domingo, 29 de dezembro de 2019

GESTÃO PÚBLICA E CULTURA: os dois circuito da economia da Cultura ou Meus erros democrata burguês para a cultura!







Uso dessa imagem do Livro de Barão de Munchausen para ilustrar que o trabalhador da cultura tem atuando dessa maneira para manter sua sustentabilidade.

 

GESTÃO PÚBLICA E CULTURA:
os dois circuito da economia da Cultura
ou
Meus erros democrata burguês para a cultura!

Crenças que que não tenho mais!
1) Eu cria que em estando em Lei jamais se perderia a política pública para a cultura;
2) que o estudo orçamentário daria condições de ampliar verbas para a cultura;
3) que o governo federal aplicando verbas em cultura estimularia estados e municípios;
4) que os municípios tinha menos investimentos em cultura que governo federal;
5) que um sistema nacional de cultura seria a democratização da cultura como era o SUS para a saúde;
6) a profissionalização dos artistas iria dar foco a um setor produtivo importante e sua emancipação;
7) que se ocorresse persistência, regularidade e grandes duração da oferta cultural a população lutaria por verbas para a cultura e manter ações.

Milton Santos estudou e publicou vários textos sobre os dois circuitos da economia. Um tinha produtos para a elite e outro de produção em massa. Assim, circuito superior e inferior agiam em combinação e estruturavam a economia global. Em cultura temos o setor de consumo de cultura de elite o de massa, mas temos algo que funciona quase como contrabando que é a cultura das margens, independente e que acontece de uma pessoa, de um grupo ou de algumas zonas temporárias de politicas públicas para a cultura de curta duração. Persistem, morrem e renascem.

Em 2013 entrei em crise filosófica, política e estética sobre qual era a significância das ações para a cultura que a faria ser uma das peças do orçamento público inviolável e permanente. Consumi o discurso de que se estava uma política pública em Lei jamais se perderia a conquista. Hoje sabemos que nem a saúde, nem a educação e nem a CLT foram respeitadas. Inclusive a Reforma da Previdência provou que mesmo para questões tão substanciais e tão objetivas para o povo se perderam nesses 4 anos de inferno (2015-2019).

Junto com essas mudanças o orçamento para a cultura que aumentou enormemente no Governo do PT e que movimentou imensamente o maior setor da economia que é o audiovisual foi um dos setores que mais reagiu contra o diretivismo do PT quando mencionou que o cinema brasileiro devia falar mais das mudanças que ocorreram no país. Reagiram com apoio da mídia e venceram a narrativa. Vincular verbas à cultura, se tivéssemos aprovado, já teriam caído nesses 4 anos malditos para a cultura.

O governo federal, mesmo aplicando e democratizando a verba para a cultura não conseguiu estimular municípios a investir mais recursos na mesma linha. As experiencias de ampliação ficaram atreladas ao Governo Federal e se esvaziaram após a crise de 2010 e ficaram poucos exemplos de manutenção de políticas públicas de acesso.

Ao Sistema Nacional de Cultura era para mim a maior obra do Governo PT. No entanto, essa conquista não foi mantida ou garantida e o principal motivo de adesão é que existia a possibilidade do Governo Federal fazer transferência fundo a fundo para estados e municípios. Não passava de um Bolsa Família da Cultura. As prefeituras, mesmo de esquerda e progressista esfriaram após a deorrocada do PT e suas politicas. A derrota na base foi pior do que no topo. Os conselhos eram, foram e continuarão ser searas de empáfia, de arrogância, de folga e de status para alguns. Os conselhos nesse modelo são desaconselháveis.

Os artistas que se profissionalizaram, aprenderam a fazer projstos, a captar, que administram e fazem sua própria produção faliram tanto na economia do circuito superior como na economia do circuito inferior e a massa de ambos tiveram recursos de estatais. Na vida da Lei Rouanet, 80% dos investimentos são de estatais ou de capital misto. O setor privado fica com 20% e não tendem a investir e são até desestimulados a fazê-lo. Assim, a economia da cultura do Brasil é fortemente ligada ao Estado seja por Leis ou Editais seja por contratações de espetáculos por preferência de um governo ou editais. Profissionalizar não representou maior respeito. Ficar sem profissionalizar gerou exclusão e ser profissional inclui parcialmente.

