quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Reforma ensino médio e golpe na juventude


Logo que a reforma do ensino médio foi exposta ao público eu me assustei com a adesão dos jovens e de pais.

Numa recente pesquisa da Fundação Abramo sobre como pensam os eleitores da periferia de São Paulo há um dado interessantes que algumas décadas não seria assim interpretada: as pessoas da periferia acreditam que através da educação pode ocorrer o progresso.

Em decorrência dos anos de valorização da educação com FHC, Lula e Dilma  generalizou e a ideia de educação como progresso que agora está bem enraizada. Saber qual educação, como e para quem é que ainda é confuso.

Quando leio  a Reforma do Ensino Médio, ela não parece sequer um remendo, mas a ideia que se vende é de adequá-la a ao interesse de futuro dos jovens e de seus pais.

Creio em algumas coisas de senso comum favoreceu aceitarem de bom grado isso, a saber:


  • Na escola se aprende muito pouco do que seria útil e necessário;
  • Na escola se aprendem coisas desnecessárias;
  • A escola não prepara a pessoa para sua carreira;
  • A escola do passado que era boa com seu rigor, cobrança e reprovação.
Essas ideias estão tão arraigadas e tão falsamente justificadas, mas a mídia e reformistas se colocaram muito bem ao comparar nosso sistema educacional com o da Finlândia. O nosso sistema passou de excludente a includente em 20 anos se entendermos o número de matrículas e a população em idade escolar. A classe rica e média é obrigada a seguir um currículo comum regido pelas leis federais, não fosse isso, fariam o que bem queriam.

Não houve respeito ao desejo de reforma que já vinha ocorrendo por entidades e especialistas, lançaram as medidas  com forte ideologia da praticidade e modernidade ao ter como pano de fundo a educação da Finlândia. O fato é que servirá muito bem para a escolas privadas que são mais dinâmicas nas adequações do que as públicas.

Os destinos dessa reforma são incertos, para além das críticas pedagógicas e ideológicas há nesse contexto de golpe a incapacidade de financiamento de adequação das escolas públicas estaduais ao que se pede. Cito algumas desses aspectos:

  • Governos Estaduais em cidades médias não conseguirão realizar a segmentação nas 5 modalidades de formação;
  • As cidades pequenas terão que criar redes para abrigar as 5 modalidades de formação, implicando em transporte e outras difculdades;
  • Jovens do ensino médio noturno perderão suas vagas;
  • Jovens trabalhadores deixarão a escolas por dificuldade da carga de 7 horas diária.
  • Não há recursos nos estados para montar laboratórios, bibliotecas e aulas práticas das 5 modalidades.
Esses são alguns dos eixos que não sendo cuidados e tratados deixarão muitos jovens fora do ensino médio ou fazendo o antigo ensino médio com nome de novo. A precarização das aulas, sua inutilidade e pouco impulso para uma educação superior fará com que os jovens com interesse em seguir cursos universitários recorram a outras estratégias, uma delas ingressar no ensino privado.

Os maiores prejudicados serão os estudantes pobres e de baixa renda que precisam de maior apoio e de maior atenção. A intenção parece ser dizimar os jovens da condição de concorrência às vagas em ensino superior de qualidade e remeter o máximo deles para empregos mal remunerados.



quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A geografia quando não mata ... fere as mulheres!






Considerações ao livro de Colin Ward "The child in the City."


Criança eu me enraivecia com mocinhas de filmes, sempre caindo, errando, deixando se irem qual criancinhas tolas para as mãos dos vilões... atrapalhavam os mocinhos.... desejava que não tivessem filmes com aquelas chatas e tapadas.... se eu fosse representado como entrave... o que eu sentiria!? (autor)

Colin Ward escreveu muitos livros de cunho anarquista sobre o espaço e a educação. Uma de suas obras importante para visitarmos é “The child in the City” "A criança na cidade". Os geógrafos são sempre acometidos de grandes temas, nem sempre a educação ocupa esse panteão. Não, não são os geógrafos mais machistas que os demais cientistas. Nem as ciências moles são menos que a duras.

