domingo, 29 de junho de 2014

Linguagem anti-sexista e espaço na pedagogia anarquista.



Sempre parto do pressuposto que a principal conquista e ponto de partida para os anarquistas em seus pressupostos é erradicar a opressão contra a mulher, mesmo antes de qualquer outra questão de gênero. Talvez eu seja exageradamente foucaultiano sobre a sua tese de micro poderes, da qual li trechos de modo superficial. Pirateei confesso! (não siga meu exemplo).
Em alguns meios feministas, anarquistas, libertários de países de língua latina afirma-se que a linguagem é dominada pelo gênero masculino o que produz um discurso sexista em permanência. Assim, alguns pedagogxs sugerem para essas línguas que ao mudar a ênfase com palavras neutras substituindo por @, X e etc. seria possível corrigir ou reduzir a dominação masculina explícita e dissimulada pela expressão falada e escrita.
A tese é interessante, mas em países de língua inglesa ou que o gênero não determina a linguagem o machismo não se mostra particularmente menor do que nos países em que o gênero masculino domina a linguagem.
Então, se o machismo e sexismo não são reforçados apenas pela definição de gênero na linguagem, onde a educação antissexista ganha num país mudando a escrita e a fala? E num pais que isso não se define, como a educação antissexista pode ser legitima? Uma pessoa machista que muda para um país de língua inglesa, não deixa de ser sexista por isso, tal como uma pessoa ciente do problema não se torna sexista ao falar português ou espanhol.
Talvez a linguagem definida pelo gênero mereça em alguma fase da educação ser questionada e re-praticada. Nesses casos todos ainda é prioritário construir uma educação em que as mulheres sejam capazes de achar que o discursos e práticas com seus princípios e humanistas ocorram, vivam e nos movam.
Adotando-se uma grafia e fala antissexista não fará uma sociedade menos machista. O comportamento sexista e machista parece ser mais eficiente do que as formas discursivas! Talvez, em outros campos do concreto e do conteúdo comportamental e discursivo, urgentemente, se precise preocupar os pedagogos libertários.
Nisso eu percebi na Escola Paideia (Espanha) uma primeira fagulha que me parece uma linha interessante e exploratória rica para nós. A questão de gênero se faz também pela maneira como as mulheres e homens dividem a ocupação do espaço. Espaços reclusos, finitos e horizontais são os femininos e espaços amplos e tridimensionais e infinitos masculinos.
A educação espacial e forma de ambos, meninos e meninas experimentarem e se apropriarem do espaço é mais desafiadora e promissora do que a oferta de brinquedos sem gênero!
Tenho a impressão que a subjetividade e objetividade da percepção e uso do espaço, se não é a mais transformadora, no mínimo é inescapável em alguma fase evoluída da educação social que um dia vier! Como fortalecer uma pedagogia antissexista sem criar ilusões e agravar preconceitos!? Eis um desafio que a escola formal está incapacitada de usufruir!