quarta-feira, 23 de julho de 2014

Carta Escola...texto incrível para dizer que pedagogia anarquista funciona a despeito de tudo!


Novamente os princípios anarquistas estão ditos, escritos, teorizados, mas não referenciandos que esse tipo de pensamento já estava presente com os pedagogos anarquistas da virada do século XIX e XX. 

O interessante é que a própria experiência de uma mãe viu o que é óbvio, mas pais e mães neuróticos insistem acreditar em escolas, supervalorizar e achar que eles tem papel menos importantes.....e haja cartas escritas para mudarem esse condicionamento.

http://www.cartanaescola.com.br/single/show/370

Carta ao professor

LAURABEATRIZ
Novos tempos, novos modelos

Novos tempos, novos modelos

Foi uma tarefa árdua para a minha filha terminar o Ensino Médio, mas aprendi com ela que esse modelo de escola não serve mais

Por Anna Claudia Ramos
No alto dos seus 6 anos, minha filha me disse muito segura de si: “Eu odeio a escola, eu odeio as regras da escola e nunca vou obedecer às regras da escola”. Passei todo o período escolar de minha filha reinventando a vida, porque ela brigava veementemente com tudo o que fosse imposto e com a forma rígida das tarefas. E me perguntava por que não poderia ser diferente.
Este mês ela completa 20 anos. É leitora de filosofia e literatura. Aprendeu francês e hebraico por conta própria e fala inglês fluentemente. Mas gostar de estudar seguindo um modelo único, nem pensar! Fazê-la chegar ao final do Ensino Médio foi uma árdua tarefa. Ela formou-se em um supletivo estadual a distância. Desses em que os alunos estudam e vão ao colégio apenas para fazer provas. Estudam no seu tempo e no seu ritmo. 
Longe de ser o que queria, mas o possível para uma aluna que não se encaixava no modelo da escola. E olha que ela passou por escolas com propostas abertas.Minha filha veio para me ajudar a refletir que esse modelo já não cabe mais. Não cabe mais querer que todos aprendam por igual quando sabemos que cada um tem ritmos e desejos diferentes. Nem desassociar escola e vida, nem hipocrisias, nem conhecimentos estanques e educadores que não querem acompanhar as novas gerações. 
Estamos vivendo a era do conhecimento, com novos comportamentos, trabalhos, empregos e formas de viver. Não podemos mais querer continuar mantendo o modelo do século retrasado. Somos privilegiados de estar vivendo esses novos tempos, onde vamos aprender a conviver de forma fraterna com as diferenças, onde a literatura poderá ser lida sem a censura do politicamente correto, onde seremos partícipes e coautores de uma escola menos rígida em sua estrutura, que incentive a busca do conhecimento e não valorize as ciências exatas em detrimento das humanas.
Hoje, entendo que crianças e jovens como minha filha conseguem ler, ouvir música, estudar, ver tevê e falar com dez amigos ao mesmo tempo num chat. Sim, essa moçada faz tudo isso ao mesmo tempo. E dá conta! É a geração nativa digital, com outros saberes e aprendizados.
Somos protagonistas desses novos tempos, onde a leitura não é mais linear, muito menos o conhecimento. O mundo digital veio para somar e não subtrair e a internet para nos aproximar muito mais do que nos separar. Educadores não detêm mais o saber, porque o mundo passa por transformações constantes. Os professores serão tutores de seus alunos, fazendo-os buscar a construção do conhecimento de forma intensa e profunda. Salas de aula serão abertas para novas formas de aprendizado mais interessantes e instigantes.
Mas, para vivermos esses novos tempos, temos de sair da zona de conforto, arregaçar as mangas e trabalhar. Vamos nessa?

Publicado na edição 88, de julho de 2014

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Recife: 2ª Jornada de Pedagogia Libertária