A população seria a chave para todos esses entraves. Embora se diga que o povo brasileiro é um dos povos que mais exerce sua cultura autóctone como o carnaval, São João e cultura musical diversa e própria, fato é que os artistas vivem em miséria. Quanto mais fazem ações gratuitas, mais empobrecem. Muitas vezes se faz coisas com regularidade e isso não é garantia de força política.

A massa de artistas que foram contra o governo PT e outros progressista, até de artistas progressistas dão a falsa cara de independência e de autonomia, mas o artista brasileiro que progride com sua autonomia criativa é um servidor para-estatal.

Inclusive a cultura de massa do Brasil, a que tem mercado, se você tirar o amparo estatal ela também quebra. A cultura altamente mercantilizada e aparentemente sustentável, a rigor, se o Estado sair cairá.

É dessa perda de crenças, dessa dependência que o mercado da cultura (circuitos superior e inferior) dependem do Estado. Assim é com o bancos, empresas, serviços, industria e agricultura. E tal como os demais setores, se houver investimento Estatal se progride o segmento da cultira, mas não se liberta. Pode isso num processo de progresso conservador ou progressista.

A minha autocrítica é que não me acolho em liberdade no mercado e não me acolho no Estado e para ser independente teria que o povo pagar nossos serviços tão úteis, mas tão subjetivos para que a população entenda nosso trabalho como os demais profissionais.

O Estado deveria, num lapso de democracia burguesa ou revolucionária favorecer a construção do trabalhador da cultura e que para sermos plenamente legítimos, autônomos e sem censura contra os valores opressores não podemos depender nem do mercado e nem do Estado.





terça-feira, 15 de outubro de 2019

OCUPA MINC\PB para avaliação participantes


NOTA
Este texto foi escrito por mim e por Alexandre Santos
Desejo que os interessados em incluir alguma informação, corrigir e ser co-autor deste texto, faça seu encaminhamento via e.mail antoniosobreira47@gmail.com

