sexta-feira, 23 de junho de 2017

Prática de ensino superior e o Método – faça o que vc quiser!



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Uma das maiores dificuldades de voltar para o ensino superior era como encarar a formação obrigatória.

A diferença do ensino fundamental é que se um pai ou mãe não coloca o filho na escola pode ser processados por abandono intelectual, mas um estudante universitário não é obrigado a cursar uma graduação. Ele precisa querer e tem que agir para isso!

Notei que uma das coisas mais difíceis de inspirar em um graduando é a pro-atividade no próprio conhecimento, pois muitos deles acreditam de fato que quem vai fazer avançar é um bom professor, com ótima didática e pedagogia incólume.

Na pedagogia anarquista o auto-aprendizado e autonomia do sujeito para busca do conhecimento é a chave para formar uma pessoa menos arredia ao saber e que aja diretamente empenhado consigo e respeitando o mesmo processo nos seus ambientes coletivos.

Reconheço que a maioria é fruto de uma educação constrangedora aonde o professor melhor era sempre o que forçava, exigia, pressionava, metia medo se opondo ao bom ou boa professora cândida, doce, afável e agradável, assim, o critério era a afetuosidade ou o grau de tirania que cada um se localizava. Num caso e no outro é a educação obrigatória que faz o professor se colocar num papel ou outro por sua insegurança de bonzinho ou carrasco.

A maior dificuldade do ensino superior é verificar estudantes e assessorar para que eles comecem a buscar livros, fóruns, grupos e situações que ampliem sua necessidade intelectual ou a que lhe caiba. É ele ou ela pegar um livro ou uma linha de pensamento e seguir.

O professor universitário, mesmo não desejando ser, representa um nível de violência simbólica, pois detém um conhecimento, uma bagagem de leitura e de discussão que o favorece diante de uma classe que tanto tem dificuldade de entender aspectos da teoria, como não acredita que o que está lendo está alterando a sua maneira de ver os fenômenos.

Óbvio que o conhecimento muda a maneira de ver amigos, familiares, políticos e a sociedade e ocorre uma resistência monumental em permanecer a mesma pessoa, não modificar e embora queiram um diploma para alguma finalidade, negam que a formação proativa mudará toda a sua forma de verem as coisas, isso, ainda que ao longo da vida não irá parar. A vontade de ser o mesmo joga um papel de resiliência negativa. Desejam mudar salário, dignidade, respeito, modo de olhar a vida, porém,  seguem um padrão conservador, das crenças, das ideologias, dos saberes acumulados em seus meios e da própria relação com o conhecimento.

Assim, o modelo de um professor qualificado na graduação é um que lê muito, coloca muitos textos à disposição e em geral os faça sentir anulados intelectualmente e reféns desse professor seguinte as suas exigências. Muitos professores de graduação se sentem bem nesse papel de exigir artigos, leituras, fichamentos e provas. Talvez tão apegados às suas disciplinas que a única coisa que um estudante de graduação tem que fazer é ler, digerir e ter um imenso mal estar de ainda assim se sentir burro.

Juntando resistência a mudar e a dos docentes esmerados em suas epistemologias, não há tempo para entender e estimular estudantes a quebrarem suas resistências e auto sabotagens contra o processo de auto didatismo. E parece que a maioria do professores uníssonos reclamam que fora seus grupos de pesquisas as classes são arrastadas por chicotes pedagógicos nas cobranças de leituras, debates e escrita.

Tentei mudar isso. Abri mão de seguir um receituário de textos. Deixei dois textos básicos à disposição. E pedi simplesmente que dentro do que eles compreendiam que a disciplina oferecia e como futuros que fizessem um projeto que tivesse coerência, prazer, curiosidade pessoal no tema. FAÇAM O QUE QUISEREM!

Apenas lhes garanti que ocorreriam duas provas escritas para eu diagnosticar como eles se expressavam em escrita formal e que seria muito exigente nessa análise, mas só daria nota a elas e as consideraria se pedissem individualmente, pois a mim interessava o trabalho.

No absurdo da explicação eu disse: Se decidissem fazer uma feijoada ou uma festa poderiam fazer, desde que explicassem e dialogassem a relação com a disciplina. Foram mais de 16 créditos explicando a liberdade pedagógica. Havia horas que percebi até dor em alguns estudantes. Ocorreram reclamações no departamento pelo linguajar e outras questões didáticas, mas o pavor consistia na liberdade obrigatória.