Este evento não é organizado por mim. Mas divulgo aqui para os interessados!
Recife: 2ª Jornada de Pedagogia Libertária
C o m u n i c a d o:
As Jornadas de Pedagogia Libertária em Recife representam o resultado de um esforço que há muito vem sendo gestado pelo Difusão Libertária até sua concretização na experiência vivida na primeira edição deste encontro. O seu principal objetivo reside na colaboração para “abrir caminhos” a uma abordagem libertária da discussão e prática da educação, já que constatamos um desconhecimento das reflexões teóricas, dos processos formativos e das várias formas de escolarização realizadas nas práticas e de sua influência histórica no Brasil e no mundo.
Por sua vez, as Jornadas surgem como proposta de criar um espaço para facilitar o contato com experiências já realizadas, extintas ou em andamento, bem como engajar-se em iniciativas de educação fora de todo condicionamento dominador das pessoas e grupos sociais; alimentando possíveis condições diretas de desenvolvimento de práticas de educação libertária.
Eixos temáticos desta edição:
1. Educação anarquista;
2. Auto-formação e educação cooperativa;
3. Pedagogia libertária.
Em breve, divulgação do edital para inscrição de trabalhos.
Notícia relacionada:
agência de notícias anarquistas-ana
No jardim dos sonhos
Penso que sou borboleta
Tudo é tão real!

Selma Fernanda Ribeiro – 11 anos



Discuss?o Libert?ria!! forumlibertario@grupos.com.br

cancelar assinatura - p?gina do grupo

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Rede Globo defende o anarquismo......desde que acorrentado!



Hoje dia 7 de julho de 2014 no Jornal Bom dia Brasil saiu uma matéria intitulada "Brasileiros se mobilizam para melhorar o lugar onde vivem.


http://www.journalnoticias.com.br/index.php/127401/brasileiros-se-mobilizam-para-melhorar-o-lugar-onde-vivem/

O que eu achei importante nessa metáfora de cidadania é a particularidade da ação direta ou o "faça você mesmo" de muitos movimentos libertários, entre eles os anarquistas.

O princípio ou cerne dessa matéria parece ser isso!?! Questiona a ausência do Estado e a urgência das pessoas. Exemplos como a Patrulhinha da Limpeza, Jardins em terrenos abandonados, vaquinha de bombeiros para colocar placas de sinalização de perigo à vida....e a construção de uma cadeia.

Se o Estado é ausente...a população pode partir para a ação voluntária e tanto fazer a obra pública que o governante não faz ou por que o Estado é lerdo.

Em João Pessoa 14 anos passados foi permitido que se  seus cidadãos quisessem pagar pelo calçamento de suas ruas, eles teriam isenção do IPTU naquele lugar onde a obra fosse feita. Obviamente só pessoas de bairros de alta renda podiam fazer isso, crendo ou fazendo crer que o IPTU pode ser reapropriando por quem paga e não um fundo de bem comum em prioridades definidas tecnicamente.

Três coisas são importantes destacar na qualidade de ação mostrada:

  • são indivíduos e não coletivos que as fazem
  • o Estado é ineficiente para as questões urgentes
  •  experiências coletivas que fazem mais do que isso inexistem.
Esse legado de espontaneidade cidadã já era o mote da Comunidade Solidária. Despolitizam os mecanismos e colocam sob indivíduos as questões que são de pertinência social.

E o que uma pessoa passa a acreditar? Que a ação coletiva é lerda, burra e desanimadora.

Por isso não gostam de greves, ocupações, associações e qualquer revindicação social organizada.

Justiça pelas próprias mãos, cidadania pelas próprias mãos e a ineficiência política deve ser intocada.

Por outro lado, mostra que se uma comunidade quiser assumir toda a gestão de seu espaço e se desligar dessa falsa democracia que vivemos, podemos fazer federações de federações urbanas e rurais politizando o bem público que é prioritário ao bem privado.






domingo, 29 de junho de 2014

Linguagem anti-sexista e espaço na pedagogia anarquista.



