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Se todos caminhamos na mesma direção, como saberemos se há outra?? |
Porque a Geografia Crítica deve se tornar anarquista!
Why A Radical Geography Must Be Anarchist
Simon Springer
Department of Geography,
University of Victoria
simonspringer@gmail.com
OBS: Encontrei esse
texto completo por acaso. Faz algum tempo que me intriga a falta de
geógrafos brasileiros que assumem o anarquismo como pressuposto. Depois de contactar prof. Simon Springer verifiquei ser interessante divulgar esse artigo de fácil acesso na internet. Há
entre os estudiosos aqueles que lançam mão de ideias profundamente
anarquistas, mas evitam se auto rotular. Simon Springer parece ser o
mais ousado em forçar a barra com marxistas, autonomistas e
geógrafos críticospara dizer que há um campo vasto no anarquismo que os
abrigaria com maior vitalidade. Aqui eu incluo o resumo e a conclusão
do artigo numa tradução repleta de precariedades, mas que sei que
essas palavras ainda que mal compreendidas por mim e por isso
ladronas de sentido, poderão alimentar em estudantes o desejo de
estudarem e avaliarem suas práxis. Com essas ressalvas vou
dando prosseguimento para entender por qual razão o anarquismo
epistemologicamente é rejeitado na geografia ou meramente e
pitorescamente utilizado como birra ou por serem engraçados tais
pressupostos.
Mal traduzido por mau: Antonio Sobreira
Resumo:
Geógrafos radicais têm se
preocupado com o marxismo por quatro décadas, em grande parte,
ignorando uma tradição anarquista anteriormente que prosperou
um século antes de a geografia radical ter se reivindicado como
marxista na década de 1970. Enquanto o anarquismo foi considerado e
utilizado como sinônimo de violência ou ridicularizado como um
projeto meramente utópico. No entanto, é incorreto assumir
anarquismo como um projeto, ao contrário do que reflete o pensamento
marxista. O anarquismo é mais apropriadamente considerado um
processo multifacetado que perpetuamente se desenrola através das
geografias insurrecionais do cotidiano e da política prefigurativa
de ação direta, ajuda mútua, e associação voluntária.Ao
contrário de estágios históricos do marxismo e imperativo
revolucionário, o que implica um estado final, o anarquismo aprecia
o dinamismo do mundo social. Ao reclamar um direito anarquista em
renovar a geografia radical, parte se do fato que as divisões entre
o marxismo e o anarquismo são como dois socialismos alternativos, em
que a igualdade de posições anteriores, no primeiro torna-se um
flerte permanente com autoritarismo, enquanto o último se maximiza
igualitarismo e a liberdade individual, considerando-os como
mutuamente complementares.
A maior descoberta da nossa
geração é a de que
os seres humanos podem através de seus pensamentos alterar suas
atitudes. Como você pensa, tal
você será. - William James (citado em Johnson e Boynton 2010: 19)
Se você construiu castelos no
ar, seu trabalho não está perdido; estão onde deveriam. Agora
coloque as fundações sob eles. - Henry David Thoreau (1854/2004:
248)
Geógrafos
Radicais fariam bem em retomar o anarquismo por sua uma vitalidade e
filosofia que está faltando nas análises marxistas, que continuam a
alimentar ideias-como vanguardismo e a ditadura proletária já
de longa data.
Talvez, devido a textos como
A Crítica da Vida Cotidiana (Lefebvre 1958/2008), que tiveram
profunda influência sobre os situacionistas, Edward W. Soja
perguntou certa vez a Henri Lefebvre se ele era um anarquista. "Não!
Não agora!", respondeu ele, e quando perguntado sobre o que ele
era naquele momento, Lefebvre respondeu: "Um marxista, é claro
... de modo que nós podemos nos tornar anarquistas em algum tempo no
futuro "(citado por Soja, 1996: 33).
Assim, apesar do grande impacto que teve sobre a maior trajetória
marxista autonomista, a resposta de Lefebvre exemplifica a política
de espera que significa o marxismo tradicional. É uma atitude que
reside no corpo em decomposição do vanguardismo e sustentar apenas
o fruto murcho de uma ideia que tem sido, em numerosos ocasiões,
comprovada completamente podre. A vanguarda é uma cifra para uma
nova ditadura, um ardil que de tão poderoso cega os seus próprios
defensores.