Ocupa MinC PB
Histórico das Ocupa/Minc Brasil.
A extinção do MinC em 18 de maio de 2016 pegou algumas pessoas do movimento cultural de surpresa. Os discursos que antecediam esse momento era a solução da crise econômica realizar o enxugamento de ministérios, mas a pasta da cultura representava 0,5% do orçamento da União e de certo modo parecia uma ousadia e precipitação o desaparecimento deste ministério por parte do presidente Interino Michel Temer.
A extinção do MinC a tornaria uma Secretaria Nacional de Cultura fundida ao Ministério da Educação. Os movimentos culturais já reconheciam que o Governo Dilma recuava na política cultural e que entre 2013 a 2014 registrou-se uma redução de investimentos na casa dos 25%. Deste modo, uma parte desses ativistas já elaborava críticas à gestão cultural dado aos recuos notados.
Esta reforma ministerial extrapolava a expectativa da oposição, pois o processo final levaria alguns meses e fazer uma mudança tão imediata fortalecia a tese de Golpe para os que não estavam convencidos da inocência de Rousseff.
O Choque parece ter sido foi um dos propósitos e método dessa reforma e a designação de um novo nome para essa Secretaria foi o segundo ato de resistência à mudança, já que entre o afastamento de Dilma Rousseff e a reforma ministerial tentou-se emplacar vários nomes, inicialmente mulheres, que declinaram ocupar o cargo até surgir Marcelo Calero ex-Secretário de Cultura do Rio de Janeiro nomeado pelo Ministro da Educação Mendonça Filho que prometia compensação de aumento de investimentos em 2017.
Concomitantemente os artistas do Brasil começaram a se organizar e no dia 19 de maio de 2016 seguinte a essa extinção vários prédios pertencentes ao MinC como sedes da Funarte, Museus, IPHAN entre outros começaram a ser ocupados pacificamente em 18 estados do Brasil e Distrito federal em simultaneidade. As capitais que tiveram essas reações foram Natal, Cuibá, Belém, São Luis, Belo Horizonte, Brasília, Aracaju, São Paulo, Rio de Janeiro, João Pessoa, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Macapá, Maceió, Florianópolis, Porto Alegre e Recife.
Inicialmente as identidades de cada ocupação foram sendo estabelecidas num processo de autonomia local com articulação nacional sem vanguarda intelectual em duas bandeiras centrais de luta pela queda de Michel Temer e a volta do MinC, assumindo que o que estava ocorrendo no Brasil era um golpe.
A tese de que a redução de ministérios fortaleceria economia do país era respaldada por um discurso de que o Estado é dispendioso e que tais fusões reduziriam gastos desnecessários ia de encontro com lutas históricas de que os gastos em cultura eram exíguos diante da demanda nacional. Expressava-se também a interpretação de que aquilo representava punição por adesismo ao PT de uma das classes profissionais mais aguerridas por direitos à cultura e que embora sem poder político expressivo era vista como inimiga dos partidos golpistas.
Além do impacto ideológico de redução de ministérios representando redução de gastos, havia análises de que parte dessa mudança era um modo de retirar do IPHAN o poder de embargar obras, demolições e qualquer alteração que ferisse o patrimônio histórico e cultural material do país e que repetidamente é acusado de atrapalhar o setor de crescimento imobiliário em zonas nobres do país.
No dia 24 de maio ocorre um audiência pública com a Comissão de Cultura da Câmara de Deputados Federais com participantes das Ocupações em Brasília com questionamentos sobre o significado dessa fusão e repúdio veemente contrário ao processo estabelecido. Momento em que deputados favoráveis ao golpe se fizeram presentes para questionar o movimento e que terminaram por serem expulsos e saindo disparando que a Lei Rouanet e outros Convênios seriam objetos de CPI’s.
Nesta oportunidade os representantes de cada ocupação e ativistas reconheceram a diversidade das ocupações, pelos grupos, pelos edifícios, pela articulação e organização. Alguns mais próximos a partidos, outros totalmente ausentes desses, uma mescla de partidos de esquerda e movimentos autonomistas e ativistas culturais, artistas e demais representantes refratários ao Golpe.
OcupaMinC PB
O Ocupa/MinC PB teve a característica de ausência de partidos representados e a maioria de seus ativistas transitava entre autonomistas de esquerda e por direitos culturais. Alguns eram produtores culturais, representantes e ex-representantes de conselhos de cultura.
João Pessoa só possui um edifício público ligado ao MinC que é IPHAN localizado na praça Antenor Navarro. Então a escolha foi unânime. Esses pares por proximidade e identidade começaram a se articular rapidamente e decidiram a estratégia de ocupação e de atividades políticas, administrativas e culturais que se exigiam para um grupo de 30 pessoas.
A aceitação de outros movimentos foi imediata e o OcupaMinC PB passou a ser a referência de resistência a todo o pacote de mudanças colocado por Michel Temer. Em razão disso houve aglutinação de diversos grupos ativistas de direitos, sindicatos, partidos e frentes de resistência ao Golpe.
Ocorreram reuniões presenciais, teleconferências, processo de formação e de ocupação cultural que em dado momento passou ter característica de um fórum cultural autogestionado permanente.
Atividades realizadas


21 de junho o MinC é recriado
A recriação do MinC em 21 de maio de 2016 foi o primeiro recuo do governo golpista quase um mês após a fusão do MinC com o Ministério da Educação. Embora os efeitos tenham sido pequenos, pois a desarticulação do MinC já o fazia uma cascado que fora. Mantiveram-se alguns setores, mas o decreto que recriou o MinC manteve itens que no conteúdo continuava uma secretaria.
Desocupação


