segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Fábio Nogueira e o açougueiro ou o mistério da invisível economia da cultura


Fábio Nogueira e o açougueiro ou o mistério da invisível economia da cultura


No final da década de 2010 ouvi de um amigo que o Secretário de Cultura de Presidente Prudente perguntado sobre investimento em cultura respondeu: O que faria o poder público achar que um artista merecer mais que um açougueiro!?

De fato, se você perguntar a alguém por qual razão um artista merece investimentos públicos que um açougueiro também mereceria alcançaria algumas pessoas que não resistem a dois segundo de explicação.

Na época achei apenas uma frase absurda que entrou no anedotário de um gestor cultural que permaneceu 28 anos no cargo de Secretário de Cultura mas desconhecia a economia da cultura.

Em 2014 cheguei na Paraíba e vi o Secretário de Cultura da época Chico Cesar dizer que nas ações de orçamento participativo do estado da Paraíba a prioridade cultura era colocada ou para ser específico em 8 anos de gestão as lideranças locais colocaram em 3o lugar em Sousa e não avançou significativamente além da menção da palavra.

Nos dois casos o que não conseguimos dizer é que o investimento em contratação de artistas, arte-educadores, animadores sociais e produtores privados e do terceiro setor são capazes de criar uma cadeia produtiva complexa.

Há estudos da FGV e do IPEA que demonstram que R$1,00 investido retorna para a economia em R$1,59. Além do que tudo que se contrata ou gasta paga INSS, ISS e ICMS. Só que a economia da cultura é imbrincada na rede hoteleira, transporte, consumo de combustível e na compra de insumos e equipamentos.

Assim, num edital de fomento à cultura de 200 mil reais em uma cidade, se for feito um estudo apurado haverá uma competência de dizer que gerou uma dinâmica de 300 mil reais. Por trás dessa estimativa média, significa que a cultura é um segmento que gera atividade, trabalho e consumo tão ou mais significativo que uma indústria.

Alguém seria capaz de interditar o carnaval da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro ou os Bois de Parintins!? Seria possível eliminar a compra de vestuários e alimentos dos festejos de São João?

Não cabe o poder público dizer que um açougueiro é tão digno quanto uma artista para receber algum fomento. No final das contas o açougueiro, padeiro, quitandeiro terão sempre suas vendas acrescidas nos períodos festivos e nos circuitos culturais criados.

Nenhuma cidade que tenha consolidado algum bem cultural local seria capaz de abrir mão disso. Seja o São João de Caruaru ou qualquer outro.

No entanto, seguem os municípios e gestores em dúvida se deve apoiar açougueiros ou o mercado da cultura.