Sempre parto do pressuposto que a principal conquista e ponto de partida para os anarquistas em seus pressupostos é erradicar a opressão contra a mulher, mesmo antes de qualquer outra questão de gênero. Talvez eu seja exageradamente foucaultiano sobre a sua tese de micro poderes, da qual li trechos de modo superficial. Pirateei confesso! (não siga meu exemplo).
Em alguns meios feministas, anarquistas, libertários de países de língua latina afirma-se que a linguagem é dominada pelo gênero masculino o que produz um discurso sexista em permanência. Assim, alguns pedagogxs sugerem para essas línguas que ao mudar a ênfase com palavras neutras substituindo por @, X e etc. seria possível corrigir ou reduzir a dominação masculina explícita e dissimulada pela expressão falada e escrita.
A tese é interessante, mas em países de língua inglesa ou que o gênero não determina a linguagem o machismo não se mostra particularmente menor do que nos países em que o gênero masculino domina a linguagem.
Então, se o machismo e sexismo não são reforçados apenas pela definição de gênero na linguagem, onde a educação antissexista ganha num país mudando a escrita e a fala? E num pais que isso não se define, como a educação antissexista pode ser legitima? Uma pessoa machista que muda para um país de língua inglesa, não deixa de ser sexista por isso, tal como uma pessoa ciente do problema não se torna sexista ao falar português ou espanhol.
Talvez a linguagem definida pelo gênero mereça em alguma fase da educação ser questionada e re-praticada. Nesses casos todos ainda é prioritário construir uma educação em que as mulheres sejam capazes de achar que o discursos e práticas com seus princípios e humanistas ocorram, vivam e nos movam.
Adotando-se uma grafia e fala antissexista não fará uma sociedade menos machista. O comportamento sexista e machista parece ser mais eficiente do que as formas discursivas! Talvez, em outros campos do concreto e do conteúdo comportamental e discursivo, urgentemente, se precise preocupar os pedagogos libertários.
Nisso eu percebi na Escola Paideia (Espanha) uma primeira fagulha que me parece uma linha interessante e exploratória rica para nós. A questão de gênero se faz também pela maneira como as mulheres e homens dividem a ocupação do espaço. Espaços reclusos, finitos e horizontais são os femininos e espaços amplos e tridimensionais e infinitos masculinos.
A educação espacial e forma de ambos, meninos e meninas experimentarem e se apropriarem do espaço é mais desafiadora e promissora do que a oferta de brinquedos sem gênero!
Tenho a impressão que a subjetividade e objetividade da percepção e uso do espaço, se não é a mais transformadora, no mínimo é inescapável em alguma fase evoluída da educação social que um dia vier! Como fortalecer uma pedagogia antissexista sem criar ilusões e agravar preconceitos!? Eis um desafio que a escola formal está incapacitada de usufruir!




quarta-feira, 25 de junho de 2014

Professor brasileiro perde 20% dando varada moral nos estudantes

A matéria que segue diz respeito ao fato de que os professores brasileiros destinam em média 20% de seu tempo para "disciplinar" suas turmas. 

No mundo a média é 13%. Engraçado disso tudo é que fica patente que a educação liberal é feita a força.

Num lugar que você vai obrigatoriamente até que essas escolas estão indo bem. 

O que temos que ficar alertas é para essas  escolas base dessas pesquisas que acreditam na educação em massa, feita de um modo só e neurotizante.

Isso prova que esses professores tem mais serviço como pré-carcereiros do que como educadores.

Se eles só perdessem tempo com isso! Perdem saúde, esperança e desejos...mas não é por causa dos estudantes....mas por conta da estrutura bestificante que é a educação autoritária de massa no mundo!


Professor brasileiro gasta 20% do tempo de aula com indisciplina

Do UOL, em São Paulo
Compartilhe172638
 Imprimir Comunicar erro
Os professores brasileiros gastam, em média, 20% do tempo de aula mantendo a disciplina na classe, segundo levantamento internacional. Ou seja, o docente gasta um em cada cinco minutos pedindo silêncio ou chamando a atenção por bagunça.
O desempenho brasileiro é o pior entre os 32 países que responderam à essa parte da pesquisa. A média entre os países é de 13%. Na Finlândia, país tido como exemplar no quesito educação, o percentual de tempo dedicado a essa atividade chega a 13%.
As informações são da edição 2013 da Talis, Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem coordenada mundialmente pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O levantamento foi divulgado na manhã desta quarta (25).
De aula mesmo, ensinando os alunos, o percentual de tempo gasto em aula é 67% enquanto a média internacional é de 79% e a da Finlândia é 81%.
Em 12% do período de cada aula, o professor lida com questões administrativas, como o controle de presença (chamada) -- contra a média de 8% dos países que participaram da pesquisa e 6% da Finlândia.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Escolas livres na Suécia e neo-liberalismo



