segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Recusadores de escolas


Em inglês se denomina School Refusals. Em francês é “Le rejet de l’école” e no Japão “toko kyohi ou futoko” significando a recusa patológica da escola formal.No Brasil o que se encontra mais próximo dessas designações é Transtorno de Ajustamento com Humor depressivo ou TA. Esta fobia de frequentar a escola pode atingir de 1 a 5% da população até o nível universitário na Inglaterra.

Como alguns artigos a tratam como algo patológico definem seus sintomas quais são: crises de angustia semelhantes a fobia de serpentes, aranhas, ratos, síndrome de pânico incontrolável, crise de choros, dores abdominais, náuseas e vômitos, taquicardia e distúrbios de sono. Só a definição Brasileira fala de humor depressivo e depressão infanto-juvenil.

Para quem está de fora julga tais reações como desproporcionais e exageradas. E uma das causas dessa condição é fruto do medo de julgamento alheio, tais como professores, parentes, colegas que juntas expressões exageradamente sentidas terrificam a criança ou jovem por uma falta de confiança em si mesmo e indicam cuidados através de tratamentos com pedopsiquiatra.

No Brasil o TA pode surgir no desenvolvimento da criança. As situações traumáticas desencadeadas por estresse decorrentes de separações, nascimento de um irmão, ou também situações de mudanças, podem ser fatores desencadeantes para o quadro de TA com humor depressivo nas crianças. O TA pode causar fracasso escolar, com baixa auto-estima, ansiedade, insônia, queixas somáticas, inapetência, cansaço e perda dos interesses habituais como esporte e lazer. Esse quadro, associado a muita expectativa dos pais, tende a prolongar a reação depressiva devido a um efeito cumulativo de estresse.

As tipificações e qualificações de sintomas variam segundo as escolas de psiquiatria, mas o que nelas há em comum é que as crianças e jovens recusadores de escolas podem evoluir para depressão ou no baixo rendimento escolar.

Tentam os psiquiatras utilizar anti-depressivos ou medicamentos que reduzam ansiedade e sintomas que levem a esse quadro. Se os fatores desencadeadores são externos e algumas crianças os recebem e processam de modos distintos as frustrações, algumas assimilando e dissipando, outras introjetando e podem não conseguir superar essas reações de rejeição escolar.

O problema da palavra transtorno é que reputa toda a responsabilidade ao indivíduo, a criança ou jovem é que possuem o TA e não a escola inadequada ou que tenta adequar todos e todas a um ambiente de opressão que gera esses efeitos colaterais ou centrais. Centrais ou objetivo principal que é o de domesticar a aceitar um pacote do Estado, da família e do entorno social ao jovem.

No Japão problema é tão grave que há 26 mil casos no ensino infantil e 123 mil no fundamental (1,22% da população escolar japonesa em 2004) e não há dados no ensino médio por não este não ser obrigatório naquele país. O Ministério da Educação Japonês reconheceu este problema como de saúde coletiva e há locais dedicados a essa condição de recusadores de escolas chamadas de Escolas Livres aonde não há aulas, mas sim um em sistema flexível cuja função não é substituir a escola, mas sim um centro de re-adaptação ao ambiente escolar formal.

As Escolas Livres no Japão são pagas, já que o sistema público segue a orientação de atender igualmente a todas as crianças sem distinção ou especificação, por isso são poucas Escolas Livres para atender a demanda, mas há fundos públicos para favorecer seus funcionamentos. O fundamento é semelhante ao das escolas democráticas no mundo em que a criança e jovem escolhem o que desejam estudar em conjunto ou individualmente em acordos coletivos ou públicos e sistema de assembléias infanto-juvenis definidos por seus interesses, ritmos para favorecer a superação dessa condição de rejeição aos ambientes que gerem estresse pelo excesso de expectativas sobre eles.

Com anteriormente enunciado, a educação compulsória tem esses efeitos centrais de desmontar os sonhos, processos e incluem demanda excessiva ou muito externa ao indivíduo.

No caso do Brasil, onde está essa população de rejeitadores de escolas?? Estariam nas estatísticas de evasão escolar na educação pública. Seriam esses os famosos indisciplinados ou diagnosticados com os transtornos outros de déficit de atenção ou hiperatividade. Apatias, depressão, má vontade de despertar, perda de sentidos ou de desejos, reclusão em jogos eletrônicos e agressividade com pais e parentes. Dentre os motivos alegados para a evasão dos alunos do ensino fundamental  (1ª a 4ª séries/1º ao 9º ano) são: Escola distante de casa, falta de transporte escolar, não ter adulto que leve até a escola, falta de interesse e ainda doenças/dificuldades dos alunos e “ajudar” os pais em casa ou no trabalho, necessidade de trabalhar, falta de interesse e proibição dos pais de ir à escola são motivos mais frequentes alegados pelos pais a partir dos anos finais do ensino fundamental (5ª a 8ª séries) e pelos próprios alunos no Ensino Médio.

Então, ouço de uma amiga professora do México:

Lo que son los niños... Aquí en el fraccionamiento anda una bola de criaturas jugando en el área verde gritando "que haya terremoto pa no ir a la escuela"... Lo q es la inocencia! (post face book Lucy Zamudio)

No que tange a escolas públicas a rejeição à escola advém da sua perda de importância ou fragilidade diante das novas tecnologias e velocidade de informações. A escola foi vetor de opressão do Estado e em países de capitalismo avançado da opressão de mercado.

A pergunta motivadora desse texto é saber se há lugar para um projeto de escola Live para adolescente recusadores de escolas e que caiba na compreensão da dimensão da autonomia do sujeito e se os pais e mães compreenderiam que a pessoa só aprende em condições de acordo consigo mesmo e não por imposição.

Bibliografia

Alternative Education in Japan: Free schools. https://educationinjapan.wordpress.com/education-system-in-japan-general/alternative-education-in-japan-introduction/alternative-education-in-japan-the-conte

Alice GORDENKER. When one-size-fits-all schooling doesn’t fit. https://www.japantimes.co.jp/life/2002/05/03/lifestyle/when-one-size-fits-all-schooling-doesnt-fit/
School Refusal. https://adaa.org/living-with-anxiety/children/school-refusal
Mon enfant n'aime pas l'école. http://sante-medecine.journaldesfemmes.com/contents/873-mon-enfant-n-aime-pas-l-ecole

Lee Fu I, Eliana CURATOLO, Sonia FRIEDRICH. Transtornos afetivos. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462000000600007
http://www.infoescola.com/educacao/evasao-escolar/