Não sou estudioso
da educação em/de gênero. Apenas intuo que a masculinidade e
feminilidade são manchas oscilantes e que por motivos que desconheço
predominam ou são mais nítidas e expressas nas individuações.
É inescapável que
os educadores encontrem crianças e jovens em que essas oscilações,
despercebidas ou percebidas por elas e eles favoreça opressões,
auto-opressões ou uma feliz e incessante ignorância sobre esses
sentidos até que a vida bata na porta e exija limiares de saúde
afetiva para essas pessoas se sentirem em equilíbrio aos que lhe
oferece amor e cumplicidade.
Visitei a Escola
Summerhill e li algumas poucas coisas. Nesta visita que realizei em
2008 eu percebi um casal de meninas que se entre abraçavam
afetivamente. A Escola Summerhill escandalizou e escandaliza os
pedagogos até hoje, embora que ao longo do tempo seja mais careta
hoje do que foi no passado. Entretanto, nenhum estudante foi
engravidada por professores ou caso contrário.
Vivem em internato,
tomam banho naturista na piscina da escola e no passado as leis
educacionais não proibiam que as crianças e adolescentes dormissem
juntas. Num ambiente sem rigores do conservadorismo e do proibitivo
se sai muito melhor nessas condições do que nossas escola
impregnadas de falso moralismo, sexismo e machismo.
Serei banal, mas me
parece que quando você elimina a barreira do corpo intocado e
inatingível, pode oferecer mais saúde mental do que essa falsa
moral do corpo vestido. Sinto-me mais respeitoso e menos invasivo
numa área de naturismo do que numa praia ou shopping, onde todos
fingimos que não estamos desnudando todas as pessoas.
E quanto mais
opressor, mais religioso, mais moralista, pode se incorrer em mais
desejo e mais invasão do outro.
Algo que preocupa
Summerhill e a Escuela Paideia e certamente todas as escolas de
liberdade e democrática é como libertar o desejo do crime pelo
desejo escondido.
As meninas em
Summerhill se beijavam e nada havia de estranho ou notável. Nos
escritos dessa escola falam que quando alguém se enamora não
ocorrem achaques, comentários específicos sobre as aproximações,
julgamentos e condenação. Aceita-se a aproximação e isto
estabelecido reduz toda a carga de explicações e de parafernálias
conservadoras, inveja e outros sentimentos, que as vezes percebemos
como carinnho e atenção de nossos próximos, mas que no frigir dos
ovos são controles: Ahhhh! Você está com ela!!! Ahhhh! Vocês
estão namorando!! Como se esse tipo de comentário fosse fazer a
pessoa certificar publicamente que: Sim! Estamos!! E dali para frente
todos são marcados a ferro e brasa!
Nossas lutas pela
educação de/em gênero merece essa barra, pois entendo que designa
um processo, essas manchas de sentires onde a pessoa afetivamente irá
se abrigar. Essa ressalva é por considerar o que alguns dizem que
não nascemos com gênero definido e que parte de nossas identidades
são construídas socialmente, mais do que por individuação
autóctone. Somos o que somos pelo que os outros esperam de nós?
Creio que não é nem tanto para lá nem tanto para cá e
especialistas estariam mais balizados para oferecer direções mais
generosas do que meu pouco estudo permite até então.
Centro-me mais no
fato escolar que os professores, amigos e demais âmbitos societais,
tal como a escola devem preservar-se de comentários sobre as
aproximações. Embora o campo afetivo e a felicidade alheia seja
nosso desejo ou da maioria, esse tipo de acentuação, pequenas
fofocas, comentários e mexericos só no faz incidir em limitar a
liberdade alheia! Deixar as outras pessoas em paz em suas buscas, não
forçar certificações, ajustamentos e respostas aos outros como se
fossem cartórios que chancelam ou não as aproximações.
É importante
declarar que essa intromissão não é prova de ser afetivo, mas de
querer e exigir do outro um posicionamento, nem que seja o de
constrangimento. Antes da questão de gênero, respeito é bom,
gostamos e devemos preservar a intimidade dos outros!
Comentariozinhos não são provas de cuidado, mas de controle
dissimulado, parecendo afeto, mas não é! Não se meta onde não
está sendo chamado!
E por que a
pedagogia anarquista, assembleista, da autonomia do sujeito, em
liberdade ou de felicidade pode se arrogar essa posição? Porque os
processos educativos são prioritariamente de autoconhecimento antes
de acumulação banal de informações! Primeiro ser para depois ter!
Lógica que assusta aos conservadores e pais apavorados que acreditam
primeiro em ter para depois ser!
Em outras palavras, parem de meticulizar a vida alheia!