provável, diz ele, é que “incapazes de reconhecerem suas culpas, os militares brasileiros comprometidos com os abusos da ditadura sejam compelidos a prestar contas à Justiça”, segundo afirma Luiz Cláudio Cunha. Ele acredita na revisão da Lei da Anistia.
Jurisprudência para punir torturadores
Como lembrou, em entrevista publicada no iG, o cientista político Mauricio Santoro, assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional no Brasil, há jurisprudência internacional para punir agentes do Estado envolvidos em atos de violação dos direitos humanos. Depois de estudar os casos de comissões da verdade em cerca de 40 países, Santoro constatou que, mesmo em locais onde as leis de anistia não foram revistas, condenações têm ocorrido.
Há também o conceito de justiça de transição, que no Conselho de Segurança da ONU abarca mecanismos e estratégias (judiciais ou não) para avaliar o legado de violência do passado, atribuir fortalecer a democracia e garantir que não se repitam as atrocidades. responsabilidades, tornar eficaz o direito à memória e à verdade.
Para resumir claramente: oficinais-generais que ordenaram, estimularam e defenderam a tortura levaram as Forças Armadas brasileiras ao maior erro de sua história. Os crimes da época envenenaram a conduta dos encarregados da segurança pública, desvirtuaram a atividade dos militares da época e macularam, até hoje, a sua imagem.
Como pergunta Luiz Cláudio Cunha, por que os generais de hoje não admitem os erros dos seus colegas de farda do passado?
Embora os mortos tenham sido comparativamente menores aos dos países vizinhos, a destruição das vidas de quem sobreviveu é um holocausto moral que deve ser devidamente julgado.
Leiam o artigo seguinte:
Por que os militares de hoje não admitem os crimes cometidos pela ditadura
São 20 páginas que, na íntegra, somam mais de 12 mil palavras. Nelas, Cunha cobra dos militares o mesmo gesto feito pelo jornal O Globo em setembro do ano passado – a histórica admissão do erro do veículo-âncora das Organizações Globo para o apoio dado ao golpe militar de 1964 e aos 21 anos subsequentes que fizeram o País imergir no mais longo período autoritário de sua história.
O momento é propício para cobranças e gestos do gênero. Afinal, 2014 não será apenas o ano da Copa do Mundo no Brasil: em 31 de março (ou 1o de abril, dependendo do intérprete daqueles dias confusos), completam-se 50 anos do golpe; abril também marcará os 30 anos da importantíssima e derrotada campanha das Diretas Já; e, em novembro, se chegará aos 25 anos da primeira eleição direta para a Presidência da República depois das décadas de ditadura.
Acrescente-se à galeria de efemérides a conclusão das atividades da Comissão Nacional da Verdade, que deve publicar seu relatório final no segundo semestre.
Tudo somado, pode-se ter um ano-marco dos processos de verdade, memória e justiça, e da consolidação dos direitos humanos no Brasil.
Não é pouca coisa, e o artigo de Cunha oferece uma relevante contribuição para entender sérios entraves nesse terreno. Seu título é direto na contraposição da inércia dos militares ao gesto do Globo: “Por que os generais não imitam a Rede Globo”.
Cunha é o experiente repórter que chegou a ser consultor da Comissão Nacional da Verdade, e dali foi afastado por criticar alguns dos seus integrantes e a falta de empenho do ministro da Defesa e dos comandantes do Exército e da Marinha no esclarecimento de crimes da ditadura.
Embora crítico das Organizações Globo, o exemplo do mea culpa a que recorre é justificável: para ele, a Globo foi o principal sustentáculo civil do regime autoritário. “Não cabe discutir se o gesto da Globo envolve puro marketing, medo velado das manifestações, mero oportunismo político ou um genuíno arrependimento”, afirma o artigo. “O que importa é o inédito, amadurecido, eloquente reconhecimento de um memorável, irremediável erro pelo mais poderoso grupo de comunicação do País”.
O jornal O Globo – lembra Cunha – fez dura oposição ao governo de João Goulart e “já em 1965, no ano seguinte à sua deposição, inaugurou a rede de televisão que se forjou e se consolidou à sombra do regime militar que a Rede Globo apoiou com o fervor de fã de auditório”. (Ele não cita, mas convém lembrar que a esmagadora maioria dos grandes jornais, incluindo aqueles que mais tarde seriam vistos como opositores do regime, Estadão e Jornal do Brasil, fez o mesmo em 1964: apoiou a derruba de Jango.)
