sexta-feira, 28 de junho de 2019

A educação da Finlândia está em Bananeiras no Brejo da Paraíba. Certamente mais!




Escola Nossa Senhora do Carmo  Bananeiras PB: 
O olhar da educadora Amanda Nágilla Silva Albuquerque


Escola democrática na Paraíba segue exemplo das melhores escolas e projetos educacionais do mundo.


Em 2016-17 fui professor temporário da UEPB em Guarabira PB e tive contato com muitos estudantes com suas preocupações sobre os Trabalhos de Conclusão de Curso -TCC. Essas pessoas jovens estudiosas ficam muito aflitas na busca de um tema e há sempre um desejo de mudar o eixo de rotação terrestre com esses trabalhos de final de curso. Um dos motivos que me levou fazer um doutorado em formação de professores foi notar em 2003, quando outrora fui professor da UEPB e constatei que nem um TCC da instituição em mais de 20 anos de curso, até àquele momento se dedicava à docência. Os TCCs de um curso de formação de professores sempre eram em áreas técnicas próprias do bacharelado ou monografia entediantes que falavam de tudo e de nada. Esse comportamento é estudado, não é exclusivo ao Brasil e embora a maioria dos cursos de Geografia do mundo tenham começado com licenciaturas, comum é que corram para especialidades diferentes da Educação Geográfica.

Assembleia 


Sempre me impressionou desde minha graduação na UFPB, onde havia a famosa segunda opção em que muitos escolhiam Ciências Jurídicas e terminavam condenados ao Curso de Geografia por não fazer a pontuação necessária para a primeira opção. Então, como desculpa para não se envolver nas exigências das disciplinas essa desculpa ia até essas pessoas concluirem o curso de licenciatura e alguns ainda faziam bacharelado, mantendo a desculpa, conseguiam sucesso em concurso para professores e ainda mantinham a cabeça em sua especialidade, embora limitada para a docência. Embora o ENEM tenha corrigido isso em parte, na UEPB, como em muitos cursos de licenciatura continua existir esse namoro com a área técnica, sem ter formação técnica ou precária na mesma proporção que se rejeita a docência que é o destino final de todos que formam em Licenciatura e Bacharelado. Ser apaixonado por área é bom, mas desprezar a docência é bizarro.

Tutoria em grupo

Alimentação natural, direta e de qualidade

Pesquisa e projetos autonomos


Nesses diálogos com uma graduanda, Amanda Nágilla Silva Albuquerque, surgiu o assunto sobre uma escola do campo na cidade de Bananeiras e que eu lhe disse ser um tema importante para a geografia e que poderia ser um TCC. Estudantes de curso noturno e ou trabalhadores, que residem em outras cidades, mães e pais enfrentam um imenso desafio de se sustentarem, cuidarem da vida e favorecerem uma formação intelectual e acadêmica robusta. Escolher um tema é mais difícil que arranjar um casamento que preste.

Lema permanente da comunidade educativa

Amanda pontuou algumas características dessa escola, mas não teve tempo de aprofundar, mas ficou a semente. Lembro-me apenas que indiquei, antes de qualquer coisa que lesse Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire e se interessasse por mais que desse uma olhada no meu trabalho de doutorado. Inspirado por esses futuros professores eu os levei na Escola Olho Vivo do Tempo – Evot em João Pessoa. Logo eu decidi não permanecer na UEPB em decorrência de uma greve que o reitor rescindiu nossos contatos a despeito de dizer que não ia fazer isso e eu não me sentindo bem com esse tratamento preferi voltar para o campo da Cultura.

                Esta escola é resumida no trabalho de Amanda nesta passagem a seguir:

Escola Nossa Senhora do Carmo possui 283 alunos, destes, 7 possuem o laudo de portadores de necessidades especiais. O corpo docente conta com 18 tutores (9 no turno da manhã e 9 no turno da tarde),  um/uma especialista para cada disciplina e alguns tutores são também os especialistas. A escolha destes é feita por meio de entrevistas. Coelho (2015, p. 63) enfatiza que “para tanto, privilegia-se aqueles que moram no seu entorno. Busca-se valorizar, ainda, o professor que tenha experiência e/ou afinidade com projetos sociais.” O currículo do docente também é avaliado, com intuito de perceber se os mesmos possuem qualificações para atuar enquanto docentes. A escola possui uma organização centrada em uma gestão democrática. E, para isto, conta com comitês, colegiados, conselhos e assembleias, almejando integrar pais, alunos, e todos os funcionários da escola nas decisões a serem tomadas. Fazem parte do conselho escolar, o corpo diretivo, estudantes, professores, funcionários e pais. É neste conselho onde se reflete as práticas vividas na escola, dando espaço de fala aos diversos sujeitos que a faz, sendo assim, o processo educacional pode ser visto, comentado e refletido a partir dos diversos ângulos da escola. O conselho de classe é formado pelos professores e corpo diretivo, a fim de avaliar o processo de ensino-aprendizagem da escola:

Esta descrição é semelhante as das escolas pertencentes ao Movimento Internacional de Escolas Democráticas (Democratic Schools Mouvement)*. Os princípios possuem suas bases na Escola Summerhill criada em 1930 por A.S Neill também apelidada de escola sem portas os escola da felicidade, cuja frase conhecida define em parte seu espírito: “E melhor formar garis felizes do que ministros neuróticos”.

