segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Libertário e a escravidão: a falsa antítese.


Tenho lido bastante sobre situacionismo, anarquismo, pós-anarquismo e tantas outras literaturas que se negam ser qualquer coisa que se aporte a alguma filiação ideológica.

Os textos quanto mais radicais negam ou dão pouca a nenhuma atenção ao mutualismo.

O medo de se identificar com os "ismos" ligados aos libertários, na verdade não nos liberta.

O simples fato de nos posicionar contra o autoritarismo já é em si uma prisão.

Não adianta desmerecer a insuficiência filosófica, política, teórica e propositiva de nenhuma corrente libertária, se intitulando mais libertário. Isso a negação, ainda que robusta, é uma prisão.

Em seu sentido poético, ser libertário é concebível, inspirador e motivador, mas na prática o libertário é apenas um tipo de prisão não conservadora.

Quem é libertário, já está filiado, só que sem fichas de militante.

Houve tanta pestilência em se assumir ideologicamente que há abusos. Ser a-ideológico não é nobre nem prudente, inclusive nos coloca até mais perto dos fascistas do que imaginamos.

Não somos livres diante da tortura, dos achaques, tiranias, maus tratos aos que são postos em posição subjugo pela classe dominante e sua guarda civil e polícia contra as pessoas por serem pobres, por genero que se identificam, por tipo de formação corporal, por etnia e hábitos culturais e religiosos  ...

Um libertário não é livre, nem o anarquista egoista é livre, senão, sinonimo de libertário seria a pessoa hedonista.

O que mais me intriga nesses sites e blogs é o abandono completo do mutualismo.

Talvez porque o mutualismo tenha um cunho amoroso.

Como se pode supor, amor é um construção cultural ou uma invenção para libertários mais libertos.

Pode-se negar a existência do amor, mas não a do afeto.

Somos afetados pelas pessoas e por algumas dessas somos capazes de fazer coisas esquisitas, loucuras e idiotices. Com radicalismo emocional que nos seria melhora tratar como crianças do que adultos responsáveis.

No que me afetou sempre no anarquismo é o mutualismo. Mesmo com esse caráter cristão da "partilha do pão" não vejo qualquer sentido em viver sem o desenvolvimento e preocupação com o mutualismo.

Essas mega mudanças estruturais preconizando o fim do Estado e das hierarquias me passa mais ser uma inspiração revolucionaria política do que humana.

A revolução política é urgente, tanto mais é a humana. Devem ocorrer concomitantes, mas nossa condição humana tosca sempre deixa o melhor para depois.

Não posso crer em quem nega o afeto.

Até nego a palavra solidariedade por essa sim ter o caráter de falso altruismo.

O mutualismo nos sentidos que pesquiso nas relações humanas não está e reparar aos que não tem nada, nem de supor uma justiça aos que foram roubados, mas pelo prazer do afeto que isso carrega.

Não é para mim o mutualismo tal como o cooperativismo que me vem sempre um sentido prático de unir forças para alguma finalidade comum.

Solidariedade, cooperativimo e gentileza estão muito abaixo do sentido do mutualismo.

O mutualismo está antagonicamente oposto à caridade.

E para mim, a genese do mutualismo está em ser e querer ser afetado pela nossa humanidade e não meramente para salvar os que são depauperados de sua dignidade.

Devemos lutar contra o autoritarismo, contra o Estado, mas ter esse espírito de que somos melhores do que nossos algozes é uma grande bobagem messiânica.

Escondemos um sentido cristão, messiânico de iluminação marxista contra a desigualdade, enfim, sermos responsáveis demasiado pelos que não podem ou acreditamos não entender sua condição de expropriação.

O que parece tão maduro, me passa a imagem de distribuição de hóstias quando alguém chuta a porta e a arromba. Há tanto de cristão nisso que vejo uma escravidão dissimulada de libertarismo.

Tentando me afastar da retórica dissimulada. Não me importa nenhum militante infeliz sob a capa de libertário, tal como um vegetariano ingênuo, que é melhor que ninguém por suas objeções gastronomicas. 

O ser puro é uma bosta!