Experiência e desarticulação


Um ano depois...
Por ironia ou tragédia anunciada o Ministro Calero cai em novembro de 2016 por denunciar uma intromissão do Ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima por utilizar de tráfico de influência e impor alteração de laudo que embargava obra de um edifício do qual era um futuro proprietário e que se encontrava embargada por Laudo do IPHAN. Gedddel é exonerado para abafar o escândalo. Caleros é substituído por Roberto Freire que aparelha o MinC com vários membros do PPS, quando uma de suas maiores críticas ao PT era essa em relação ao MinC. Roberto Freire após vários atritos públicos nacionais e internacionais abandona o governo Golpista após delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista envolvendo vários crimes de corrupção e obstrução da justiça e trafico de influência. O Secretário-executivo do Ministério da Cultura (MinC), João Batista de Andrade (ex-PCB), assume a função de ministro interino da Pasta com um currículo no cinema, entre eles o “Homem que virou Suco” afirmando que embora tenha servido ao Governo Alckmin que seu partido é o da Cultura.
A CPI da Lei Rouanet prometida pelo Dep. Marcos Feliciano foi substanciada em 28 de junho de 2016 após a Polícia Federal deflagrar a operação Boca Livre precedida da Operação Boca Livre S/A iniciada em 3013, aludindo que partidários e artistas defensores do Governo Dilma teriam se beneficiado da Lei para enriquecimento ilícito por favorecimento e tráfico de influência. O impacto midiático fruto da caçada a alguns artistas declaradamente favoráveis o Governo Dilma desapareceu com o fim da CPI em maio de 2017 que descobriu que os maiores beneficiados desta lei são grandes empresas, que os recursos são concentrados na Região Sudeste, a bem dizer nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo e que havia necessidade de melhor sistema de fiscalização. Afãs de do Dep. Feliciano e Dep. Bolsonaro desapareceu no silêncio.
Os recursos que seriam ampliados com a fusão do MinC desapareceram e em setembro de 2016 os recursos destinados em orçamento para o MinC permaneceram os mesmos do ano anterior em 2,5 bilhões, que coerentemente com a PEC 241 ou do Teto não permite aumento de gastos. Deste modo, toda a proposta de fusão e promessa de aumento de recursos para a cultura foi negada pela prática e desses recursos destinados não há informações e a totalidade está sendo executada.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

A educação da Finlândia está em Bananeiras no Brejo da Paraíba. Certamente mais!




Escola Nossa Senhora do Carmo  Bananeiras PB: 
O olhar da educadora Amanda Nágilla Silva Albuquerque


Escola democrática na Paraíba segue exemplo das melhores escolas e projetos educacionais do mundo.


Em 2016-17 fui professor temporário da UEPB em Guarabira PB e tive contato com muitos estudantes com suas preocupações sobre os Trabalhos de Conclusão de Curso -TCC. Essas pessoas jovens estudiosas ficam muito aflitas na busca de um tema e há sempre um desejo de mudar o eixo de rotação terrestre com esses trabalhos de final de curso. Um dos motivos que me levou fazer um doutorado em formação de professores foi notar em 2003, quando outrora fui professor da UEPB e constatei que nem um TCC da instituição em mais de 20 anos de curso, até àquele momento se dedicava à docência. Os TCCs de um curso de formação de professores sempre eram em áreas técnicas próprias do bacharelado ou monografia entediantes que falavam de tudo e de nada. Esse comportamento é estudado, não é exclusivo ao Brasil e embora a maioria dos cursos de Geografia do mundo tenham começado com licenciaturas, comum é que corram para especialidades diferentes da Educação Geográfica.

Assembleia 


Sempre me impressionou desde minha graduação na UFPB, onde havia a famosa segunda opção em que muitos escolhiam Ciências Jurídicas e terminavam condenados ao Curso de Geografia por não fazer a pontuação necessária para a primeira opção. Então, como desculpa para não se envolver nas exigências das disciplinas essa desculpa ia até essas pessoas concluirem o curso de licenciatura e alguns ainda faziam bacharelado, mantendo a desculpa, conseguiam sucesso em concurso para professores e ainda mantinham a cabeça em sua especialidade, embora limitada para a docência. Embora o ENEM tenha corrigido isso em parte, na UEPB, como em muitos cursos de licenciatura continua existir esse namoro com a área técnica, sem ter formação técnica ou precária na mesma proporção que se rejeita a docência que é o destino final de todos que formam em Licenciatura e Bacharelado. Ser apaixonado por área é bom, mas desprezar a docência é bizarro.