Para não obrigá-los a serem livres disse que se exigissem provas que lessem os textos e me exigissem a prova quando se sentissem necessitados desse modelo arcaico. Nesse período de experiência notei que pedir para fazer algo que desse prazer ou gostassem era quase ofensivo.

Sugeri a quem não quisesse aceitar a proposta que poderiam ir embora que eu daria a nota mínima. Sugeri que se quisessem só aparecer para apresentar o trabalho que eu não reprovaria por falta. A descrença, medo, desconfiança foi confirmada com a palavra APRESENTAÇÃO!

As aulas virariam encontros de orientação e nada sobre a disciplina como um todo. A partir dessa escolha e da orientação eles iriam escolher a forma de concluir esse trabalho. Eu intuía que muitos iam achar a lógica do seminário a melhor forma. Mesmo dizendo que poderia ser artigo, dinâmicas, atividades externas, teatro, festa e qualquer coisa que se sentissem bem.

Quando percebi que se avizinhava o fim do período eu fui obrigado a fazer um sorteio para que eles começassem a apresentar os trabalhos. Eis que o sentido de apresentar era aquele de fazer seminários. Tive que intervir e dizer que seminários era muito passivo e eu queria que as pessoas se mexessem e que isso não teria nenhum papel no exercício de docência futura estar parado na frente utilizando um Power Point sequencial.

Quando perceberam que a lógica do seminário não iria ter efeitos e que precisavam se envolver com o tema, começou outra fase de desconforto. Uma parte compreendeu desde o início a comunicar de diversas formas. A maioria foi só compreendendo na medida que avaliava as apresentações e práticas sugeridas.

Houve exposições guiadas sobre a condição dos idosos, história da pornografia, reprodução de chãos de fábrica e fabricação, dinâmicas com os estudantes, apresentação de miniaturas, apresentação de práticas de ensino reproduzindo exemplos das nossas aulas, pesquisas de campo, vídeos entrevistas e a práticas diversas.

Ocorre que a UEPB entrou em greve e tive que interromper esse processo e não sei o que será mostrado quando reiniciar as aulas. Tenho, pelo visto a impressão que consegui alcançar o objetivo, mas não posso dimensionar os efeitos. A fama de irresponsável correu corredores.

As disciplinas que orientei foi de geografia econômica e da população. Esta foi a primeira vez que tentei experimentar numa instituição formal alguns preceitos da pedagogia anarquista, sabendo que todo ensino autoritário apreendido ao longo da vida dessas pessoas ia ficar batendo e sendo confrontado, que a interpretação dessa prática ia ser mal vista.

No entanto, do período anterior para esse não terminado eu penso que tenha mudando ou favorecido  outra forma de eles entenderem o compromisso do aprendizado não pode partir de cobranças externas, mas da própria pro - atividade em sentido ao conhecimento.

As conclusões parciais é que mesmo sabendo do constrangimento e náusea e/ou desconfiança dos graduandos em relação aos docentes, que agir pela autonomia do sujeito pode doer em docentes zelosos e abscedidos/obcecados a ensinar. Viciados em ensinar, predestinados a ensinar, iluminados a ao ensinar e ultra auto exigidos ensinar, o que os faz sofrer violentamente ao abrir mão de suas vastas bibliografias extenuamente estudadas.

Tentar não ensinar é o que mais pode doer ou contrariar docentes que se sentem sagrados em suas disciplinas. Quanto a mim, despojei-me disso, pois o ato de estudar pelas próprias decisões é o único legado verdadeiro que uma pessoa com pós-graduação não pode fingir que desconhece.


PS: A resistência a mudar é grande e deve ser um esforço coletivo. Ao se forçar a liberdade os estudantes ainda inseguros tende a fazer o formal e rotineiro. Num ambiente aparentemente livre as regras invisíveis já estão estabelecidas. Professor fala, estudante assiste, professor reclama, estudante reclama e opressão oprimido ocorre como normal. Ao fim que se enfiei uma nota e siga o curso. A falta de autonomia dos sujeito cria um ambiente de trapaças e de falsas satisfações. O trabalho docente em geral é mediado por uma nota que pouco diz e é muito desejada, mais que o desenvolvimento pessoal. Perder essa ordem tanto da parte do professor como do estudante é quase criminosa...alguém tem que mandar....