Eu sempre procuro entender por que a educação espacial das mulheres também é um componente da formação machista, junto com a divisão social do trabalho e até a obliteração da descoberta esqueleto motora dos bebês (Emmi Pikler 1902-1984)[i] com maior prejuízo para as meninas que se juntam ao rol do currículo social prematuro do lugar que a mulher é empurrada estar.

Ward foi mais longe num dos capítulos de seu livro “The girl in the background” que prefiro traduzir  como “A menina em segundo plano” e discorre como as meninas, as jovens e as mulheres estão em segundo plano e são vitimas de um silêncio em tudo a que se refere a educação, uso do espaço, literatura, rituais de autodescoberta e que tais silêncios só são quebrados na cabeça masculina quando as mulheres sem encontram em problemas.

O autor reitera que quando se pensa em cidade é comum a invisibilidade das mulheres, isso, mesmo sendo um escrito antigo e de outra sociedade pode ser percebido ainda hoje no Brasil, ou seja, persiste! Ward extrai um discurso de Eileen Byrne[ii] da Comissão Britânica de Igualdade de Oportunidades proferido no início da década de 1980, aqui traduzido:

Eu sou céptica quando chegam com esse discurso das aclamadas diferenças inatas entre meninos e meninas. Eu creio que 98% disso decorre do condicionamento social. Talvez eu esteja enganada, mas muito dessas diferenças de suas destrezas verbais e espaciais advém do fato que seus professores reforçam isso. (WARD, 1978, 1990, p. 131).

               Ward segue dizendo que muito da educação dos garotos para explorarem a extensão espacial seria de bom senso oferecer às garotas e também acabar com essa coisa de jogos de meninos (físicos e amplos) e de meninas (contemplativos e meticulosos). E de certo modo a preocupação apontada não é com a qualidade de aprendizado espacial, mas muito mais a que se refere à quantidade dessas experiências espaciais para as meninas.

               Na época desses escritos Ward também se preocupava com crianças que vinham de outras culturas e que as restrições religiosas e culturais eram severamente impostas às meninas na exploração e experiências espaciais que iam muito além das observadas com as nativas da Inglaterra. Hoje estaríamos deparando com problemas da escola sem partido e contra a educação de igualdade de gêneros quais refutam ações com meninas e meninos segundo suas religiões.

                Outros dados trazidos por Ward afirmam que as meninas e meninos entre 8 e 11 anos já trabalham em atividades domesticas numa proporção de 8 minutos para elas e 5 para eles, ou seja 3 minutos a mais para elas e quanto mais avança a idade maior é o tempo gasto por elas em trabalhos domésticos do que para os meninos. Por fim, as mulheres adultas se constrangem nas ruas por uma reminiscência de seu passado infantil de cerceamentos de exercer sua territorialização. E podemos adicionar para o Brasil escravocrata e machista que agudizam a desterritorialização da mulher que não somente tem restrições espaciais como de tempo. A mulher não pode estar onde quer, como quer, quando quer sem se precaver das ameaças concretas à sua liberdade e integridade emocional, moral e física.

                Na Inglaterra há algumas restrições a cercear as mulheres em locais públicos sendo passível de processo e penalidades o ato de “to scare someone” à grossa tradução seria: “fuzilar com os olhos uma mulher” ou “criar desconforto pelo olhar fixo”.

                Na escola, no trabalho, nas ruas, nos locais de frequência social pública ou privada a mulher tem a castração espacial e sua desterritorialização sistematicamente empurrada ou determinando como e o que ela deve fazer, mas não o que ela deseja.

Se vc mulher estiver numa rua deserta e vc ouvir passos vindos de trás, vc prefere que seja um homem ou o diabo?
               
  Triste saber que a resposta é óbvia!