Recentemente recebi um texto sob o título “Educação Proibida” indicando ser de Maurício Hojas (*) discorrendo sobre do ataque do governo sueco contra as escolas livres. Antes de adentrar no mérito da questão é necessário fazer alguns esclarecimentos.
As escolas, livres, democráticas e de felicidade não são sinônimo de libertárias (leia-se políticas sociais e revolucionárias). Os mais radicais diriam que a palavra escola e libertarismo nunca devem andar juntas. Esses propõem o fim da escola e estabelecimento de comunidades educativas.
As escolas livres tem seu fundamento pedagógico em Summerhill (Inglaterra). Assim, Escola da Ponte (Portugal) e outras no mundo vivem nesse ambiente que lutam por uma educação antiautoritária, autodidatismo, liberdade dos planos nacionais de educação e estatal e que lutam pela descoberta de saber ser, se autoconhecer primeiro para depois pensar em ter conhecimentos. Buscam primeiro a felicidade, bom convívio, tolerância, compaixão e liberdade.
Nesse eixo entraram escolas de fundo filosófico ou religioso ou espiritualista ou terapêutica ou de alguma corrente pedagógica liberal, mas sem pode dizer que são engajadas politicamente, algumas são até contra ter formação política. Assim, escolas livres são liberais, mas não são libertárias. Toda educação libertária é política, pelo simples entendimento filosófico de que se uma pessoa é livre, não se pode aceitar a escravidão dos outros em nenhum lugar do mundo e da história.
Na Suécia e em outros países nórdicos, mas também Israel, Japão, Brasil e espalhados pelo mundo há o movimento de escolas livres, mas no texto de Rojas e das críticas que a ele fizeram o problema é que essas escolas livres fazem parte do cardápio das políticas liberais na Suécia. Por possuírem métodos não Estatais e de felicidade, alguns dos pais e mães tenderam colocar seus filhos nessas escolas privadas. Criaram assim um tipo de escola privada, anti-estatal, mas não revolucionárias.
A escola estatal socialista sueca sempre elogiada no mundo passou a conviver com a escola privada, assim, as avaliações nacionais e a queda da qualidade educacional comparativamente às escolas livres na Suécia começaram entrar na conta de uma disputa ideológica.
As escolas todas e as estatais, para o libertarismos mais radical são detestáveis por princípio, mesmos as ditas socialistas. Mas a solução por uma educação privada como parece ocorrer na Suécia cria ou começa a criar distorções que não existiam ou eram menores, fazendo um pouco do que foi feito no Brasil, onde a educação é primeiro um mercado a se disputar ou feito para aceitar as relações de mercadoria.
Então, as escolas de liberdade e antiautoritárias em alguns lugares tem sido apenas uma brecha e oportunidade de mercado, mesmo contendo princípios da educação não diretiva e afáveis.
(*) Suécia: as escolas livres derrubarão o projeto socialista. http://reevo.org/externo/suecia-las-escuelas-libres-y-la-politica/




segunda-feira, 16 de junho de 2014

Gato por lebre Carta Escola e observações

O texto Gato por Lebre da Carta Escola escrito por Cinthia Ramalho traz algo conhecido de muitos professores. 

Tal como a saúde privada não viveria sem os leitos do SUS, as escolas privadas não vivem sem estudantes de bons de escolas públicas e assim, conseguiram vender uma imagem falsa de que escola pública era uma maravilha no passado.

Para quem cara pálida? Essa é a pergunta que desmonta esse sofisma.

Há muitos anos escrevi um texto "Colheita Maldita" sobre a coleta que as escolas privadas fazem dos melhores estudantes de uma cidade, como quem compra bons jogadores de futebol de países pobres para montarem suas seleções.

A escola privada, tal e qual a saúde privada desfrutam de um status que não é pleno e verdadeiro. Essa herança neo-liberal, mas que tem genese anterior, contrário de ajudar países pobres, cria muitas distorções bem aceitas por pais neuróticos com o destino dos filhos.

Mas os dados no texto abaixo, concretizam o que os professores já sabem. A mídia criou um medo tão grande da escola pública, mentiu tanto sobre a escola para poucos e boa do passado, que herdamos um porcaria de educação dicotômica no Brasil...escola privada boa para ricos e ruim públicas para pobres!

Finalmente, o que é escola boa para o mundo capitalista estou me fodendo para isso. Mas as pistas estão bem indicadas no texto que segue. Uma delas é que a classe média que alimenta esse mercado educativo privado estão sendo enganados. Acredite se quiserem!

