quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Educação indígena é anarquista!?



Sobre o artigo: Reflexões de uma antropóloga e mãe: 'O que aprendi com índios sobre educação infantil'
Mônica VasconcelosDa BBC Brasil em Londres

Há sempre um desejo de ver no primitivismo alguma sabedoria e há. Este artigo feito a partir da experiência de uma antropóloga que levou seu filho em uma viagem em tribos indígenas pode oferecer algumas reflexões.

A educação indígena nesses locais visitados pode ser considerada constelar? O que eu considero constelar pode ser entendido como holística, orgânica ou comunitária num sentido que não há nenhuma das atividades realizadas pelos adultos que excluam totalmente as crianças ao contrário, são inerentes a elas.

Na Escola Paideia em Mérida (Espanha) onde a pedagogia anarquista é assumida há sempre em pauta que os ambientes não devem amedrontar, que a criança é informada dos riscos, assim, aparelhada para saber até onde irá, sendo todos educados processualmente a não recear os espaços e seus perigos para começar sua auto regulação, os maiores são tutores dos menores e o medo não é propalado.

Colin Ward (1924 –2010) nos seus livros A criança e a cidade (The Child in the City -1978) e A criança e o campo (The Child in the Country -1988) examina todos os espaços de vida das crianças e como elas mediavam, negociavam e rearticulavam os vários ambientes que habitavam. Nesses primeiro livro mais famoso, Ward considera a criatividade das crianças e sua especificidade única e como elas cuidam desses espaços através da arte da dinâmica urbana, argumentando que através de brincadeiras, apropriações e imaginação a criança contrapõe-se às intenções adultas em bases para construir seus próprios ambientes. Na obra “A criança e o Campo” inspirada em cientistas sociais com o geógrafo Chris Filo (1992) chama atenção sobre como as necessidades espaciais das crianças são escondidas e marginalizadas na sociedade.

Ward, Paideia e se recuarmos ao Emílio de Rousseau, ambos falam de uma necessidade, disponibilidade ou intencionalidade dessas crianças percorrerem os espaços, conhecerem seus perigos, mas não o amedrontamento, há até os teóricos da cidade educativa em qual as crianças não se localizam numa escola, mas todos os ambientes são salas de aula.

Essas crianças que pulam no rio e são capazes de virar um barco, salvar outras e participarem da caça, das festas, das ações em que estão envolvidas pode ser uma reflexão. Nesse mundo complexo de casas distantes de escolas, muitos obstáculos e imposições do mundo adulto, uma criança não está com o pai fazendo um projeto de arquitetura nem com a mãe médica ou gari formal. A criança que mais se adequa à lógica da cidade são as moradoras ou em situação de rua, algumas rurais pequenas. Nas grandes cidades esse viver é resolvido pelos ricos em condomínios fechados.
Seja como for, está posta a reflexão!


Os passos para isso são longos....são dados quando se começar a perceber que em uma sociedade moderna estamos apartando a infância da vida e em querendo melhorar a relação, irmandade, senso de coletividade e criar uma cidade acolhedora depende de refletir em que isso melhora nossa humanidade.