O mais interessante neste artigo é o último parágrafo:
Na
Holanda, as cerca de 7.000 escolas que atendem à faixa etária dos 4 aos
12 anos são relativamente livres para implementar seus projetos
pedagógicos, desde que cumpram as exigências de qualidade do governo e
mantenham uma média pré-determinada de alunos por professor. O governo
subsidia a manutenção do aluno nessas escolas com cerca de 5.500 euros
por ano.
Mas o geral do texto é ter crianças mais atualizadas tecnologicamente, desaparecimento da estrutura física da escola pelo estudo em rede e outras coisas que a pedagogia libertária já fazia em 1856 na escola de Leon Tolstoi!
Parece anarquista, sugere a pedagogia anarquista, utiliza de métodos anarquistas, parece libertária.....mas não é!?
Na sequência de textos que coleto de mídias anarquista kkkk, tento demonstrar o que aparenta ser novo, mas não é! Aparenta ser bom, mas é perverso! Mas sobretudo, prova que a escola tradicional só consegue ser conservadora, mais ainda com as tecnologias vestidas de libertárias!
Divirtam-se!
Matéria portal IG.
Holanda vai inaugurar escolas Steve Jobs
Por
Porvir |
Texto
iPads serão a principal ferramenta de aprendizado em instituições de ensino personalizado
Olhando os dedos de Daphne, 4, correr com tanta destreza
sobre as telas de tablets e smartphones, é quase impossível não
perguntar: onde será que ela aprendeu tudo isso? A menina usa esses
aparelhinhos desde um ano e meio de idade, sem nunca ter recebido
instruções específicas para tal (veja vídeo abaixo). “O que me
surpreendeu não foi ela conseguir usar o iPad, mas ela mostrar algumas
habilidades que eu não sabia que crianças dessa idade tinham”, brinca o
holandês Maurice de Hond, pai de Daphne, comentarista político desde a
década de 1970 e especialista em tecnologias conhecido em seu país. Entenda:Conheça os conceitos que vão mudar a escola e o aprendizado
Na intenção de prover a melhor educação possível para a
menina, conversou com o responsável pela educação de Amsterdã e recebeu a
proposta de formatar escolas que fossem mais adequadas às novas
gerações. No mês que vem, Hond e sua equipe inauguram duas Steve Jobs
Schools e outras nove já existentes começam a usar o conceito de
introduzir iPads como principal ferramenta do aprendizado.
“Já estava pouco satisfeito com a forma pela
qual as escolas na Holanda estavam lidando com o desenvolvimento
tecnológico e agora [com a filha mais nova] eu via uma nova geração que
já era digitalmente hábil antes de ter que ir à escola”, disse Hond. Pai
de cinco filhos, o incômodo do holandês com o sistema educacional atual
reuniu, portanto, insatisfações pessoais com um know-how que acumulou
ao longo de sua vida: Hond aprendeu a programar ainda em 1965, quando
era muito raro alguém se interessar por tecnologias digitais, foi
pioneiro no lançamento de empresas que se apoiavam nos recursos digitais
e, em 1995, escreveu o livro “Thanks to the Speed of Light” (obra não
traduzida para o português), que o fez se tornar uma espécie de guru da
internet.
Hond conta que, antes de Daphne, havia tido uma
experiência muito diferente com cada um de seus quatro filhos. Dois
haviam se saído muito bem nos estudos, enquanto os outros dois haviam
tido muita dificuldade. “Na época, eu achava que isso se devia às
características de cada um. Mais tarde, eu percebi que eles tinham
muitas habilidades sofisticadas que não se encaixavam no sistema escolar
tradicional, mas que eram muito importantes para suas carreiras. Então
eu entendi que o problema não era que meus filhos não fossem bons na
escola, mas o sistema escolar não era bom para as qualidades únicas dos
meus filhos”, disse o especialista em tecnologia. Ao observar a mais
nova e o tanto que ela já sabia antes mesmo de entrar na escola,
decidiu-se: “Minha conclusão foi que eu não queria levar minha filha
para uma dessas escolas”.