"Nosso vanguardismo será diferente ", eles dizem a si
mesmos: 'Vamos fazer as coisas direito, desta vez, não somos como o
Bolcheviques ou o Khmer Vermelho, e o eventual desaparecimento da
nossa temporária autoridade será assegurado. Mas o problema não se
localiza tanto na sinceridade ou na falta desse sentimento; o
problema repousa na ideia em si. O
marxismo não aceita a
ideia de que nós
não podemos
libertar um ao outro, só podemos nos libertar, e por isso coloca sua
fé em um proletariado liderada por uma vanguarda que reproduz
inevitavelmente aquilo que era contra. Faz isso precisamente porque
emprega a mesma metodologia distorcida do opressor, colhendo o que
semeou através de sua dependência de autoridade. Stirner (apud
Kalyvas 2010: 351), reconheceu a insensatez de um agente externo
sendo responsável por libertação individual quando ele sugeriu:
"Quem deseja
a liberdade deve tentar
se tornar livre.
Liberdade não é um presente de fadas que cairá no colo de
um homem [sic] ".
Assim, até que chegue o dia em que se possa encontrar
individualmente a coragem de livrar a imaginação das prisões do
vanguardismo e da hierarquia, o espectro do autoritarismo continuará
a assombrar nossas organizações políticas e as relações sociais,
infectando-as com sua violência. Nossa
atuação, literalmente,
constrói
o mundo (Butler 1997). Os papéis que desempenhamos
e os roteiros
que seguimos definem
os parâmetros de possibilidades.
Mas quando nos aventuramos para o reino da improvisação, o
marxismo tradicional recua com o mesmo sentimento de horror que o do
capitalismo. Há uma ordem racional que deve ser seguida em ambas as
ideologias, e aqueles que se recusam jogar pelas regras do jogo por
ativamente rir na cara de autoridade são evitados por sua bravura,
ou pior, silenciado através do ridículo, a prisão, ou mais
hediondo de tudo, a execução.
A Geografia Crítica contemporânea precisa de estímulos corajosos,
precisamente porque ela permanece indiferente, cética, e até mesmo
hostil para com as não-convencionais imaginações geográficas que
estão fora de uma análise marxista tradicional. Consequentemente
anarquismo, como uma alternativa ao socialismo marxista, permanece
praticamente ignorada pelos geógrafos humanos contemporâneos.
Quando o anarquismo é considerado ou é utilizado como sinônimo de
violência e caos ou ridicularizado como um projeto irremediavelmente
utópico, isso o faz ostensivamente incompatível com a "realidade"
ou qualquer aplicação prática. No
entanto, é incorreto assumir o anarquismo como um projeto, já
que isso
reflete o domínio do
pensamento marxista.
O anarquismo, como tentei demonstrar, é mais
apropriadamente considerado um processo em
contínuo desdobramento, um meio sempre
mutável sem fim
que é perpetuamente prefigurado por meio da
ação direta, ajuda mútua, adesão
voluntária e auto-organização. Ao contrário de estágios do
marxismo da história e seu imperativo revolucionário, que implica
uma política de estado final, o anarquismo é uma filosofia política
que valoriza plenamente a dinamismo essencial do mundo social.
Como tal, o que explica a
passagem da atual
condição de miasma neoliberal para um futuro emancipado é o
problema do pensamento
utópico,
não o de um "anarquismo
sem fim” que descrevo
sendo o que
abandona qualquer pretexto de alcançar uma sociedade completamente
livre e harmoniosa no futuro, mas
que ao em vez disso se
concentra em mediações de práxis anarquistas e de
uma política prefigurativa
de ação direta no
presente.