Tutoria em grupo

Alimentação natural, direta e de qualidade

Pesquisa e projetos autonomos


Nesses diálogos com uma graduanda, Amanda Nágilla Silva Albuquerque, surgiu o assunto sobre uma escola do campo na cidade de Bananeiras e que eu lhe disse ser um tema importante para a geografia e que poderia ser um TCC. Estudantes de curso noturno e ou trabalhadores, que residem em outras cidades, mães e pais enfrentam um imenso desafio de se sustentarem, cuidarem da vida e favorecerem uma formação intelectual e acadêmica robusta. Escolher um tema é mais difícil que arranjar um casamento que preste.

Lema permanente da comunidade educativa

Amanda pontuou algumas características dessa escola, mas não teve tempo de aprofundar, mas ficou a semente. Lembro-me apenas que indiquei, antes de qualquer coisa que lesse Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire e se interessasse por mais que desse uma olhada no meu trabalho de doutorado. Inspirado por esses futuros professores eu os levei na Escola Olho Vivo do Tempo – Evot em João Pessoa. Logo eu decidi não permanecer na UEPB em decorrência de uma greve que o reitor rescindiu nossos contatos a despeito de dizer que não ia fazer isso e eu não me sentindo bem com esse tratamento preferi voltar para o campo da Cultura.

                Esta escola é resumida no trabalho de Amanda nesta passagem a seguir:

Escola Nossa Senhora do Carmo possui 283 alunos, destes, 7 possuem o laudo de portadores de necessidades especiais. O corpo docente conta com 18 tutores (9 no turno da manhã e 9 no turno da tarde),  um/uma especialista para cada disciplina e alguns tutores são também os especialistas. A escolha destes é feita por meio de entrevistas. Coelho (2015, p. 63) enfatiza que “para tanto, privilegia-se aqueles que moram no seu entorno. Busca-se valorizar, ainda, o professor que tenha experiência e/ou afinidade com projetos sociais.” O currículo do docente também é avaliado, com intuito de perceber se os mesmos possuem qualificações para atuar enquanto docentes. A escola possui uma organização centrada em uma gestão democrática. E, para isto, conta com comitês, colegiados, conselhos e assembleias, almejando integrar pais, alunos, e todos os funcionários da escola nas decisões a serem tomadas. Fazem parte do conselho escolar, o corpo diretivo, estudantes, professores, funcionários e pais. É neste conselho onde se reflete as práticas vividas na escola, dando espaço de fala aos diversos sujeitos que a faz, sendo assim, o processo educacional pode ser visto, comentado e refletido a partir dos diversos ângulos da escola. O conselho de classe é formado pelos professores e corpo diretivo, a fim de avaliar o processo de ensino-aprendizagem da escola:

Esta descrição é semelhante as das escolas pertencentes ao Movimento Internacional de Escolas Democráticas (Democratic Schools Mouvement)*. Os princípios possuem suas bases na Escola Summerhill criada em 1930 por A.S Neill também apelidada de escola sem portas os escola da felicidade, cuja frase conhecida define em parte seu espírito: “E melhor formar garis felizes do que ministros neuróticos”.

Amanda em sua humildade estava descobrindo um exemplo de ponta na educação mundial que são as pedagogias construtivistas, de/por projeto e por grupos de afinidades, só que, estava ali bem próxima de sua casa, de sua vida e atuando com recursos em parte próprios, dos apoiadores, responsáveis e alguns aportes da prefeitura de Bananeiras e do Governo de Estado da Paraíba. As características do surgimento da proposta estão centradas em Paulo Freire, Escola da Ponte e da formação das freiras fundadoras que conduziram a uma educação realista e engajada na realidade local, seguindo o método antiautoritário, de autoaprendizagem e da autonomia do sujeito diante de si e da sociedade que os cercam.

