Sempre parto do
pressuposto que a principal conquista e ponto de partida para os
anarquistas em seus pressupostos é erradicar a opressão contra a
mulher, mesmo antes de qualquer outra questão de gênero. Talvez eu
seja exageradamente foucaultiano sobre a sua tese de micro poderes,
da qual li trechos de modo superficial. Pirateei confesso! (não siga
meu exemplo).
Em alguns meios
feministas, anarquistas, libertários de países de língua latina
afirma-se que a linguagem é dominada pelo gênero masculino o que
produz um discurso sexista em permanência. Assim, alguns pedagogxs
sugerem para essas línguas que ao mudar a ênfase com palavras
neutras substituindo por @, X e etc. seria possível corrigir ou
reduzir a dominação masculina explícita e dissimulada pela
expressão falada e escrita.
A tese é
interessante, mas em países de língua inglesa ou que o gênero não
determina a linguagem o machismo não se mostra particularmente menor
do que nos países em que o gênero masculino domina a linguagem.
Então, se o
machismo e sexismo não são reforçados apenas pela definição de
gênero na linguagem, onde a educação antissexista ganha num país
mudando a escrita e a fala? E num pais que isso não se define, como
a educação antissexista pode ser legitima? Uma pessoa machista que
muda para um país de língua inglesa, não deixa de ser sexista por
isso, tal como uma pessoa ciente do problema não se torna sexista ao
falar português ou espanhol.
Talvez a linguagem definida pelo gênero mereça em alguma fase da
educação ser questionada e re-praticada. Nesses casos todos ainda é
prioritário construir uma educação em que as mulheres sejam
capazes de achar que o discursos e práticas com seus princípios e
humanistas ocorram, vivam e nos movam.
Adotando-se uma
grafia e fala antissexista não fará uma sociedade menos machista. O
comportamento sexista e machista parece ser mais eficiente do que as
formas discursivas! Talvez, em outros campos do concreto e do
conteúdo comportamental e discursivo, urgentemente, se precise
preocupar os pedagogos libertários.
Nisso eu percebi na
Escola Paideia (Espanha) uma primeira fagulha que me parece uma linha
interessante e exploratória rica para nós. A questão de gênero se
faz também pela maneira como as mulheres e homens dividem a ocupação
do espaço. Espaços reclusos, finitos e horizontais são os
femininos e espaços amplos e tridimensionais e infinitos masculinos.
A educação
espacial e forma de ambos, meninos e meninas experimentarem e se
apropriarem do espaço é mais desafiadora e promissora do que a
oferta de brinquedos sem gênero!
Tenho a impressão
que a subjetividade e objetividade da percepção e uso do espaço,
se não é a mais transformadora, no mínimo é inescapável em
alguma fase evoluída da educação social que um dia vier! Como
fortalecer uma pedagogia antissexista sem criar ilusões e agravar
preconceitos!? Eis um desafio que a escola formal está incapacitada
de usufruir!