A história tem demonstrado
claramente que a revolução apenas introduz novas formas da tirania
e, consequentemente, eu defendo uma distinção entre insurreição
permanente, que apoio e me afasto do preceito da revolução
final. Isso não é argumentar que os sonhos de um futuro melhor são
um componente insignificante do pensamento anarquista, como de fato a
política prefigurativo abraça a noção de um mundo alternativo
melhorado. Em vez disso, eu quero sugerir que o anarquismo, como um
processo e não um projeto, é capaz de conceber a utopia em termos
que permitam a revisão perpétua através de sua atenção para
prefiguração e o fato de que nós sempre e apenas viveremos nossas
vidas no aqui e agora. Pode-se dizer que o meu argumento apresenta
uma versão antiga do marxismo, e certamente é a variante
tradicional do marxismo que é o foco da minha crítica, mas diante
de Todas as revisões 'pós' que ainda estão sendo feitas, por que
não fazer uma pausa e refletir sobre como esta o número de artigos
recentes de geografia humana que assumem acriticamente anarquismo
para afirmar que ele equivale à violência, caos e desordem, o que
é desanimador.
Para uma pequena amostra
i,
a partir da última década atividade de adesão em apêndices e
alterações que muitas vezes simplesmente traz o marxismo mais perto
ao anarquismo, e seria este o caso com os autonomistas? Além disso,
o que a história nos ensinou sobre a implementação das ideias
marxistas em larga escala? "A tentativa de resgatar a Marxismo
de pedigree, enfatizando o método sobre o sistema ou pela adição
de 'neo' a um palavra sagrada ", Bookchin (1986/2004: 112)
escreveu:" é pura
mistificação se todo
sistema de conclusões
práticas contradizerem
categoricamente esses esforços". E, no entanto este
é o
local exato onde a
investigação geográfica marxista se encontra hoje.
Os escritos de Marx sobre relações de commodities, alienação, e
em particular a acumulação de capital ainda são exegeses
brilhantes que inspiram um grande número de geógrafos radicais,
inclusive eu. Não há dúvida de que o marxismo oferece uma
interpretação luminosa do passado, mas o que ele tem para oferecer
ao presente e ao futuro é enganador, dadas as políticas de
identidade fragmentada que existem em nosso mundo contemporâneo,
onde a noção de um proletariado universal é pura ilusão.
Protestos anticapitalistas e antibelicistas tornaram-se cada vez
mais difusos nos recente anos, onde as afinidades e solidariedades
que são indicativos de partida para o surgimento de novas formas de
política emancipatória, rompem com a tradicional categoria de
classe do marxismo da (Newman 2007). Enquanto a academia se apega ao
marxismo, ele perdeu seu apelo na rua, após ter sido ofuscado dentro
de momevimentos sociais contemporâneos, que são agora largamente
inspirados nos princípios anarquistas de associação voluntária,
igualitarismo, ação direta e democracia radical (Epstein, 2001). E
geógrafos ainda radicais continuam a agarrar-se o marxismo, devido
talvez a uma profunda afinidade dentro da academia que anarquismo
nunca poderia reclamar.
Graeber (2007: 303) comenta que esta circunstância é um reflexo do
espírito de vanguarda da própria academia, onde o marxismo era,
afinal, inventado por um PhD, enquanto o anarquismo nunca foi
realmente inventado por alguém como "nós somos de falar menos
sobre um corpo de teoria do que de uma atitude". Não tenho
grandes dúvidas com autonomistas marxistas, além do que é
aparentemente um falta de coragem para simplesmente chamar sua ideias
anarquistas, já que estas tem sido as mais autônomas no domínio
socialista é o que tenho pensado esse tempo todo. No entanto, esse
medo é algo compreensível, dado que a maioria dos acadêmicos
continuam a não ter a menor ideia do que é o anarquismo.
Há centenas de geógrafos marxistas acadêmicos de várias formas,
listras, tamanhos e tonalidades, mas quase ninguém está disposto a
chamar-se abertamente um anarquista por medo do ridículo. O
anarquismo é, mesmo dentro da academia, continuamente, desmentido
pelo mais grosseiros estereótipos, onde a sua simples menção
invoca uma imagem acrítica e reacionária de desordem e violência.
Entre uma multidão de intelectuais que se
orgulham dar
atenção a detalhe
isso é cansativo, e já era evidentemente cansativo mais de um
século atrás, quando Reclus (1884: 627) escreveu: Oradores sobre
temas sociais e políticos acham que o abuso de anarquistas é uma
passaporte infalível para o favor público. Cada crime concebível é
colocado para em nosso encargo, e opinião, demasiada indolente para
saber a verdade, é facilmente convencível de que a anarquia é
apenas outro modo de nomear a maldade e o caos. Oprimido
com opróbrio se
levantou com ódio, somos tratados pelo princípio de que a forma
mais segura de enforcar um cão é dar-lhe um mau nome.