Em setembro de 2013, O Globo publicou duas páginas e um editorial em que reconheceu, com solenidade e sem disfarces, o equívoco do apoio ao golpe militar e à ditadura subsequente. Não foi a única confissão. O jornal também admitiu que a tíbia cobertura da campanha das Diretas Já resultou de um erro de avaliação político-jornalístico.
Os militares fingem que nada fizeram
Por que os militares não fazem o mesmo? Porque “fingem que nada fizeram ou nada têm a se desculpar”, responde Luiz Cláudio Cunha em seu artigo, contabilizando o balanço de 21 anos de uma ditatura que atuou “sem o povo, apesar do povo, contra o povo”:
- 500 mil cidadãos investigados pelos órgãos de segurança;
- 200 mil detidos por suspeita de subversão;
- 11 mil acusados nos inquéritos das Auditorias Militares, cinco mil deles condenados;
- Dez mil torturados nos porões do DOI-Codi;
- Dez mil brasileiros exilados;
- 4.862 mandatos cassados, com suspensão de direitos políticos, de presidentes a vereadores;
- 1.202 sindicatos sob intervenção;
- Três ministros do Supremo afastados;
- Congresso Nacional fechado três vezes;
- Censura prévia;
- 400 mortos pela repressão, 144 dos quais desaparecidos até hoje.
“A mentalidade dominante dos generais brasileiros (…) rechaça qualquer avaliação do passado recente, escorregando pelo raciocínio simplório e fácil do ‘revanchismo’”, afirma Cunha.
Pressões como a da revista Brasileiros, da Comissão Nacional da Verdade ou do projeto Arquivos da Ditadura, do jornalista Elio Gaspari, ajudam a iluminar as sombras existentes sobre o papel dos militares na violação de direitos humanos naquele período.
São alvos, por exemplo, a localização dos restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia, a violência contra povos indígenas, os assassinatos dos jornalistas Vladimir Herzog e do ex-deputado Rubens Paiva, as suspeitas sobre as mortes dos presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek e o desaparecimento de milhares de presos políticos enquanto estavam nas mãos do Estado.
E a tortura. A tortura foi o instrumento extremo de coerção e extermínio, último recurso da repressão política que o Ato Institucional n° 5 libertou das amarras da legalidade.
Para usar uma expressão celebrizada por Elio Gaspari, foi quando a ditadura envergonhada transformou-se em ditadura escancarada; quando a primeira foi substituída por um regime anárquico nos quartéis e violento nas prisões: foram os Anos de Chumbo, que conviviam com o Milagre Brasileiro. Ambos reais, coexistiram negando-se. (Para muitos, houve mais chumbo do que milagre, uma vez que a tortura e a coerção dominaram o período.)
Em seu artigo na revista Brasileiros, Luiz Cláudio Cunha lembra os exemplos de generais argentinos e uruguaios, que assumiram publicamente as atrocidades cometidas. Igualmente as comissões daqueles países, que ajudaram a Argentina e o Uruguai a não temer abrir cicatrizes fechadas do passado.
(O artigo não cita, mas é possível lembrar outros exemplos notáveis de reavaliação do legado de violência do passado, como a África do Sul do apartheid, o Peru de Fujimori e o Chile de Pinochet.)
O silêncio que diz muito
O texto de Luiz Cláudio Cunha põe o dedo em riste para os três comandantes das Forças Armadas: o general Enzo Martins Peri, o almirante Júlio Soares de Moura Neto e o brigadeiro Juniti Salto. Sem qualquer ligação com as sombras deixadas pelos colegas de farda da ditadura, os três deixam claro a discordância com a ideia de exumação do passado.
Em 18 de novembro de 2011, ao sancionar a lei que criava a Comissão Nacional da Verdade em cerimônia no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff (ex-guerrilheira) era aplaudida por toda a plateia ao sublinhar aquele “dia histórico”, segundo suas palavras. Aplauso seguido por todos os presentes, exceto por quatro pessoas: justamente os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e do chefe do Estado-Maior Conjunto.
