segunda-feira, 17 de março de 2014

Anarquista o caralho! Conheçam Rosângela Rosa e o programa do leite!


Em 1993, quando cheguei a primeira vez em João Pessoa-PB conheci uma mulher. Estava na ante sala da presidência de órgão do governo do estado. Rosângela é assistente social e foi conversar comigo, pois íamos trabalhar juntos. 


Chegou aquela moça de pele dourada, um batom vermelho sem igual e de olhos verdes brilhantes. Foi o início de uma grande amizade e cumplicidade em muitos trabalhos de empreendimentos sociais e produtivos com indígenas, camponeses e associações de trabalhadores por vários lugares da Paraíba.



Rosângela tem cinco filhos e é casada com Djalma, que é um mestre obras até hoje, embora tenha começado a trabalhar aos 14 anos de idade. Hoje Rosângela é avó. Uma mulher linda, integra e que sempre esteve ao lado das pessoas, mas que sempre exigiu delas reações.



Tenho muitas histórias dela. Uma sempre me acompanhou: trata-se de um trabalho que ela participou de entrega de leite para mães pobres. No início desse programa criado por Sarney, todas as crianças até 10 anos recebia uma quantidade. Durante anos sucessivos esse limite de idade foi caindo e criado outras exigências.



Na década de 1990 já era a idade de 3 anos e até um certo peso médio que tinha-se o direito a esse leite e um litro de óleo de soja. Se a criança atingisse o peso, sairia do programa. 



Rosângela me contou que um dia uma mãe se assustou. O filho tinha atingido a recuperação da desnutrição e do peso. Ela disse a essa mãe que não poderia mais receber esse leite.



A mãe perguntou quanto o filho teria que perder de peso para voltar a receber o leite. Após algum tempo essa mãe retorna com o filho abaixo do peso estipulado e voltou integrar o programa.



Essa mãe tinha mais dois filhos e aquele leite que era para apenas um servia para os três. Era a fonte de alimento para uma mãe pré-fome zero.



Encontrei Rosângela recentemente e retomei essa história. Ela confirmou tudo, lembrava-se dessa mãe. Ela e o pai faleceram de tuberculose e um desses filhos se tornou um bandido perigoso que parece ter matado uns tantos e fatalmente acabou sendo morto.



Dos outros filhos não falamos. Se o programa do leite alimentou pessoas que seria boas ou más não sabemos.



Como lidar com tanta miséria nesse pais? Como participar de políticas de Estado e nos mantermos íntegros.



Para mim, educação é igual a esse leite. Embora inspirados nos melhores valores e direitos, a melhor ou pior educação não é em si um gerador de conduta social construtiva.



A educação, tal como esse leite é um direito. Nãõ estou falando dessas escolinha boas que de tempos em tempos ganham prêmios e viram ícones de força de vontade e amor!



E Rosângela? Nesses anos ela não mudou nada fisicamente. Menos ingenua, menos encantada com as ideologias e políticas, continua a trabalhar no posto de saúde da prefeitura, no Estado e mantendo a integridade.



Tem até um irmão no alto escalão do Governo, mas isso não a fez mudar, mas se sentir mais imprensada pelas auto exigências.



Para um anarquista, servir ao Estado é algo contraditório, manter-se integro nesse ambiente, mais difícil ainda. 



Rosângela, não arredou o pé dos direitos a serem efetivados, não vergou..estava dançando chorinho no Projeto Sabadinho Bom em João Pessoa com Djalma, com aquele sorriso vermelho e olho de criança. Incredulamente crente se deu o direito de dançar!



Anarquista o Caralho!



Depois conto a história do trator no meio do canavial que Rosângela consegui para nos tirar de uma atoleiro num trabalho de demarcação de terras indígenas na Baia da Traição!