Geógrafos radicais pode fazer melhor. É mais do que tempo para
coletivamente olhar novamente para o que nós pensamos e sabemos
sobre o anarquismo para começar a explorar a horizontalidade,
rizomática organização e descentralização do poder que o
anarquismo oferece para que pudéssemos aí adquirir uma maior
valorização para o que já está acontecendo ao nosso redor a
partir de as ruas do Cairo para as demais comunidades em bloco. As
geografias de ação direta, ajuda mútua e política prefigurativa
exigem nossa atenção precisamente porque estamos olhando-as no
rosto diariamente, mas quase sem reconhecê-las para que servem.
Toda vez que você tem convidado amigos para o jantar, cortou o
gramado do vizinho, pulou um dia de trabalho, cuidava filhos de seu
irmão, questionou o Professor, cedeu tua vez no trânsito
desconsiderando a sinalização, ou retornou um favor, você, talvez
inconscientemente, está envolvido em princípios anarquistas.
Infelizmente velhos hábitos custam a desaparecer, e em seu último
livro Harvey (2012b: 69) despreza o que ele chama de 'ingênuo' e
'gesticular esperança' de pensar descentralizadamente, amentando a
forma como o termo "hierarquia" é "virulentamente
impopular com grande parte da esquerda estes dias".
Em ondas de mensagens altas e claras: como se atrevem anarquistas (e
autonomistas) tentarem conceber algo diferente e novo, quando
deveríamos estar pisando sobre as águas no mar de ideias gastas de
ontem.
Em sua assertiva, o que Harvey (2012b: 80), talvez não reconheça é
que ele não está apenas negando "alguma concordância mágica";
ele também nega as próprias possibilidades de espaço, com suas
histórias indeterminadas tão longe e retrocedendo continuamente
horizonte (Massey 2005), as possibilidades que uma vez ele argumentou
de forma apaixonadamente em favor (Harvey, 2000).
Lefebvre (1991) demonstrou
como as
nossas
produções sobre o
espaço refletem
diretamente de nossas
visualizações, e que todas
as materializações e
administrações do
espaço que pdoemos
adquirir não pode ser
separada da maneira como pensamos sobre geografia, precisamente
porque o pensamento produz ação.
Para anarquistas, "não há diferença entre o que fazemos e o
que pensamos, mas há uma contínua inversão da teoria em ação e
ação em teoria "(Bonanno, 1996: 2). Como nós pensamos, como
agimos, como se escreve, isso define o que somos para descrever a
terra com a caneta de nossas esperanças e sonhos e não apenas para
esboçar uma ilustração sem materialidade. É
nossa constituição
refratária contra o
mundo em que vivemos que
nos transforma nossa
personalidade.
É por isso que a geografia radical deve ser anarquista, pois em sua
anarquia não vem caos e destruição, nem hierarquia e vanguardismo,
nem alienação e exploração, mas novas geografias de organização,
a solidariedade, a comunidade, a afinidade e oportunidade.
Esta é uma "magia" que eu tenho que acreditar, porque ao
recusar o seu encanto alimento a pira funerária da política
emancipatória e cedemos à insanidade do governo. "Anarquismo
não é uma fábula romântica", disse Edward Abbey (1989: 22),
"mas o realização teimosa, baseada em cinco mil anos de
experiência, de que não podemos confiar a gestão de nossas vidas
aos reis, sacerdotes, políticos, generais, e ao conselho de
comissários ". E assim eu sou um anarquista, é claro, de modo
que, aqui e agora, outra mundo torna-se possível. Os fundamentos
estão ai postos.
i
V
er Watts 2004: 209; Dahlman e Ó Tuathail 2005:
578; Herodes e Aguiar 2006: 430; Johnston 2006: 287; Hooper 2008:
2563; Wilford 2008: 653; Byrne e Wolch 2009: 746; Hastings 2009:
214; Raeymaekers 2009: 57; dez Bos 2009: 85; Shirlow e Dowler 2010:
389; Mohaghegh e Golestaneh 2011: 490; Hagman e Korf 2012: 207; Lim
2012: 1352; Malm e Esmailian 2013: 486.