Metade das escolas particulares têm desempenho igual ao das públicas no Enem, segundo estudo feito pela USP

Por Cinthia Rodrigues
Por que fazer o Ensino Médio em uma escola particular? Se a resposta for obter aprendizagem suficiente para passar em vestibulares, grande parte das famílias pagantes  desperdiçou o alto investimento financeiro. A conclusão é de um estudo das notas médias das instituições no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012, feito pelo pesquisador Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP. A análise revela que metade dos alunos da rede privada têm desempenho equivalente àqueles que vêm da rede estadual de ensino.
Segundo o levantamento, 98% dos alunos da rede pública de todo o Brasil alcançaram até 560 pontos – a média foi de 479,4. Já entre as instituições particulares, 52% dos alunos atingiram até 560 pontos, e a média foi um pouco maior, de 558,1 pontos.  “Famílias que fazem sacrifícios e pagam mensalidades com o propósito de ver os filhos na faculdade estão sendo enganadas, ao menos nesse ponto”, afirma o autor da pesquisa. A constatação fica mais alarmante quando comparada ao movimento de saída da classe média do ensino público para o privado. Nos últimos cinco anos, com a melhora geral no nível de renda das classes mais baixas, o total de matrículas na Educação Básica da rede pública caiu 3,8 milhões, enquanto cresceu 1,3 milhão na particular. “Muitos vão em busca de base para o Ensino Superior, mas é uma ingenuidade”, conclui Alavarse.
O próprio recorte feito para chegar às notas médias é um claro indicativo de como o propósito dos estudantes de instituições privadas é a faculdade. Foram contabilizadas as escolas brasileiras que tinham mais de 50 alunos no último ano do Ensino Médio e, entre esses, mais da metade tenha prestado o exame. Instituições federais e municipais foram desconsideradas pela participação reduzida. Das 18,5 mil escolas estaduais do Brasil, sobraram apenas 5,9 mil que preenchiam as características buscadas, ou seja, em mais de dois terços a maioria dos alunos sequer faz o Enem. Já entre as 7,8 mil particulares do País, 5 mil tinham o perfil, mostrando que o Ensino Superior – a que o exame é principal canal de acesso – constitui alvo de seus alunos. 
Não se trata de igualdade entre as médias das unidades nos dois sistemas. As tabelas construídas pelo pesquisador mostram que há diferenças entre escolas públicas e particulares. Os pontos a mais das instituições pagas, no entanto, não são suficientes para levar seus estudantes à aprovação direta, por exemplo, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que distribui vagas nas universidades federais por meio das notas do Enem. Equivale a dizer que, embora com notas diferentes, 98% das estaduais e 52% das privadas ficariam com vermelho na avaliação e seriam reprovadas. 
“O caso das públicas é dramático, mas não é novidade”, afirma Alavarse. Na curva de distribuição das médias das escolas, o que chama mais a atenção é que 16% teriam 449 pontos, se a média de seus alunos fosse a nota da escola. Com isso, não conseguiriam sequer uma certificação de conclusão do Ensino Médio, documento dado a quem não cursou a etapa de ensino, mas faz a prova e obtém acima de 450 pontos. “Se o exame fosse aplicado à escola, esse porcentual não teria direito a diploma”, lamenta. 
As escolas estaduais que ultrapassam essa pontuação não vão longe. Se for considerado o estágio de 460 pontos, o total acumulado de escolas vai a 27,9%. “Com uma margem de erro mínima, cerca de um quarto oferece ensino abaixo do que o País estabelece como exigência para se considerar que a pessoa tem o Ensino Médio”, afirma Alavarse. Raras particulares têm essa média. As instituições privadas com notas de até 460 pontos são apenas 0,8% do total. 
Chance no vestibular
O patamar em que as duas redes se veem juntas é o que seria exigido nos processos seletivos para curso superior. No Sisu, os cursos mais concorridos exigem acima de 700 pontos no Enem. O pesquisador usou como pontuação mínima para ter chances em carreiras menos disputadas o recorte de 560 pontos. É esse o recorte que deixa de fora 98% das públicas e 52% das particulares pesquisadas. “Estamos falando de uma média para tentar vagas menos concorridas. Se formos falar em carreiras e universidades muito seletivas, apenas aqueles colégios top, inacessíveis para a classe média, dão chance”, avalia.
