Palhaço Voador –
Gabriel Mungo
Tese anarquista faz
mais sentido!
Os que conhecem a
história do circo contemporâneo conhecem o Circo Navegador de
Luciano Draeta, mas eu conheço uma palhaço aviador. Brinco hoje com a história do jovem palhaço
Beterraba, Gabriel Mungo membro do Circo Rosa dos Ventos do qual fiz
parte por quase 4 anos.
Logo após defender
a tese em Geografia eu fiz uma opção gradativa para o mundo das
artes circenses. Contava-se de Gabriel que ele desejava ser palhaço
desde cedo e no dia que viu os palhaços do Rosa dos Ventos ele
grudou e não largou mais. Aos 13 anos já atuava e com força e
talento.
A escola que ele
frequentava o admirava , mas aos poucos a vida da
estrada foi lhe roubando das aulas e por sua seriedade e gentileza foi
se permitindo ele ir para essa vida. De algum modo, a escola o amava,
mas ele não se dedicava.
Concluiu o ensino
médio e já era profissional premiado e reconhecido. Na administração
do grupo fazia parte da contabilidade, de envio de documentos. Era um
profissional em cena e fora dela.
Eu falava para ele
não se preocupar com a universidade, pois o que adiantava fazer um
curso só pelo diploma. Eu tinha saído de um processo forte da tese
anarquista que ninguém deve ser forçado a aprender nada. O que
chamam de não-diretivismo.
Um dia Gabriel
começou a manifestar outros interesses. Um desses interesse era em
voar. Ser piloto de avião. Para mim uma novidade já que ele decidiu
ser palhaço muito cedo, muito dedicado e empenhado.
Eu não via
confusão nisso, afinal, o palhaço Madureira saiu do mesmo grupo e
se tornou bombeiro em Sta Catarina. E não era estranho. Aliás, nada
na formação humana pode ser considerado estranho.
Só que já
distante de Gabriel eu fui sabendo por ele e sua esposa Isabel que
ele levou à frente o sonho de ser piloto. Começou com aulas Presidente Prudente e depois teve que ter aulas avançadas e saiu da
sua cidade natal, também saiu do grupo de circo, casou-se tornou-se
pai.
Um dia Isabel
disse-me que não sabia que Gabriel era tão dedicado aos estudos.
Ele que um dia na estrada começou a me perguntar sobre fordismo,
socialismo e outros assuntos que se aprende no ensino médio, estava
naquele momento estudando para ser aviador.
Eu sempre
conversava com Gabriel nunca desconfiei da inteligência dele, mas
jamais eu pensaria que tão rapidamente ele ia confirmar o que eu
escrevi na tese e que retirei dos teóricos da Educação Anarquista:
Uma pessoa só aprende quando decide aprender!
Gabriel é hoje um
aviador iniciante...com o "abrevê" como chacoteavamos uns aos outros.
Esta é a regra de todos nós.
Não adianta
frequentar escolas, cursos, formações se a coisa não surge de
dentro. Sabemos que todos tem isso. Que um dia decidem e quando decidem, aprendem e lutam para aprender.
Hoje volto a ser professor e noto em minhas classes uma enorme esperança de que eu ou outros professores façamos essas pessoas serem professores.
Um dia, quem sabe....se decidirem!!!???