Foi então que começou o desafio de pensar
modelos de escola física e pedagogicamente mais adequados ao mundo de
hoje. Reuniu uma equipe com experiência em educação e colocou às mãos à
obra. “Nós desenvolvemos um conceito de escola baseado no fato de que os
iPads existem”, diz ele. Assim, nas suas escolas, que atenderão
crianças de 4 a 12 anos, todos os alunos terão um desses dispositivos à
disposição. As crianças não serão divididas por séries, mas em dois
grandes grupos por idade: um de 4 a 7 anos, outro de 8 a 12. “Dentro
desses grupos etários, haverá subgrupos com cerca de 25 crianças cada e
um professor/tutor. Teremos momentos em que esses grupos estarão juntos
fisicamente na escola, mas em outros as crianças estarão em algum lugar
do prédio trabalhando em seus iPads ou em alguma sala ou ateliê
específico”, explica.
Tommy Klumker
Nome das escolas são homenagem a
homem que “mudou o mundo ao combinar tecnologia e criatividade”, segundo
criador Maurice de Hond
Como os alunos se reunirão em grupos, mas
também ficarão muito tempo desenvolvendo projetos e atividades sozinhos,
o horário é bem flexível. Todos devem estar na escola no período das
11h às 15h, mas o prédio estará aberto e funcionando das 7h30 às 18h30
para que os alunos possam fazer outras atividades em grupos menores ou
trabalhos específicos antes ou depois do horário principal. “A escola
virtual não fecha nunca”, completa ele destacando que o iPad permite que
as atividades pedagógicas prossigam de casa ou qualquer lugar fora da
escola.
“O iPad é uma ferramenta perfeita para a personalização
do ensino. Com ele, as crianças conseguem se desenvolver fora da zona de
conforto do professor e também sem as limitações de ter que respeitar a
velocidade ou o nível do aprendizado de outros colegas de turma”,
afirma Hond. Para personalizar o ensino, as escolas vão optar por tipos
de aula muito diferentes das tradicionais, divididas por disciplinas. “É
claro que existem alguns componentes básicos, que são conectados com as
línguas holandesa e inglesa (para alunos mais velhos), cálculo e
conhecimentos gerais. Mas isso também será ensinado por ferramentas mais
modernas (…), como aplicativos”, completa ele.
Outra abordagem que será muito utilizada, detalha o
especialista, é a de aprendizagem com base em projetos. “Você pode ter
um projeto sobre um copo de café que inclua componentes de geografia,
história, química, biologia e mais. Ao fazer esses projetos – para os
quais desenvolvemos um app de gestão que permite a comunicação entre os
alunos, os professores e os pais – cada estudante aprende muito mais”,
defende. Na Indonésia:Conheça a magia da escola verde
O iPad é uma ferramenta perfeita para a personalização do
ensino. Com ele, as crianças conseguem se desenvolver fora da zona de
conforto do professor e também sem as limitações de ter que respeitar a
velocidade ou o nível do aprendizado de outros colegas de turma.
E para saber o quanto cada aluno avançou e estabelecer
metas para o período seguinte, uma conversa entre professor, aluno e
pais está prevista para cada cinco ou seis semanas. Isso fica facilitado
porque tudo o que os alunos produzem fica registrado em portfólios
digitais acessíveis a pais e professores. Também por um programa
desenvolvido pela equipe de Hond, o iDesk Learning Tracker, ficam
acessíveis as atividades que os alunos realizam nos aplicativos e seus
desempenhos com relação ao grupo. “Nós queremos que os alunos usem os
iPads também para registrar coisas que saibam ou aprenderem durante os
projetos em várias formas, como vídeos, áudios, foto, e-book, mindmap,
animações. Achamos que isso é um valor agregado novo e revolucionário
que os tablets trouxeram e que realmente vão fazer a diferença”, avalia.
Mas para que os alunos tenham acesso a uma educação tão
diferente, um fator tem sido muito importante: o preparo do corpo
docente. “Os professores que estão participando estão cientes das
mudanças. Nós oferecemos treinamento e formamos uma comunidade de cerca
de 100 professores que vão trocar experiências e ajudar uns aos outros.