Embora Amanda registre que a comunidade escolar siga os padrões legais da LDB e de outras diretrizes nacionais, fato é que a escola está muito além dessas leis no que concerne os seus resultados e práticas. Sendo não somente bem-sucedida, como premiada com certificações formais.
Nos últimos 4 anos os brasileiros educadores e do mesmo modo paraibanos são bombardeados com matérias nacionais e locais sobre os benefícios da educação feita na Finlândia, inclusive, argumentava-se em loas o modelo finlandês para apoiar o decreto da mudança do ensino médio imposta pelo governo Temer.
Há até momentos que vemos autoridades locais recendo reforçando o modelo finlandês de educação. A Escola Nossa Senhora do Carmo em Bananeiras tem realizado este trabalho com maestria, embora com restrições econômicas e sociais no local onde se instalou. Este não é o único exemplo, já citei a Escola Viva Olho do Tempo* no litoral sul da Paraíba e podemos indicar o Centro de Educação Popular (CENEP)*** em Nova Palmeira no Curimatau paraibano como promotora de uma educação democrática. Isto não quer dizer que não haja outras ações educacionais antiautoritárias na Paraíba ou que sejam organicamente engajadas com populações que abrigam essas escolas. Há ainda escolas do campo dos assentamentos organizadas pela CPT, do MST e outras com menos destaque que estão num esforço de garantir uma educação pautada na autonomia das crianças e jovens e com olhar para a comunidade.
Vale aqui ainda fazer menção póstuma a Lucia Geovana, professora do departamento de arquitetura CT/UFPB que esteve na gestão da Escola Catavento e SesquiCentenário em João Pessoae posteriormente em Areia-PB como referência de educadora a ser refletida em qualquer reforma educacional do Estado da Paraíba, antes de gastar rios de dinheiro fora do país para ver o que já existe por aqui com bastante sucesso.
Os dados colhidos por Amanda são um alerta e um alento importante, já que as pontuações no exame nacional de ensino básico colocam essa escola acima da média municipais, estaduais e nacionais e próxima das melhores pontuações nacionais. Ver tabela:


                            Fonte: Amanda Nagilla, 2019.

Com esses dados positivos a Escola Nossa Senhora do Carmo recebeu do MEC em 2016 o Certificado de escola em referência e inovação e criatividade na educação básica.

Importante notar que os preceitos e práticas dessa escola e de outras com métodos e princípios pedagógicos e comportamentais com ênfase a autonomia do sujeito, na democracia, em turmas por projetos, afinidades e organicamente envolvida com a comunidade é que todas as regras educacionais nacionais são cumpridas, mas formatar essas práticas nos esquemas formais de aulas, notas e outras demandas documentais reduzem a experiência ao enquadramento. A escola é inovadora, mas as regras formais e legais que as regem são arcaicas.
Solicitei a Amanda que após a concussão desse trabalho como ela enxerga essa experiencia em sua vida? Segue sua resposta:

Quando eu pus os meus pés na escola nossa senhora do Carmo, eu senti uma alegria, um amor... Eu senti o verdadeiro sentido da educação. Me lembro que no meu primeiro dia de observação eu tava tão feliz naquele espaço que mandei uma msg para meu orientador, dizendo: estou feliz aqui. Eu me senti realizada naquela escola, enquanto professora e ser humano.
Eu passei cerca de 2 meses vivenciando o dia a dia da escola. É um ambiente maravilhoso. Eu poderia definir este espaço em três palavras: amor, alegria, respeito.
Ao final da observação, eu saí da escola nossa senhora do Carmo com a certeza de que é possível existir uma escola diferente das que estamos acostumadas.
Inevitavelmente fiz comparações entre ela e as escolas que já trabalhei. É uma diferença enorme!! Principalmente na questão do respeito entre todos que estão inseridos na escola.
No início dessa minha pesquisa eu cheguei a pensar em desistir, achei que isso não seria possível, que era apenas uma utopia, que a escola poderia não funcionar como eu imaginava... Eu realmente estava enganada. Ela é muito mais do que eu esperava! É de uma organização incrível, e resultados surpreendentes! Eu vi que que é possível transformar nossas escolas! Não é fácil... Mas não é impossível!

