Sobre o
artigo: Reflexões de uma antropóloga e mãe: 'O que aprendi com índios sobre
educação infantil'
Mônica VasconcelosDa BBC Brasil em Londres
Há
sempre um desejo de ver no primitivismo alguma sabedoria e há. Este artigo feito
a partir da experiência de uma antropóloga que levou seu filho em uma viagem em
tribos indígenas pode oferecer algumas reflexões.
A
educação indígena nesses locais visitados pode ser considerada constelar? O que
eu considero constelar pode ser entendido como holística, orgânica ou
comunitária num sentido que não há nenhuma das atividades realizadas pelos
adultos que excluam totalmente as crianças ao contrário, são inerentes a elas.
Na
Escola Paideia em Mérida (Espanha) onde a pedagogia anarquista é assumida há
sempre em pauta que os ambientes não devem amedrontar, que a criança é
informada dos riscos, assim, aparelhada para saber até onde irá, sendo todos
educados processualmente a não recear os espaços e seus perigos para começar
sua auto regulação, os maiores são tutores dos menores e o medo não é
propalado.
Colin Ward (1924 –2010)
nos seus livros A criança e a cidade (The Child in the City -1978) e A
criança e o campo (The Child in the Country -1988) examina todos os espaços de vida das crianças e
como elas mediavam, negociavam e rearticulavam os vários ambientes que
habitavam. Nesses primeiro livro mais famoso, Ward considera a criatividade das
crianças e sua especificidade única e como elas cuidam desses espaços através
da arte da dinâmica urbana, argumentando que através de brincadeiras,
apropriações e imaginação a criança contrapõe-se às intenções adultas em bases para
construir seus próprios ambientes. Na obra “A criança e o Campo” inspirada em
cientistas sociais com o geógrafo Chris Filo (1992) chama atenção sobre como as
necessidades espaciais das crianças são escondidas e marginalizadas na
sociedade.
Ward,
Paideia e se recuarmos ao Emílio de Rousseau, ambos falam de uma necessidade,
disponibilidade ou intencionalidade dessas crianças percorrerem os espaços,
conhecerem seus perigos, mas não o amedrontamento, há até os teóricos da cidade
educativa em qual as crianças não se localizam numa escola, mas todos os
ambientes são salas de aula.
Essas
crianças que pulam no rio e são capazes de virar um barco, salvar outras e
participarem da caça, das festas, das ações em que estão envolvidas pode ser
uma reflexão. Nesse mundo complexo de casas distantes de escolas, muitos
obstáculos e imposições do mundo adulto, uma criança não está com o pai fazendo
um projeto de arquitetura nem com a mãe médica ou gari formal. A criança que
mais se adequa à lógica da cidade são as moradoras ou em situação de rua,
algumas rurais pequenas. Nas grandes cidades esse viver é resolvido pelos ricos
em condomínios fechados.
Seja
como for, está posta a reflexão!
Os
passos para isso são longos....são dados quando se começar a perceber que em
uma sociedade moderna estamos apartando a infância da vida e em querendo
melhorar a relação, irmandade, senso de coletividade e criar uma cidade
acolhedora depende de refletir em que isso melhora nossa humanidade.