                Claro que esses saberes as mulheres já os possuem de longa data, por serem vítimas constantes. Há feminismos diversos que tentam dar conta dessas imposições e nos últimos tempos está bem longe sentir-me o mais habilitado e legitimado a tratar dessas coisas. Poderia estender a espacialidade castradora dos negros, outras minorias, suas exclusões e desterritorializações, mas creio que é na misoginia espacial que muitas questões podem começar e provocar a dessexualização do espaço que tem muito mais a contribuir com a luta por dignidade e respeito às mulheres que se imagina.

        A cidade para Ward é inadequada para as crianças aprenderem, é hostil, limitante e sem adaptação e que uma cidade educativa deve ter alto teor de acessibilidade, mas ele nos traz para uma realidade brutal no que tange às meninas que precisam de estímulos concretos que favoreçam isso na construção dessa urbanidade ruralidade também anti-sexista!

           Em sua conclusão, Ward não acredita que a educação para a igualdade em si é um avanço para as mulheres, pois muitas veze o que prevalece é uma paridade na agressividade que as meninas adquirem com os meninos. Sendo o triunfo da agressividade masculina e não a liberdade das mulheres. Completa que a liberdade  das mulheres da passividade e da docilidade implicaria em também na liberação dos meninos da pressão de ser um predador.

        Ultimamente, para não ser confundido com o diabo... o que devemos fazer e nos auto-desterritorializar e respeitar a zona de segurança e trânsito das mulheres.
                
Queridos amigos homens... mudem de calçada!





[i] Emmi Pikler (1902-1984) cujo seus alertas preconizam que  o adulto tem a tarefa de criar uma relação de confiança e interação com o bebê durante os principais cuidados (banho, troca de fraldas, alimentação). Outra inquietação é que o espaço deverá ser  organizado para que o bebê possa se movimentar com mais liberdade desde muito cedo, defendendo isso proporcionar maior autonomia (a criança conquista cada posição por si mesma na medida em que é capaz de manter sua postura) e melhor desenvolvimento motor.

[ii] Professora de Educação (estudos Políticos) da Universidade de Queensland, Austrália. Foi Deputada Chefe do da Educação da Inglaterra e primeira Responsável pelo Escritório da Comissão de Igualdade de Oportunidades Britânico  e por três anos consultora da UNESCO sobre igualdade entre sexos  e treinamento  educação vocacional de de jovens.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Educação indígena é anarquista!?



Sobre o artigo: Reflexões de uma antropóloga e mãe: 'O que aprendi com índios sobre educação infantil'
Mônica VasconcelosDa BBC Brasil em Londres

Há sempre um desejo de ver no primitivismo alguma sabedoria e há. Este artigo feito a partir da experiência de uma antropóloga que levou seu filho em uma viagem em tribos indígenas pode oferecer algumas reflexões.

A educação indígena nesses locais visitados pode ser considerada constelar? O que eu considero constelar pode ser entendido como holística, orgânica ou comunitária num sentido que não há nenhuma das atividades realizadas pelos adultos que excluam totalmente as crianças ao contrário, são inerentes a elas.

Na Escola Paideia em Mérida (Espanha) onde a pedagogia anarquista é assumida há sempre em pauta que os ambientes não devem amedrontar, que a criança é informada dos riscos, assim, aparelhada para saber até onde irá, sendo todos educados processualmente a não recear os espaços e seus perigos para começar sua auto regulação, os maiores são tutores dos menores e o medo não é propalado.

Colin Ward (1924 –2010) nos seus livros A criança e a cidade (The Child in the City -1978) e A criança e o campo (The Child in the Country -1988) examina todos os espaços de vida das crianças e como elas mediavam, negociavam e rearticulavam os vários ambientes que habitavam. Nesses primeiro livro mais famoso, Ward considera a criatividade das crianças e sua especificidade única e como elas cuidam desses espaços através da arte da dinâmica urbana, argumentando que através de brincadeiras, apropriações e imaginação a criança contrapõe-se às intenções adultas em bases para construir seus próprios ambientes. Na obra “A criança e o Campo” inspirada em cientistas sociais com o geógrafo Chris Filo (1992) chama atenção sobre como as necessidades espaciais das crianças são escondidas e marginalizadas na sociedade.