Na minha vida enquanto pessoa e profissional, a escola me mostrou que a educação só funciona verdadeiramente com amor. Com entrega. Lá eu compreendi perfeitamente o sentido das palavras de Paulo Freire, quando disse que não podemos falar de educação sem amor.

A escola mudou meu olhar sobre a educação, sobre os alunos. Me trouxe novos horizontes enquanto docente. Me fez refletir sobre o que eu vinha pondo em prática esses anos enquanto professora. Hoje, eu busco passar para os meus alunos e a equipe de profissionais com a qual eu trabalho, mais amor, compreensão e respeito. Pois eu vi com meus próprios olhos que a escola pode ser um ambiente muito mais agradável se olharmos melhor para o outro.


Grato Amanda

 quando ela publicar o trabalho final eu anexo o link aqui.



Outras escolas do Brasil que podem ser consultadas


sábado, 6 de abril de 2019

Housing Schools de direita e de esquerda ou Entre o fundamentalismo e a autonomia do sujeito


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Esse texto começou com a seguinte pergunta
 da minha amiga Nizete:
_ Antonio, o que vc acha de celular na escola?? 

Dedico a ela e a todas e todos que vivem a realidade escolar como uma comunidade complexa, sem recursos, sem igualdade, sem democracia.

E SEM WI-FI FREE!!!!




Importante falar que a educação que vem do lar é a que mais favorece a educação na escola. Como seu oposto é também a razão de alguns problemas.

Em meu trabalho de tese eu conheci o movimento de escolas democráticas, libertárias, anarquista e livres. Dentro deste movimento de contra a educação obrigatória há o movimento de educação em casa ou housing schools.

Na prática alguns países de grande extensão e população rural pequenas  eisoladas legisla a educação à distância. Alguns países, entre eles o Brasil, possuem salas multiseriadas* onde um professor leciona ao mesmo tempo para várias séries.

Toda legislação educacional do Brasil conquistou a educação obrigatória como direito universal para se contrapor à educação exclusiva para quem era de classe rica ou média. Esses sempre tiveram alguma escolarização.

No Brasil a educação é obrigatória par resolver diferenças sociais na perspectiva de que uma pessoa ciente de seus direitos pode e deve lutar por sua melhoria de condições.

Do ponto de vista geral, a educação obrigatória sempre falha por ter um único conjunto de regras e de imposições em massa que não cabe para todas as pessoas. Além desses fatores todos a sociedade é machista, preconceituosa, autoritária e isso gera um desconforto para crianças e jovens que não são suficientemente protegidos de achaques, tiranias e leis e regras que são sem sentido ou estritamente para eliminar etapas pedagógicas como por exemplo: o que é a democracia e como ela deve ser exercida.

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Eu detestava minha escola na juventude. Professores retrógados, militarização das relações, desestimulo à criatividade, desrespeito à diversidade cultural e de gênero, avaliações bancárias e privilégios para os que vinham de classe média e desprezo para os poucos negros e pobres que chegaram até ali.

Devemos distinguir portanto a housing schools de direita e de esquerda.

Depois de meu trabalho sobre a pedagogia anarquista fui muitas vezes perguntado sobre escolas humanistas e sempre respondi o que a literatura mundial acaba descrevendo, digo: nos primeiros anos de infância pais e mães acham lindo escolas democráticas, construtivistas, amorosas, criativas e humanistas, mas no virar da pequena infância para pré-adolescência o balé da mocinha vai ficando onerosa, a escola de música e inglês é descartada e uma chacina intelectual perpetrada pela educação obrigatória de mercado destrói tudo que um jovem foi criado acreditar.