Foi uma cena curiosa: todos eles contidos, mãos sobre o colo, imóveis. No código consentido dos comandantes militares, a ausência do aplauso foi uma das maneiras de dizer pouco e insinuar muito.
A resistência da banda fardada
O artigo de Cunha cita outras evidências que refutam prognósticos otimistas quanto a possível mea culpa dos militares:
- Mentiras expostas em livros didáticos usados por 14 mil alunos matriculados em escolas militares do País;
- O excesso de escolas que homenageiam presidentes e comandantes militares;
- O “sumiço” de documentos como explicação de oficiais para defender a impossibilidade de elucidação de casos de tortura e desaparecimento da época da ditadura;
- A dificuldade que militares ainda demonstram para aceitar a prevalência da autoridade civil (como o espantoso incidente envolvendo o ministro da Defesa, Celso Amorim, e seus assessores civis, barrados na entrada do CIE, o Centro de Informações do Exército, sob o argumento de que ali não entram civis, apenas militares; só o ministro, calado, pôde entrar).
Diante dessa resistência, o mais provável, diz ele, é que “incapazes de reconhecerem suas culpas, os militares brasileiros comprometidos com os abusos da ditadura sejam compelidos a prestar contas à Justiça”, segundo afirma Luiz Cláudio Cunha. Ele acredita na revisão da Lei da Anistia.
Jurisprudência para punir torturadores
Como lembrou, em entrevista publicada no iG, o cientista político Mauricio Santoro, assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional no Brasil, há jurisprudência internacional para punir agentes do Estado envolvidos em atos de violação dos direitos humanos. Depois de estudar os casos de comissões da verdade em cerca de 40 países, Santoro constatou que, mesmo em locais onde as leis de anistia não foram revistas, condenações têm ocorrido.
Há também o conceito de justiça de transição, que no Conselho de Segurança da ONU abarca mecanismos e estratégias (judiciais ou não) para avaliar o legado de violência do passado, atribuir fortalecer a democracia e garantir que não se repitam as atrocidades. responsabilidades, tornar eficaz o direito à memória e à verdade.
Para resumir claramente: oficinais-generais que ordenaram, estimularam e defenderam a tortura levaram as Forças Armadas brasileiras ao maior erro de sua história. Os crimes da época envenenaram a conduta dos encarregados da segurança pública, desvirtuaram a atividade dos militares da época e macularam, até hoje, a sua imagem.
Como pergunta Luiz Cláudio Cunha, por que os generais de hoje não admitem os erros dos seus colegas de farda do passado?
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Assassinato de Anísio Teixeira - Carta Capital
Esses crimes todos: Jango, Juscelino, Herzog, Ruben Paiva....e tantos outros não podem ficar se esclarecimentos.
Anísio Teixeira foi torturado e assassindo e simularam uma queda num fosso de elevador!
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-assassinato-de-anisio-teixeira-2603.html?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter
A história tem dessas coisas: as ditaduras acreditam
poder esconder as patas depois de cometer crimes, e as patas sujas de
sangue um dia reaparecem
por Emiliano José
—
publicado
13/01/2014 10:53
Agnaldo Novais/Agecom Bahia
Em 11 de março de
1971, Anísio Teixeira passou boa parte da manhã na Fundação Getúlio
Vargas (FGV), na Praia do Botafogo, no Rio de Janeiro. Joaquim Faria de
Góes Sobrinho, amigo e colaborador de Anísio, colega de trabalho, soube
da visita que ele faria ao apartamento de Aurélio Buarque de Holanda,
situado na Praia do Botafogo, 48, edifício Duque de Caxias. Sugeriu-lhe
fosse a pé. De carro, teria de dar muitas voltas.
Anísio saiu antes das 11 horas em direção ao apartamento de Aurélio
Buarque de Holanda, aceitando recomendação de Sobrinho. Almoçaria com
ele, e pediria voto: era candidato a membro da Academia Brasileira de
Letras. Depois desse almoço, iria para a Editora Civilização Brasileira,
na Glória, Rua Benjamin Constant. Ali, trabalhava como consultor.Anísio tinha uma rotina relativamente rigorosa. Chegava da Civilização Brasileira entre 18,30 e 19 horas. Neste dia 11, um pouco antes das 20 horas, a mulher de Anísio, Emília Ferreira Teixeira, liga para a filha Anna Christina Teixeira Monteiro de Barros, preocupada: nada de Anísio chegar. A filha tranqüilizou-a: o pai poderia ter saído com o embaixador Paulo Carneiro, seu amigo e um dos articuladores de sua candidatura à Academia. Carneiro era representante do Brasil na UNESCO, em Paris, em visita ao Brasil naquele momento.