Mas, claro, parte desse caminho ainda é desconhecido”, pondera Hond, que
diz vir repetindo aos educadores: “confie nas crianças”, “não queira
assumir o controle de tudo” ou ainda “permita que as crianças te
surpreendam” para mudar o paradigma atual. “Hoje a criança só aprende o
que os professores podem ensinar. Se ela tem talentos fora do escopo do
professor, não se pode fazer nada com essa habilidade dentro da escola”. No Brasil:Tablets substituem livros em escolas brasileiras
Duas escolas Steve Jobs abrem agora em agosto. O nome,
afirma Hond, é para lembrar o homem que “mudou o mundo ao combinar
tecnologia e criatividade” – homenagear pessoas célebres com nomes em
escolas é um hábito na Holanda. Outras nove escolas que gostaram da
proposta também iniciam o próximo semestre adotando o modelo. Na
Holanda, as cerca de 7.000 escolas que atendem à faixa etária dos 4 aos
12 anos são relativamente livres para implementar seus projetos
pedagógicos, desde que cumpram as exigências de qualidade do governo e
mantenham uma média pré-determinada de alunos por professor. O governo
subsidia a manutenção do aluno nessas escolas com cerca de 5.500 euros
por ano.
Agora os movimentos sociais nacionais irão para as ruas.
Bandeiras que a mídia se negou a mostrar por anos a fio estarão estampadas, qualificadas e não estarão aptas a receber grupos paramilitares disfarçados de militantes.
A Globo estará alertada de sua sonegação!
Sim, por incrível que apreça há mais perda de recursos públicos por sonegação do que por corrupção!
A Globo pagou multa por sonegaçao e isso é prova de uma estrutura de pdoer montada desde a Ditadura Militar.
Os movimentos sociais sairão com suas bandeiras, partidos e todos que são autores políticos de qualquer democracia de respeito.
Sou anarquista, mas há inimigos comuns à liberdade e há os que de um modo ou de outro são os nossos aliados e que merecem tanto nossas críticas, respeito quanto nossas forças para impedir o fascismo avançar!
Essa marcha é sobre tudo anti-conservadorismo e anti-fascista!
Não teremos o respaldo da mídia!
Pouco importa! Essas lutas continuarao a despeito da evidência pública, porque chegaram e perdurarão quanto tempo durar as injustiças contra as calsse despriveligiadas, desempregas e fragilizadas por esse sistema exlcudente, desigual, combinado e cruel!
Ontem houve um excesso de acessos neste blog anormal! Creio que a direita está monitorando palavras que tenha medo. Em Prudente os manifestantes politizados estão sendo caçados! Cuidado!
Obviamente que nessas manifestações se verificaram muitas simbologias e praxis anarquistas.
Sobretudo xingados de vandalos e baderneiros. Opinião óbvia dos desinformados.
Não sou de fato a favor de quebrar nada, mas essa cautela da mídia de pasteurizar as ações de crítica e revolta para produzir manifestações boazinhas e comportadas me dá nojo mesmo.
O fato é que eles sabem que em todas a movimentações da história se vai com raiva de tudo para a rua e acaba dando nisso.
Agora, chamar isso de anarquia é escroto!
O a-partidarismo do anarquismo não tem nada a ver com ausência de posições e decisões.
Só consta para os anarquistas que a institucionalização de siglas e de pessoas ao poder não corresponde com uma sociedade total, totalizante de sua consciência de classe.
O problema em si dos partidos é que a representatividade anula os sujeitos sociais na base de sua formação e responsabilidade social.
Não tendo esse amadurecimento político sou pelas federações de federações propostas por anarquistas.
Não tendo nada melhor que partido, deixa essas coisas ai, afinal, o medo de cair no fascismo, do meu ponto de vista é muito maior.
Sou processual, acho que devemos migrar intelectualmente, praxialmente e em ação direta para uma sociedade não representativa, o que não quer dizer que iremos conseguir isso por deliberações verticais.
Tem muito intelectual e jornalistas dizendo que falta verticalidade nessas movimentações.
O excesso de horizontalidade nivela coisas que são iniveláveis. Sim, isso está acontecendo de uma pessoa manifestar do lado do outro com razões objetivos opostos.
Sempre falta dizer que anarquia não é falta de ordem, mas falta de ordem hierarquizada, representativa e autoritária, portanto, que exige uma prática pessoal até mais severa sobre os direitos dos outros e o próprio.