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Escolas são lugares de achaques, preconceito, perseguição por todo tipo de diferenças, alistamento de malfeitores que destratam mulheres e gêneros ainda se descobrindo. Escola é um desastre obrigatório de horas de chegar, de sair, de comer, de estudar, de falar e de se comportar, inclusive do que estudar.
Porém, não levar uma criança para a escola no Brasil é crime de abandono intelectual. Ei que temos um impasse humanitário precário, com outro de liberdade do indivíduo. Precisamos obrigar o indivíduo a ser liberto pela educação. Enchemos as crianças de gasolina ao logo da vida para depois manda-los para apagar incêndios que não criaram.
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Então, na Espanha a legislação sempre permitiu escolas não ligadas ao Estado, desde que os pais declarassem acreditar que o ambiente escolhido atendia à necessidades escolares desejadas. Assim, as normas e regras não se aplicavam igualmente, desde que quando chegasse no momento do vestibular o interessado passasse. Não havia comprovação de histórico escolar desde que ele passasse nos exames nacionais.

Ocorre que no Brasil a democratização da educação não deixou de ser um funil, mesmo sendo universalizada o cidadão sai profundamente desiludido da educação e rejeita a escola. Reclamam da carga de leitura, não gostam de carregar os livros, leem pouco, não gostam dos espaços que são como presídios, pouca liberdade pedagógica e criativa.

Temos portanto uma estatística desconhecida sobre o fenômeno de Refusals Schools que no mundo é trabalhado como um distúrbio de pânico e há vários países que possuem centros educacionais terapêuticos para esses estudantes que não se adaptam e adoecem em ambientes escolares e há famílias ricas que enviam seus filhos para outros países para se livrarem da educação formal e obrigatória de seus países natais. Japão é um desses países que reconhecem esse problema de saúde social juvenil.

O movimento de housing school de esquerda busca sair da escola opressora, machista, reacionária e autoritária. Os pais percebem que seus filhos terão mais saúde seguindo o próprio ritmo e serão mais estudiosos e felizes longe desses aparelhos repressores que se tornam algumas escolas.

O movimento de housing schools de direita só querem agravar uma educação que seja pautada exclusivamente nas certezas bíblicas e dogmas contrários ao conhecimento científico.
A classe trabalhadora possui outro dilema, se não houver escolas e creches como ir para o mercado de trabalho, com quem e como deixar os filhos.

Nunca tentou-se uma sociedade moderna sem escolas, mas a Finlandia tem sido exemplo de um desnudar da imposição e criado possibilidades de currículo aberto, auto escolhido, no próprio ritmo, pedagogia de projetos, mais atividades de grupo auto dirigido do que aulas clássicas. Ainda assim, isso não resolve de todo uma socialização obrigatória.

A socialização também é uma decisão do indivíduo, ele precisa buscar a socialização por seu entendimento. É um pressuposto discutível que numa sala onde existe um filho de um fascista e um anarquista que haverá denominador comum que não seja sair na porrada.
Housing school de Damares e da escola sem partido não tem nada a ver com pais transtornados com a miséria que é a escola formal.

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A escola pública e privada no Brasil virou um território em disputa para acabar com ensino laico.  O único pressuposto que está por detrás da housing schools de Damares é a criação de escolas religiosas de linhas neo-pentecostais com total  liberdade de abrir mão dos conhecimentos científicos.
Ao fim, as mães evangélicas serão convencidas a não irem para o mercado de trabalho e realizar toda tarefa domiciliar e ainda cuidar da educação dos filhos. O housing school de Damares, se aprovado irá desmoronar em qualquer cenário. No entanto, creio que o housing school de esquerda, humanitário, cientifico, filosófico e de auto aprendizado seria a libertação dessas escolas que no primeiro problema aprovam medidas autoritárias e restritivas.

Os professores, pedagogos e diretores da linha neo-pentencostal fundamentalista vieram para ficar. Esse território faz par com professores reacionários, conservadores e autoritários. Tenho certeza que muitos pais estariam bem felizes de verem seus filhos longe desses ambientes retrógrados, atrasados, dogmáticos e agressivos.


 * A discussão de educação do/no/com o campo projeta a possibilidade de tempo parcial no ensino em escolas e tempo parcial em casa relativo a questões climáticas, migrações circulares e safras e entre safras. Inclusive para evitar que filhos estudem em escolas urbanas, permanecendo em escolas com respeito e desenvolvimento da vida rural que as escolas urbanas não cobrem.