Mas, o tempo passava, e nada de Anísio. Logo, o apartamento, à Rua Raul Pompéia, 58, apartamento 803, em Copacabana, começou a se encher de parentes e amigos. Começa uma via-crucis: delegacia de polícia de Copacabana, onde não havia qualquer notícia; não estivera na Editora Civilização Brasileira. Terminaram o dia no Hospital Miguel Couto, onde também não havia sinal dele.
Dia seguinte: não estivera também no edifício de Aurélio Buarque de Holanda. Tudo muito estranho, a família em polvorosa. E mais angustiado ficaram todos quando o jornalista Artur da Távola, genro de Anísio, informa que o acadêmico Abgar Renault soubera do comandante do I Exército, Sizeno Sarmento, que Anísio Teixeira estava “detido para averiguações” em dependências da Aeronáutica.
No dia 13, jornais noticiam o desaparecimento do educador. E às 17 horas, Anna Christina recebe um telefonema: “aqui é da polícia...”. Ela passa o telefone para Lúcio Abreu, amigo da família. O educador fora encontrado morto, nas palavras da polícia, no fosso do elevador do edifício onde residia Aurélio Buarque de Holanda.
O corpo estava agora no Instituto Médico Legal. Fora retirado do fosso sem perícia técnica. Na autópsia, estiveram presentes o acadêmico Afrânio Coutinho, o neurologista Djalma Chastinet Contreiras e os médicos Francisco Duarte Guimarães Neto, Domingos de Paula e Deolindo Couto, estes três, professores da UFRJ. Segundo relato dos presentes, havia duas grandes lesões traumáticas no crânio e na região supra-clavicular, incompatíveis com a suposta queda. Relatam, também, a existência de um instrumento cilíndrico, provavelmente de madeira, presumível causador das lesões. O legista, quando prosseguia com sua descrição, foi interrompido abruptamente por dois funcionários provenientes do local de onde o corpo fora retirado, que afirmavam ter sido “morte acidental por queda em fosso de elevador”.
No edifício onde Aurélio Buarque de Holanda morava, outro genro de Anísio, Mário Celso da Gama Lima, junto com um detetive policial, José Pinto, constatava: o corpo não poderia ter caído do alto e chegado ao ponto onde fora encontrado. Não passaria entre duas vigas logo acima, separadas entre si por uma distância de pouco mais de 20 centímetros. As lentes intactas dos óculos de Anísio, encontradas no local, outra evidência da farsa – não havia, então, lentes inquebráveis. Os dois subiram para testar as portas dos elevadores de cada um dos andares. Não conseguiram abrir nenhuma delas.
Mário vai ao IML, a autópsia em curso, ele não consegue assisti-la. O médico e professor da UFRJ, Francisco Duarte Guimarães, havia assistido, e lhe diz sem qualquer vacilação: “Mário, tio Anísio foi assassinado”. Dos que assistiram a autópsia, Mário ouviu a certeza: Anísio fora assassinado.
Foi enterrado no dia 14 de março de 1971, no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. A morte ocorria menos de dois meses depois da prisão, tortura e desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, também no Rio de Janeiro. À época, os esforços para elucidar o caso junto à delegacia responsável esbarravam no fato de que a polícia só admitia tratar o fato como crime comum, malgrado admitisse a hipótese de assassinato. Quando houve a tentativa de incriminar serventes, o filho de Anísio, Carlos Antonio Teixeira, resolveu suspender a investigação.
Esclareço que essas informações estão baseadas em textos produzidos principalmente pelo professor João Augusto de Lima Rocha, da Escola Politécnica da UFBA, membro do Conselho Curador da Fundação Anísio Teixeira e da Comissão da Verdade da UFBA, autor do livro “Anísio em Movimento” e, também, no Memorial enviado à Comissão Nacional da Verdade e à Comissão da Memória e Verdade Anísio Teixeira, da Universidade de Brasília, assinado pelo filho de Teixeira, Carlos Antonio Ferreira Teixeira; por Haroldo Lima, ex-deputado federal, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo e sobrinho-neto de Anísio Teixeira, e pelo próprio João Augusto.