Mais trabalhosa por exigir estar com sujeitos mais engajados em si e no coletivo, por isso é horizontal e tem que ser.
Chamar o a-partidarismo de um problema e culpa de filosofias vagas é uma grande manobra ideológica para atrasar uma formação anti-autoritária e de ação direta.
Vandalos! Vandalos! Vandalos!
Quero chutar a porta ideológica dos bonzinhos intelectuais que só vivem com um servil mal pago limpando suas saletas confortáveis!
Sempre há quem pergunte se numa sociedade anarquista haverá um propósito que substitua a existência de sistema carcerário. A primeira coisa é que sim, haverá sim gente criminosa e haverá condutas para isso! Mas eu não me proponho a ser futurista e nem está ao nosso gosto dizer algo de algo que não há nenhum interesse para o povão! Tem gente que acha que um sistema hospitalar anarquista vai ocrrer transfusão de bosta no lugar de sangue. Veja ai abaixo nesse texto a porcaria que se enfrenta na educação de presos.
Livre docente da USP e ex-preso: "Não é papel da educação mudar o criminoso"
Estudioso do assunto diz que prisões não têm sala de aula, currículos são inadequados e professores são pouco preparados para a educação em regime de privação de liberdade
Cinthia Rodrigues-iG São Paulo|
O professor livre docente da Universidade de São Paulo, Roberto da Silva, mudou totalmente o ângulo do qual olha para o sistema prisional. Depois de ter sido interno da Febem (quando a entidade tinha a tutela de órfãos) e, já adulto, ter passado 10 anos preso na década de 1980, hoje é membro do Conselho Curador da Fundação Casa e pesquisador consultado por todos os governos sobre educação nas prisões. Na entrevista a seguir, ele fala do que mudou - ou não - na educação em regime de privação de liberdade e da diferença entre o que sociedade e governo esperam da escolarização da população presidiária:
ig
O professor Roberto da Silva na sacada de sua sala na Universidade de São Paulo
iG: Já melhorou algo a educação nas prisões?Roberto da Silva: A discussão foi retomada nos últimos seis anos, após 30 anos sem se falar do assunto no Brasil. E muito por força das agências internacionais, como a Unesco e o governo japonês, que financiou o primeiro projeto de educação em prisões no Brasil. Com isso, passou a ter um empenho em organizar seminários pelo Brasil, dos quais participei de quase todos. Daí nasceram algumas ideias que agora estão tomando corpo: primeiro, que deveria haver um projeto político pedagógico, depois que era preciso levar o direito a educação para dentro das prisões e, para isso, era preciso constituir marcos regulatórios. Aí foram aprovadas leis nacionais que obrigaram todos os Estados a elaborar planos, sempre com assessoria e verba do governo federal. Nesse momento praticamente todos os Estados entregaram pelo menos o esboço do projeto, São Paulo foi o último e o que mais destoa dos outros.
iG: Quais são os pontos diferentes do plano de educação nas prisões de São PauloSilva: Estou tentando desconstruir algumas lógicas que o governo do Estado colocou no projeto. Por conta de serem de partidos diferentes, o governo estadual tem dificuldade em aceitar as políticas do governo federal. Quer fazer as coisas utilizando os próprios meios e com isso ignorando as diretrizes nacionais para educação e prisões. Um exemplo: pelo governo do estado não aderir à Universidade Aberta (UAB), criou a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) e agora propõe que a educação em prisões seja toda a distância utilizando a estrutura da Univesp .
iG: O preso estudaria pela internet?Silva: Nem isso, porque na prisão não é fácil usar a rede. Seria utilizando material da TV Cultura, como foi com o Telecurso. Isso é completamente inadequado porque, em se tratando de alfabetização, de elevação de escolaridade e de capacitação profissional com esse público, a relação presencial é fundamental. Se o sujeito já tem dificuldade de ler e escrever, imagina sem a mediação do professor.
iG: Há professores para atuar nessa função? Silva: Outro problema no atual plano do Estado é a designação de professores temporários para atuar na educação em regime de privação de liberdade. Isso dificulta muito porque é preciso dar uma formação inicial e continuada e garantir conhecimento da especificidade do trabalho. Com o temporário o investimento em formação fica comprometido porque a cada ano ele tem que se renovar.