Amanda em sua humildade estava descobrindo um exemplo de ponta na educação mundial que são as pedagogias construtivistas, de/por projeto e por grupos de afinidades, só que, estava ali bem próxima de sua casa, de sua vida e atuando com recursos em parte próprios, dos apoiadores, responsáveis e alguns aportes da prefeitura de Bananeiras e do Governo de Estado da Paraíba. As características do surgimento da proposta estão centradas em Paulo Freire, Escola da Ponte e da formação das freiras fundadoras que conduziram a uma educação realista e engajada na realidade local, seguindo o método antiautoritário, de autoaprendizagem e da autonomia do sujeito diante de si e da sociedade que os cercam.

Embora Amanda registre que a comunidade escolar siga os padrões legais da LDB e de outras diretrizes nacionais, fato é que a escola está muito além dessas leis no que concerne os seus resultados e práticas. Sendo não somente bem-sucedida, como premiada com certificações formais.
Nos últimos 4 anos os brasileiros educadores e do mesmo modo paraibanos são bombardeados com matérias nacionais e locais sobre os benefícios da educação feita na Finlândia, inclusive, argumentava-se em loas o modelo finlandês para apoiar o decreto da mudança do ensino médio imposta pelo governo Temer.
Há até momentos que vemos autoridades locais recendo reforçando o modelo finlandês de educação. A Escola Nossa Senhora do Carmo em Bananeiras tem realizado este trabalho com maestria, embora com restrições econômicas e sociais no local onde se instalou. Este não é o único exemplo, já citei a Escola Viva Olho do Tempo* no litoral sul da Paraíba e podemos indicar o Centro de Educação Popular (CENEP)*** em Nova Palmeira no Curimatau paraibano como promotora de uma educação democrática. Isto não quer dizer que não haja outras ações educacionais antiautoritárias na Paraíba ou que sejam organicamente engajadas com populações que abrigam essas escolas. Há ainda escolas do campo dos assentamentos organizadas pela CPT, do MST e outras com menos destaque que estão num esforço de garantir uma educação pautada na autonomia das crianças e jovens e com olhar para a comunidade.
Vale aqui ainda fazer menção póstuma a Lucia Geovana, professora do departamento de arquitetura CT/UFPB que esteve na gestão da Escola Catavento e SesquiCentenário em João Pessoae posteriormente em Areia-PB como referência de educadora a ser refletida em qualquer reforma educacional do Estado da Paraíba, antes de gastar rios de dinheiro fora do país para ver o que já existe por aqui com bastante sucesso.
Os dados colhidos por Amanda são um alerta e um alento importante, já que as pontuações no exame nacional de ensino básico colocam essa escola acima da média municipais, estaduais e nacionais e próxima das melhores pontuações nacionais. Ver tabela:


                            Fonte: Amanda Nagilla, 2019.

Com esses dados positivos a Escola Nossa Senhora do Carmo recebeu do MEC em 2016 o Certificado de escola em referência e inovação e criatividade na educação básica.

Importante notar que os preceitos e práticas dessa escola e de outras com métodos e princípios pedagógicos e comportamentais com ênfase a autonomia do sujeito, na democracia, em turmas por projetos, afinidades e organicamente envolvida com a comunidade é que todas as regras educacionais nacionais são cumpridas, mas formatar essas práticas nos esquemas formais de aulas, notas e outras demandas documentais reduzem a experiência ao enquadramento. A escola é inovadora, mas as regras formais e legais que as regem são arcaicas.
Solicitei a Amanda que após a concussão desse trabalho como ela enxerga essa experiencia em sua vida? Segue sua resposta:

Quando eu pus os meus pés na escola nossa senhora do Carmo, eu senti uma alegria, um amor... Eu senti o verdadeiro sentido da educação. Me lembro que no meu primeiro dia de observação eu tava tão feliz naquele espaço que mandei uma msg para meu orientador, dizendo: estou feliz aqui. Eu me senti realizada naquela escola, enquanto professora e ser humano.
Eu passei cerca de 2 meses vivenciando o dia a dia da escola. É um ambiente maravilhoso. Eu poderia definir este espaço em três palavras: amor, alegria, respeito.
Ao final da observação, eu saí da escola nossa senhora do Carmo com a certeza de que é possível existir uma escola diferente das que estamos acostumadas.
Inevitavelmente fiz comparações entre ela e as escolas que já trabalhei. É uma diferença enorme!! Principalmente na questão do respeito entre todos que estão inseridos na escola.
No início dessa minha pesquisa eu cheguei a pensar em desistir, achei que isso não seria possível, que era apenas uma utopia, que a escola poderia não funcionar como eu imaginava... Eu realmente estava enganada. Ela é muito mais do que eu esperava! É de uma organização incrível, e resultados surpreendentes! Eu vi que que é possível transformar nossas escolas! Não é fácil... Mas não é impossível!

Na minha vida enquanto pessoa e profissional, a escola me mostrou que a educação só funciona verdadeiramente com amor. Com entrega. Lá eu compreendi perfeitamente o sentido das palavras de Paulo Freire, quando disse que não podemos falar de educação sem amor.

A escola mudou meu olhar sobre a educação, sobre os alunos. Me trouxe novos horizontes enquanto docente. Me fez refletir sobre o que eu vinha pondo em prática esses anos enquanto professora. Hoje, eu busco passar para os meus alunos e a equipe de profissionais com a qual eu trabalho, mais amor, compreensão e respeito. Pois eu vi com meus próprios olhos que a escola pode ser um ambiente muito mais agradável se olharmos melhor para o outro.


Grato Amanda

 quando ela publicar o trabalho final eu anexo o link aqui.



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