O Memorial anexa matéria do jornal Última Hora, de 15 de março de 1971, onde sérias dúvidas são apresentadas em relação à tese de acidente. A polícia, em princípio, segundo a reportagem, conclui que se Anísio tivesse caído no espaço do elevador de serviço jamais iria cair no platô.
O repórter informa: o corpo estava exatamente sobre o platô, de cócoras, com a cabeça sobre os joelhos e as mãos segurando as pernas. Entre os pés, uma poça de sangue. Na parede, bem no canto, abaixo das duas pilastras, alguns pingos de sangue. Mais nada. E as pilastras não mostravam ranhuras no cimento, na pintura, nem marcas de sangue, coisa que aconteceria se o corpo tivesse batido ali. Ainda segundo a reportagem: quando a portinhola que dá acesso ao platô foi aberta e encontrado o cadáver, outra porta, a da casa de força também estava escancarada. A perícia encontrou ali muitos respingos de sangue.
Outra conclusão categórica da polícia, ainda segundo a matéria: acidente é praticamente impossível. A posição do corpo feria tudo o que já fora visto até ali em acidentes como aquele. “Alguém matou e colocou ali o cadáver do professor Anísio Teixeira”. O repórter anota ainda outras observações da polícia: o chão em volta da portinhola que dá acesso ao poço do elevador havia sido lavado, os óculos de Anísio haviam sido encontrados em uma das pilastras e tudo leva a crer que foram colocadas ali, e ao ser retirado do fosso o cadáver estava sem sapatos e sem paletó. E os elevadores haviam sido revisados havia apenas 20 dias.
O Memorial relata, ainda, depoimento de Luís Viana Filho, de 1988, dado ao professor João Augusto de Lima Rocha, que preparava então o livro “Anísio em Movimento”, publicado pela Fundação Anísio Teixeira, em 1990, e republicado pela Editora do Senado, em 2002. Viana Filho, no depoimento, informa que, procurado pela família, buscou notícias, e recebeu a informação de que Anísio fora detido pela Aeronáutica para esclarecimentos, mas que seria libertado.
E noutro depoimento, dado em 1989, Afrânio Coutinho diz acreditar que Anísio fora morto sob torturas. E diante de James Amado, sua esposa Luiza Ramos, Pedro Roberto Ivo das Neves e do próprio João Augusto, disse ter escrito um documento sobre o episódio, depositado no cofre da Academia Brasileira de Letras, com a recomendação de só ser aberto 50 anos após a ocorrência dos fatos, em 2021, portanto. Coutinho cita o brigadeiro Burnier como um dos responsáveis pelo assassinato de Anísio, o mesmo Burnier dos sinistros planos do Para-Sar e da explosão do gasômetro da Avenida Brasil, abortados pela resistência do capitão Sérgio Macaco.
São muitas as evidências de que Anísio Teixeira foi morto sob tortura. A história tem dessas coisas: as ditaduras acreditam poder esconder as patas depois de cometer crimes, e as patas sujas de sangue um dia reaparecem. É momento de resgatar a memória, revelar a verdade, fazer justiça. Sem condescendência com os criminosos.
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Rolezinho não é anarquista, mas é um fato inescapável aos acrátas
O rolezinho que assusta mídia, comerciantes, polícia e autoridades tem um sabor especial.
As praças foram sequestradas. Não há locus para a juventude.
Os jovens se facebookizam!
Mas eles querem estar tribalizados, mesmos os que ingenuamente escolhem os shoppisssssss para se encontrar.
Quando os e.mails começaram a ser uma realidade em 1997 e se efetivaram em 2001 com as famosas Listas de Discussões, que poucos leem, sempre eu vi um potencial de articulação e mobilização nessa comunicabilidade.
Agora ela acontece, com funções, motivos e objetivos bem distintos dos de alteração a ordem autoritária.
Mas outros fenômenos como o rolezinho surgirão!
É bem banal o que baliza esses encontros, mas é eficiente!