iG: Qual seria a solução? Silva: Estamos discutindo a possibilidade de começar uma formação especializada vinculando as quatro universidades públicas do Estado (USP, Unesp, Unicamp e Ufscar) para formar duas, três turmas para professores que queiram trabalhar em regime de privação de liberdade, tanto nas prisões quanto na Fundação Casa, e depois que se criar uma massa critica suficiente, se abrir concurso público. Poderiam entrar professores que já estão atuando, outros novos e também o quadro da Funap (Fundação de Amparo ao Preso ligada à Administração Penitenciária), que já tem bastante experiência na área. Seria dada nos moldes de um curso de especialização, aí sim poderia ser semi presencial.
“
Não é papel da educação transformar o criminoso em não criminoso, converter as pessoas, diminuir as taxas de reincidência e diminuir a superlotação dos presídios
iG: A situação é melhor hoje?
Silva: Houve avanço significativo, mas há limitações objetivas. Já passamos de 500 mil presos e nenhuma planta das prisões foi concebida com escola, portanto, não tem infraestrutura para receber salas de aula e isso faz com que tudo seja muito improvisado. Só agora o departamento penitenciário nacional elaborou uma planta em que se prevê a existência de pelo menos 10 salas de aula (no modelo padrão que é para cerca de 780 presos). Por isso é difícil pensar na ampliação da oferta de educação. São Paulo, com 198 mil presos, consegue oferecer escolarização para 15 mil presos apenas. Entendida a educação como um direito fundamental da pessoa humana e que essas pessoas privadas da liberdade não puderam ter educação na idade escolar, o poder público tem obrigação do oferecer educação a elas.
iG: A ação de apresentar a educação como forma de reduzir pena foi positiva? Silva: Da parte do Estado nunca houve preocupação de apresentar a educação como um valor. A lógica do estado sempre foi ter mais um artifício, dessa vez a educação, para tentar reduzir a superpopulação. Tanto que há dificuldade em articular os objetivos da educação com os da reabilitação penal. A educação não pode assumir para si a tarefa de melhorar os péssimos indicadores prisionais que o Brasil tem. Não é papel da educação transformar o criminoso em não criminoso, converter as pessoas, diminuir as taxas de reincidência e diminuir a superlotação dos presídios.
iG: O sr. não é uma prova de que educação causa todas essas mudanças? Silva: Sim, mas ainda não é nesse sentido. O papel da educação que o professor assume confortavelmente é o de resolver o problema do analfabetismo, da elevação da escolaridade e da qualificação profissional para competirem pelas oportunidades socialmente criadas. O que o sujeito vai fazer com isso é de livre arbítrio dele, não é o estado nem a educação que vai deliberar sobre isso. Eu escolhi o caminho da educação dentre outras alternativas que tinha. Passei 10 anos na prisão sem poder estudar um único dia.
“
Não basta transpor para as prisões os currículos hoje existentes no sistema regular de ensino porque aqui fora ele já se mostra insuficiente
iG: Que tipo de educação ajudaria nos objetivos de transformação da pessoa?
Silva: Não basta transpor para as prisões os currículos hoje existentes no sistema regular de ensino porque aqui fora ele já se mostra insuficiente. Eles precisam mais de uma educação social do que escolar, da qual a escolar faz parte. Não é que a sociedade descrimine presos ou pessoas com antecedentes criminais. Se eles tiverem as qualificações profissionais que lhes permitam executar as funções que a sociedade quer e precisa com a mesma qualidade das outras pessoas, se tornam úteis socialmente. Agora, os presos sem a qualificação e cheio de jeitos e trejeitos, esses geram a estigmatização e o preconceito.
iG: O sr. acha que não há discriminação pelo passado criminal? Silva: A sociedade tem lugar para todos, você vê, o deficiente físico tem até cota no mercado de trabalho. Antes ele sofria descriminação e preconceito porque era tido como um inútil social, mas a partir do momento que se abriu as escolas para recebê-los e qualificá-los, eles estão disputando vagas no mercado de trabalho com os demais. Sem a qualificação, a descriminação está colocada. Eu penso que o mesmo está ocorrendo com os presos.
