segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Fui avaliador de livros didáticos de Geografia em 2005 e 2006


Fui avaliador de livros didáticos de Geografia
Todos estamos passando por um momento absurdo com atrofias no sistema educacional vindas com esse troço chamado bolsonaro e o atraso que o segue. Irei recuar um pouco em 2005 e 2006 quando eu estava no início do doutorado e fui convidado por Carminha e Eliseu Spósito para ser avaliador do Plano Nacional dos Livros Didáticos, conhecido PNLD e falado como PeNeLeDê.

O PeNeLeDê foi uma conquista do Governo Lula e Dilma, mas que já era gestado no governo FHC em decorrência de haver uma industria bélica de produção de livros e distribuição que domina o mercado editorial do Brasil e equiparável a poucos países.

Eu achava estranho se pagar para alguém fazer análise prévia de livros, já que para mim a autonomia do sujeito e intelectual como professor não permitiria alguém fazer uma prévia apreciação para mim. Confesso aqui que quando fiz minhas primeiras aulas, não fosse um amigo experiente eu quase comprava um almanaque Abril para dar aulas de coisas.

A dificuldade de um professor recém formado ou já na ativa escolher um livro didático é difícil e muitos acabavam seduzidos pelas editoras. Aprendi nesse processo que o PeNeLeDê era razoável e nem era um ranqueamento ou pré-digestão intelectual.

Eu avaliei uma coleção muito popular no Brasil de 5ª a 8ª série. Foi fornecido formulários, orientações e que outro especialista estaria fazendo o mesmo trabalho. Não me lembro de todos os critérios, mas era assim:
Excluir imagens e textos com erro de português, identificar termos, textos e imagens com preconceitos contra mulheres, negros, índios, minorias e classe trabalhadora. Também preocupar com estereótipos regionais, geografia estritamente descritiva, aspectos ambientais, se mais rural ou urbano, criatividade e pertinência das atividades propostas e suas ênfases e a apresentação visual, se inovadora e se  poluída, quer dizer, bem dividido entre imagens textos, cartogramas e mapas e respeito às convenções e conceitos geográficos. Havia muitos critérios e ao anotar qualquer rejeição se exigia justificativa com corroboração bibliográfica consistente para realizar um parecer final. Este parecer final seria confrontado com outro avaliador e um mediador regularia se houvesse discrepância em questões comuns um dizendo péssimo e outro excelente. Óbvio que os avaliadores eram de especialidades diferentes no que se chama física e humana.

Tudo devia ser sigiloso, afinal ocorreram experiências passadas de assédio das editoras a alguns pareceristas que lhes faziam um inferno para que a análise não condenasse ou que a pontuação favorecesse as suas coleções, embora nunca ocorresse rank.

Vc já imaginou quanto custa um edição de uma grande editora e o contrato de compra para todo o Brasil!?

Não podia haver ranqueamento. Uma obra pode ter muitas atividades e não tratar profundamente de meio ambiente. Assim, o professor que lesse o catálogo escolheria os livros que se adequassem às necessidades e habilidades suas e de suas classes. Infelizmente, muitos diretores e professores escolhiam o primeiro livro da lista achando que era ranqueamento ou fatigados pela vida docente.

Este mercado envolve milhões de reais de compras com dinheiro público e é justificável que o governo saiba o que vai se comprar e avaliar a qualidade, a legalidade, o respeito à língua formal e à ciência em geral com ênfase na Geografia.

Todos os livros que se pretendem ser comprados para o ensino público precisavam de um aferimento, pois erros conceituais, preconceitos e erros de protugues eram comuns antes do PeNeLeDê. O anedotário das primeiras avaliações era de envergonhas Damares.

A polêmica atual sobre o decreto que afrouxava essas inquietações, que permitia até publicidade e erros tem um custo gigantesco. O controle de qualidade tão alardeado pela reengenharia, ISOs e tantas medidas de qualificação de produto muito postas pelos governos Neo Liberais e das gestões empresariais devia ser aplicados na coisa pública.

Nem uma empresa privada de educação compraria milhões em livros sem saber o que  adquiria e com qual finalidade, então, por que a coisa pública teria que ser frouxa!?

Logo mudaram de ideia, pois como a imprensa divulgou era menos uma incompetência e mais um negócio entre as editoras e esses homens da linha Temer|bolsonaro. Agora tentarão roubar de outro modo. Aguardemos!

Eu entendo a necessidade do livro didático. Sou como muitos educadores que sempre temos que fazer material adicional. Atualizar é esforço diário e a coleção só recebe atualização de 5 em 5 anos, quando toda a avaliação precisa ser feita. O Livro didático não é tudo, mas também não é perda de tempo e sim um instrumento que pode acabar virando o único, segundo as condições de trabalho dos professores.

Um fulano fanático nem adentrou nessas questões. Acredita que a educação é partidária e ideologicamente penetrada e blindadamente bem sucedida. Sabemos que a Geografia crítica é marxista, mas também sabemos que é científico e metodológico. O marxismo não nega a ciência. O método é sempre se colocar em dúvida, contradição e confronto de ideias. Os educadores marxistas sabem que seu esforço é a educação crítica e não a adoção ao marxismo que só se faz pela práxis.

Estamos vivenciando a era das patranhas maldosas, asquerosas e propositadas para o mercado. As questões de costumes são todas inerentes a mercados, primeiro o do voto conservador que embarca como criança com chupeta e segundo a um ultraliberalismo fascista servil e entreguista.

O Brasil está à venda!