Quando reclamam que há escolas sofrendo com a violência e sendo locais de perda de tempo da juventude, bom comparar a dinamicidade, capacidade de realização e de ação direta do rolezinho.
Tem tantos fenômenos mais atraentes que a escola, que realmente fica difícil competir.
Importente saber que essa moçada daqui a 10 anos já tiveram esse aprendizado de mobilização e sabem de seu efeito.
Mas usarão para um promoção de video games????
Eu num sabo!
As praças foram sequestradas. Não há locus para a juventude.
Os jovens se facebookizam!
Mas eles querem estar tribalizados, mesmos os que ingenuamente escolhem os shoppisssssss para se encontrar.
Quando os e.mails começaram a ser uma realidade em 1997 e se efetivaram em 2001 com as famosas Listas de Discussões, que poucos leem, sempre eu vi um potencial de articulação e mobilização nessa comunicabilidade.
Agora ela acontece, com funções, motivos e objetivos bem distintos dos de alteração a ordem autoritária.
Mas outros fenômenos como o rolezinho surgirão!
É bem banal o que baliza esses encontros, mas é eficiente!
Quando reclamam que há escolas sofrendo com a violência e sendo locais de perda de tempo da juventude, bom comparar a dinamicidade, capacidade de realização e de ação direta do rolezinho.
Tem tantos fenômenos mais atraentes que a escola, que realmente fica difícil competir.
Importente saber que essa moçada daqui a 10 anos já tiveram esse aprendizado de mobilização e sabem de seu efeito.
Mas usarão para um promoção de video games????
Eu num sabo!
sábado, 11 de janeiro de 2014
A pedagogia anarquista grita aos ouvidos dos que dela necessita!
Em 2004 tive uma
experiência em sala de aula que considero a mais significativa
sobre meu pensamento a favor da pedagogia anarquista.
Na formação de
geógrafos e educadores em geografia o trabalho de campo é sempre
colocado como peça chave. Rouseau, Tolstoi e tantos outros
precursores da educação sugerem ir no mundo real para aprender
sobre a física e o mundo.
Assim, alguns geógrafos marxistas no
Brasil que se preocupam com a pedagogia, didática e transformações
em prol de uma sociedade mais justa juntam ao coro da aula de campo,
excursões, visitas de campo, aula externa e qualquer outra prática
que tire os estudantes da sala e da escola para ver o mundo em sua
dinâmica própria.
Então, no mesmo ano de
2004 eu fiz aulas de campo no litoral de João Pessoa com estudantes
do ensino médio do CEFET-PB. Essas aulas eram para brindar a amizade e
confiança já adquirida e conquistar outros mais reticentes. Depois
pedi a todos que fizessem um relatório expedito, nada discursivo que
apenas relatasse o que viram.
Foi uma experiência
bem sucedida e consegui chegar a um resultado satisfatório,
salvo um relato do estudante Y que mostrou outro sentido do que pedi
e que após ler seus escritos, tive discussões em minha casa, perdi uma noite de
sono e fiquei no dilema entre dar uma boa avaliação ou anular o
valor desse trabalho.
Passei muitos anos
buscando esse relato entre minhas coisas e já tinha dado como
perdido, até que 9 anos após, revendo antigas correspondências, me
deparo com esse importante documento de minha formação.
Agora reproduzo esse
relato e finalizarei com o eu aprendi disso e por qual razão esse
conteúdo é uma marco simples mas de muita valia para o que fui
desenvolvendo depois.