Ward, Paideia e se recuarmos ao Emílio de Rousseau, ambos falam de uma necessidade, disponibilidade ou intencionalidade dessas crianças percorrerem os espaços, conhecerem seus perigos, mas não o amedrontamento, há até os teóricos da cidade educativa em qual as crianças não se localizam numa escola, mas todos os ambientes são salas de aula.

Essas crianças que pulam no rio e são capazes de virar um barco, salvar outras e participarem da caça, das festas, das ações em que estão envolvidas pode ser uma reflexão. Nesse mundo complexo de casas distantes de escolas, muitos obstáculos e imposições do mundo adulto, uma criança não está com o pai fazendo um projeto de arquitetura nem com a mãe médica ou gari formal. A criança que mais se adequa à lógica da cidade são as moradoras ou em situação de rua, algumas rurais pequenas. Nas grandes cidades esse viver é resolvido pelos ricos em condomínios fechados.
Seja como for, está posta a reflexão!


Os passos para isso são longos....são dados quando se começar a perceber que em uma sociedade moderna estamos apartando a infância da vida e em querendo melhorar a relação, irmandade, senso de coletividade e criar uma cidade acolhedora depende de refletir em que isso melhora nossa humanidade.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

100% do que vc aprende na escola é inútil!!!



Esta é uma das frases mais deliciosas de se falar: “Na escola não se aprende nada!” Esta frase covarde é que animou adolescentes e pais gostarem da páleo-da reforma do ensino médio empurrada por Temer. Dessa, já sabemos que é só ampliação do mercado sobre a educação pública, então esqueça a teoria das reformas necessárias, pois essas não estão em pauta.

Em recente matéria publicada pela BBC intitulada: “80% do que se aprende nas aulas de matemática não serve para nada”. Nesta matéria que entrevistam o físico Conrad Wolfram, da Estônia que aceitou suas propostas de ensino de matemática, criando uma situação que afasta a educação em matemática dos cálculos à mão.


Neste blog sabem alguns que sigo pelo caminho da Educação não Obrigatória e que qualquer educação imposta está fadada ao fracasso pessoal e sucesso do sistema. Os que suportam e superam servirão ao sistema ou sofrerão o combatendo, mas aceitando o sistema. Os que não superam, acabam se sentindo um trapo e fogem do combate.

A paleo-reforma do ensino médio do Brasil é paleo porque algo semelhante já foi tentado no passado no pais e malogrado. Este ensino vindo da LDB de 96 com todos os defeitos da educação como, vinha seguindo o caminho para avanços, lentos, mas avançava democraticamente.

A mudança veio inspirada e discussões de especialistas, mas empurrada pela mídia e marqueteiros do ensino privado quando superdimensionaram a educação da Finlândia, retirando dela toda sua história, lutas e empenhos concetos que aqui sabemos será uma caricatura.

Lendo a matéria acima com Wolfran vc perceberá que no fundo da discussão há a educação como obrigatória como problema e mesmo se ele mudar para o que ele acha mais útil, mas for obrigatório e não um desejo pessoal do estudante, tudo permanecerá do mesmo modo.

Duas coisas me cansa nos especialistas em educação de esquerda de direita e de beirada, filósofos da educação e educadores em geral, persistirem na educação obrigatória, carga horária em sala de aula e currículo mínimo, básico ou tronco comum. Isso acabou dando em escola sem partido.

No entanto, não adianta romper com essa religião da educação obrigatória. Insistem em colocar todo mundo, ao mesmo tempo, no mesmo lugar, no mesmo ritmo, na mesma reflexão, no mesmo parâmetro e criar uma régua para esses seres de luz, a avaliação, para caminharem progressivamente para obscurantismos de suas almas.

Carga horária.....e conhecimento.....chegam a sofrer horas discutindo isso!