iG: E a estrutura escolar da Fundação Casa? Silva: A Fundação Casa tem uma singularidade que para o menor de 18 anos a educação é obrigatória, então quem tem a custódia do adolescente é obrigado a fornecer escola. Por isso a própria construção prevê salas e as exigências de matrícula fazem parte do cumprimento da exigência da medida sócio-educativa. A questão é a qualidade desta educação, de não se conseguir fazer nestas instituições uma escola mais interessante do que a escola da rua. Fica mais no sentido da laborterapia, de preencher o tempo ocioso, de cumprir a obrigação da instituição sem servir ao sujeito.
iG: É o mesmo problema que têm as escolas em geral? Silva: Tem problemas adicionais. Mais da metade dos adolescentes já haviam rompido com a escola antes do cometimento do ato infracional ou, pode se ter como verdadeiro também, que o rompimento escolar foi um dos motivos que o levaram a cometer o ato. Dentro da unidade, quando a educação se torna obrigatória, é difícil fazer este adolescente voltar a ter interesse e readquirir o hábito do estudo, por isso precisa ser significativa, atraente. As pesquisas mostram que, depois que saem da internação, os adolescentes não voltam para a escola, então precisaria ser um esforço de escolarização intensivo na alfabetização, aumento da escolaridade ou recuperação da defasagem série.
iG: Como o sr. vê a proposta de redução da maioridade penal? Silva: Acho que há uma série de manipulação dos dados e das informações. Quem está se manifestando a favor da redução da maioridade penal, fora os políticos tradicionais e os governantes que não deram conta de cumprir sua obrigação, é uma sociedade sem nome. Quando você vê quem é contra a redução, é a OAB, a CNBB, O STF, o STJ, setores importantes das universidades como as faculdades de educação, ou seja, aí é uma sociedade com nome.
“
Se cumprisse todas as obrigações legais éticas e morais que se impõe ao governante, aí nós consideraríamos a possibilidade de alterar a legislação
iG: Mas o sr. acha discutível?
Silva: O governo federal é contra a redução da maioridade porque foi quem investiu durante 23 anos para a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os Estados fizeram muito pouco. O governo federal não quer perder este investimento. Quando você considera o Sistema Nacional de Atendimento Sócio Educativo, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes, a proteção aos ameaçados de morte, tudo foi implantado pelo governo federal e pelos municípios, logo estes querem a plena função do estatuto e que ao longo do tempo se possa fazer uma avaliação quanto a eficácia desse modelo de atendimento. Já os governos dos estados que não fizeram sua obrigação não fizeram investimento para implantação do ECA e agora querem se rebelar contra a ordem estabelecida e mudar as regras do jogo. O adequado seria que primeiro o governo fizesse o que tem de fazer.
iG: O que o governo teria de fazer antes de discutir maioridade penal?Silva: Dotar a Fundação Casa dos instrumentos adequados para se trabalhar a perspectiva sócio educativa da medida, que a mera mudança de nome de Febem para Fundação Casa não garante, e também na construção de unidades menores. Além disso, o fortalecimento das estruturas de garantias dos direitos das crianças e adolescentes. O governo estadual abandonou o Conselho da Criança e do Adolescente, usa este conselho para satisfazer seus próprios caprichos. Não dá a eles as condições que precisam. Não se faz investimento nos conselhos tutelares e praticamente nenhuma medida preventiva no sentido de não realimentar a delinquência infanto-juvenil. Se o Estado fizesse isso e cumprisse todas as obrigações legais éticas e morais que se impõe ao governante, aí nós consideraríamos a possibilidade de alterar a legislação.
iG: No foco que o governador Geraldo Alckmin tem dado, de penalizar os que cometem crimes graves, haveria o que fazer?Silva: Primeiro, o governo já deveria ter criado as unidades especializadas para atender os que cometem crimes graves. Segundo deveria ter criado unidades especializadas para os maiores de 18 anos que podem ficar sob a tutela do ECA (se entraram antes dos 18 anos). Depois, também está errada a orientação dos tribunais de justiça que usam e abusam da internação: 41% dos internos estão lá por envolvimento com drogas, por uso e dependência, o que seria um problema de saúde pública.