Fábio
Nogueira e o açougueiro ou o mistério da invisível economia da
cultura
No final da década
de 2010 ouvi de um amigo que o Secretário de Cultura de Presidente
Prudente perguntado sobre investimento em cultura respondeu: O que
faria o poder público achar que um artista merecer mais que um
açougueiro!?
De fato, se você
perguntar a alguém por qual razão um artista merece investimentos
públicos que um açougueiro também mereceria alcançaria algumas
pessoas que não resistem a dois segundo de explicação.
Na época achei
apenas uma frase absurda que entrou no anedotário de um gestor
cultural que permaneceu 28 anos no cargo de Secretário de Cultura
mas desconhecia a economia da cultura.
Em 2014 cheguei na
Paraíba e vi o Secretário de Cultura da época Chico Cesar dizer
que nas ações de orçamento participativo do estado da Paraíba a
prioridade cultura era colocada ou para ser específico em 8 anos de
gestão as lideranças locais colocaram em 3o lugar em
Sousa e não avançou significativamente além da menção da
palavra.
Nos dois casos o
que não conseguimos dizer é que o investimento em contratação de
artistas, arte-educadores, animadores sociais e produtores privados e
do terceiro setor são capazes de criar uma cadeia produtiva
complexa.
Há
estudos da FGV e do IPEA que demonstram que R$1,00 investido retorna
para a economia em R$1,59. Além do que tudo que se contrata ou gasta
paga INSS, ISS e ICMS. Só que a economia da cultura é imbrincada na
rede hoteleira, transporte, consumo de combustível e na compra de
insumos e equipamentos.
Assim,
num edital de fomento à cultura de 200 mil reais em uma cidade, se
for feito um estudo apurado haverá uma competência de dizer que
gerou uma dinâmica de 300 mil reais. Por trás dessa estimativa
média, significa que a cultura é um segmento que gera atividade,
trabalho e consumo tão ou mais significativo que uma indústria.
Alguém
seria capaz de interditar o carnaval da Bahia, Pernambuco, Rio de
Janeiro ou os Bois de Parintins!? Seria possível eliminar a compra
de vestuários e alimentos dos festejos de São João?
Não
cabe o poder público dizer que um açougueiro é tão digno quanto
uma artista para receber algum fomento. No final das contas o
açougueiro, padeiro, quitandeiro terão sempre suas vendas
acrescidas nos períodos festivos e nos circuitos culturais criados.
Nenhuma
cidade que tenha consolidado algum bem cultural local seria capaz de
abrir mão disso. Seja o São João de Caruaru ou qualquer outro.
No
entanto, seguem os municípios e gestores em dúvida se deve apoiar
açougueiros ou o mercado da cultura.