O estudo de Alavarse foi elaborado para uma apresentação no Conselho Municipal de Educação de São Paulo e ainda não está disponível para consulta na internet. Diante das conclusões, ele e outros colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliações Educacionais, do qual é coordenador na USP, estão debruçados sobre os dados por alunos, para refinar a média por escola. “Isso aprofunda a análise, mas posso adiantar que os resultados seguem na mesma direção.”
Rodrigo Travitzki, integrante do grupo, desenvolveu tese de doutorado sobre os limites do Enem como indicador de qualidade escolar. Uma das constatações é de que pelo menos 75% da média da escola explica-se pela renda familiar e escolaridade dos pais. De acordo com ele, sem levar em consideração o contexto socioeconômico, há uma diferença relativamente grande entre as médias das notas de instituições estaduais e privadas no exame, de 91 pontos. Porém, quando se retira a influência do fator socioeconômico, apenas 26 pontos as separam. “Isso significa que a diferença entre os dois tipos de escola é pelo menos três vezes menor do que se imagina”, afirma. 
Para Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a consciência de que boa parte da rede particular não garante ensino de qualidade poderia fazer com que mais pais participassem da busca por melhor educação. “O nosso problema é estrutural, muitos professores são os mesmos nos dois sistemas. Mostrar as carências só na escola pública reduz o debate e fortalece a privatização”, afirma.
O professor Alavarse reconhece, no entanto, que o vestibular não é o único motivo pelo qual famílias escolhem comprar um serviço que está disponível a todos por financiamento público. “Muitos o fazem pelas relações que seus filhos vão ter para a vida ou em busca de segurança e, provavelmente, eles têm alguma razão”, diz.
Uma pesquisa do Ibope Inteligência realizada com pais que tinham filhos em instituições particulares em São Paulo, Distrito Federal, Aracaju, Salvador, Curitiba e Porto Alegre, em 2010, apontou quais são as principais preocupações das famílias com crianças e adolescentes em instituições particulares. Quando perguntados sobre o que levavam em conta, o item mais lembrado, por 84% dos entrevistados, foi “segurança”. “Qualidade de ensino” veio depois, com 81%. Na sequência do que mais importa apareceram “disciplina”, com 74%, e “amizades”, citadas por 56% dos pesquisados. 
A advogada Tatiana Panno Lombardi, moradora de Cajamar, na Grande São Paulo, tem um filho de 15 anos matriculado no Ensino Médio em escola particular do município. O resultado do estudo  não a surpreendeu. “Sei que não vai dar para entrar em uma boa universidade só com o Ensino Médio que ele faz, e a gente já imagina que vai pagar cursinho. Mesmo assim, jamais colocaria meus filhos em escola pública”, afirma.
Ela admite que não conhece as instituições da cidade, mas julga que “são péssimas” pelo o  que acompanha na mídia. “É um preconceito, sim,  mas, pelo que observamos em termos de notas baixas, greve, falta de professores, violência e drogas, eu não arriscaria.” Atualmente, Tatiana gasta cerca de 750 reais por mês entre mensalidade e lanche com o filho adolescente. A caçula, de 2 anos, também estuda em instituição particular. “Parte importante do nosso orçamento vai para Educação.” 
Pais que investem na educação dos filhos fazem falta no ensino público – não só porque poderiam contribuir financeiramente com as escolas. Um estudo do cientista político norte-americano Robert Dahl, morto este ano, mostrou que a saída de famílias mais educadas da rede pública piora as perspectivas das crianças que ficam. A partir de um exemplo de New Haven, em Connecticut, ele explica que essas pessoas  teriam mais condições de exigir padrões de qualidade, mas se preocupam menos com a educação pública e mais com as unidades que frequentam. Pior: podem se opor a maiores investimentos em Educação já que são taxadas duplamente pelo serviço. 
Alavarse é contrário a campanhas contra a saída da classe média da escola pública: “Não tem de ser boa porque é frequentada por um dado segmento, tem de ser boa e pronto”. Ainda assim, diz, poderia haver equilíbrio entre os resultados, se o contexto socioeconômico fosse equivalente. “A particular se sai melhor porque recebe alunos melhores.” 
Para Travitzki, um dos pontos importantes do estudo é mostrar essa proximidade. “Apesar das dificuldades conhecidas na escola pública, bons trabalhos são feitos. Se não reconhecermos isso, podemos entrar num caminho perigoso, promovendo o sucateamento da rede e estimulando a privatização gradual da educação, travestida de busca por qualidade”, afirma. Ilusão que, em 52% dos casos, não resiste ao Enem.