Relato do estudante Y
Pouco sei falar da aula de campo de geografia que ocorreu no último sábado, eu quase desisti de ir devido à minha rotineira preguiça, de madrugada tomei banho de laminas cortantes e quando fui para a parada de ônibus mal notei que perdi um ônibus que passava bem ao alcance de meus olhos. Mas incrivelmente consegui chegar lá, eu me deparei com a minha turma desunida que finge ser “legal”, mas que REALMENTE não é! Cumprimentei alguns amigos que eu não tenho e tentei entrar no jogo dissimulado do 2° ano , sim, por que eu não poderia deixar de ser ridículo também? Por um dia eu não poderia deixar de ser o estanho da sala? Eu estava em uma praia que nunca havia ido, e (era sábado). Quando descemos para a areia o professor falou de umas pedras; o que pode ter de interessante em pedras? Eu tentei escutá-lo, na verdade eu até escutei, mas sinceramente não lembro de quase nada do que ele disse, talvez porque eu não achei interessante, por que as pedras não eram tão “adoráveis” como as pessoas da sala?O meu objetivo continuava de pé, apesar de andar, andar, andar... E o sol então? Deus seria quase perfeito se eu não existisse o dia! Mas, mesmo com todos os problemas, eu tentei ser simpático, como na verdade eu sempre tento, acho agora que sou o mais dissimulado daquela turma! Não quero me apegar aos detalhes que não existem sobre este ignóbil passeio!Também não falarei das pedras, nem sobre as falésias vivas ou mortas, nem das moribundas. Pois na verdade, nada sei sobre tudo, e nem consigo fazer uma relação normal, assim como fazem todas as pessoas!O que me lembro é que fiz duas coisas inéditas, talvez disso eu não me esqueça: dancei forró (um ritmo nojento) pela primeira vez, não que isto seja motivo de orgulho, mas foi algo inédito para mim; era engraçado os aborígenes da praia lavando roupas num rio fétido (rio peruca, eu acho!), com pessoas apontado-as como se fosse algo muito distante de nossa realidade; também fiz outra coisa surpreendente, tirei uma foto com a turma que eu não faço parte (eu odeio ser fotografado!).Mas, por que eu não dormi naquele dia? O que me levou a ir para esta simples aula de campo? Nada? Pois na verdade eu não fui, eu continuei dormindo para que eu perdesse meu tempo fazendo relatório completamente sem nexo! E sabe o que disseram as pessoas da sala num só coro com belíssimos sorrisos: - Nos adoramos a aula de campo!
Quando me deparei e li
esse relato eu desmontei de tristeza e de raiva. Trabalhei um dia sem
remuneração, vi todos felizes e por qual razão um jovem perderia tempo de fazer um testemunho de si, dos outros e de minha prática
tão negativos?
Demorei bastante a
perceber que ele me deu uma prova maior de confiança, afinal, por
que se auto denunciar? Hoje relendo, percebi que ele aprendeu muito
mias do que eu imaginei. Na época tasquei a nota máxima. O espanto
do estudante Y quando viu isso foi engraçado! Ele realmente queria
se ferrar! Coisa de jovem suicida!
Sofri para entender o
negativismo e a apresentação de falta de sentido que a aula de
campo teve. Mas na época eu entendi que a melhor coisa que uma
estudante pode oferecer a um professor é a confiança de que suas
palavras serão respeitadas. Também, que não há uma prática
pedagógica que seja boa para todos.
Hoje, com os parâmetros
da pedagogia anarquista, compreendo que o ensino formal, unificado,
de massa, obrigatório e autoritário faz muito mal às pessoas.
Alguns conseguem falar do mal estar que sentem, outros não se
demonstram perturbados e sobrevivem.
Esse relato ranzinza
foi um dos primeiros eventos que me deram a partida para sair da
proposta marxista na pedagogia em seu cunho reducionista, autoritário
e diretivista.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
A crise do Giz - em Carta Capital
O texto seguinte pode bem servir para um debate sobre a dificuldade de ensinar, mas esbarra no fato de ser pautado na esperança de que um espaço forjado para forjar seja compatível com a inteligência.
Concordemos que esse ambiente supera seus objetivos quando descobre que é um espaço relacional!
A crise do giz
Novas tecnologias, métodos e a suposta redução da atenção dos alunos colocam em xeque a aula expositiva
Um quadro do século XIV, pintado por Laurentius de Voltolina, mostra uma aula em Bolonha. Do lado esquerdo, sentado em um púlpito elevado, vê-se o pomposo professor. À sua frente e à sua lateral, em fileiras de carteiras fixas, encontram-se pouco mais de 20 estudantes. Apenas quatro ou cinco deles parecem escutar atentamente o mestre, alguns miram seus cadernos, outros conversam e dois parecem dormitar.
Séculos depois, a cena das salas de aula não parece ter mudado. O visitante que entrar hoje, ao acaso, em uma sala de aula, vai provavelmente se deparar com cena similar. O mestre talvez seja mais jovial e comunicativo do que aquele do quadro de Voltolina. Entretanto, à sua frente, estarão os mesmos estudantes entediados. Poucos estarão atentos à cena, muitos outros estarão mergulhados em notebooks e smartphones, alguns, provavelmente, estarão cochilando.
A escola permanece, para muitos, um lugar de enfado e tédio, ou o sacrifício a fazer por um diploma. O dramaturgo britânico George Bernard Shaw deixou para a posteridade, entre outras tantas pérolas, o registro de que os únicos momentos nos quais sua educação foi interrompida foram aqueles em que estava na escola. O “educador futurista” David Thornburg declarou recentemente em uma entrevista para a revista The Atlantic que, de todos os lugares de sua infância, a escola era o mais depressivo.
Séculos preservaram a essência da instituição. Décadas recentes de desenvolvimento pedagógico não lhe alteraram as feições e os últimos anos de revolução tecnológica parecem ainda não ter surtido efeito. O quadro-negro deu lugar à tela. O computador substituiu o giz. Agora a febre são as aulas em vídeo no YouTube. No entanto, são as mesmas aulas de sempre, ou versões pioradas.
Nos últimos anos, as aulas expositivas parecem ter se transformado em vilão e alvo preferencial de críticos. Buscam-se novas dinâmicas e métodos. Será esse realmente o melhor caminho? Algumas aulas produzem efeito narcótico, mas decretar o fim do modelo talvez seja prematuro. Richard Gunderman, professor de Medicina da Universidade de Indiana, escrevendo para a The Atlantic, observa que há boas e más aulas. Gunderman argumenta que a presença física do professor faz diferença: bons professores são capazes de despertar a imaginação dos pupilos e inspirá-los. Preparar uma boa aula é uma arte, requer esforço e muitas horas de prática.
Hoje, a informação está disponível nos mais diversos meios. O objetivo da aula é contagiar os estudantes: contar uma história com começo, meio e fim, transmitir o entusiasmo do mestre pelo assunto e tornar os pupilos seus “cúmplices”. Uma boa aula não é uma repetição mecânica de teorias e modelos. É um processo interativo, no qual ator e audiência interagem e, eventualmente, trocam de papéis. “O bom professor abre os olhos dos aprendizes para novas questões, conexões e perspectivas que eles não consideraram antes, iluminando novas possibilidades para trabalhar e viver”, argumenta Gunderman.
Em Monsieur Lazhar, filme canadense de 2011, dirigido por Philippe Falardeau, Bashir Lazhar é um argelino refugiado em Montreal. Ávido por um emprego, ele oferece seus serviços a uma escola fundamental, escondendo a falta de experiência como professor. Ansiosos por substituir uma professora que cometera suicídio na escola, traumatizando seus pupilos, a diretora contrata Bashir. Seus métodos tradicionais incluem ditados, leituras clássicas francesas e a reversão do arranjo de mesas e cadeiras ao antiquado modelo de fileiras paralelas. Entretanto, à medida que a história evolui, a relação com os estudantes se desenvolve positivamente e Bashir os ajuda a enfrentar o trauma da perda de sua antiga professora, enquanto supera suas próprias perdas.
Ensinar e aprender trata-se de um processo relacional que vai além dos métodos e das tecnologias. Diz essencialmente respeito a relações humanas. Não é entretenimento ou diversão. Tampouco é sofrimento. Envolve escutar, avaliar, refletir e praticar. Pode ser penoso, às vezes, mas deve sempre recompensar estudantes e professores. Pode usar novos métodos e novas tecnologias, mas depende essencialmente da construção de um palco para a interação coletiva.
sábado, 7 de dezembro de 2013
Anarquistas, educação, professores e estudantes alcoólatras
Tal como os alcoólatras, professores são viciados em estudantes e esses alcoolizados mutuamente.
A obsessão por ensinar e o vício por aprender...ilusões retroalimentadas.
Isso, pensando na educação em massa, pior e mais deletério da inteligência.
Nesse caos de falsas motivações, aceitamos a escola e a educação involuntárias, reclusas e certificadas.
Vícios...todo mundo tem!?!
A obsessão por ensinar e o vício por aprender...ilusões retroalimentadas.
Isso, pensando na educação em massa, pior e mais deletério da inteligência.
Nesse caos de falsas motivações, aceitamos a escola e a educação involuntárias, reclusas e certificadas.
Vícios...todo mundo tem!?!
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