Tradução precária: eu
SPRINGER, Simon. As
raízes do anarquismo e a Geografia: em sentido à emancipação espacial.
Por
John Clark*
Os
leitores que desejarem descobrir evidências do anarquismo na Geografia precisam
saber que elas estão vivas e passam bem se lerem este livro. O autor, Simon Springer,
é um dos mais ativos intelectuais anarquistas de nossos dias. Em 2016, Springer
escreveu dois livros e editou 5 outros além de vários artigos, alguns técnicos,
tematizados na perspectiva anarquista e profundamente preocupado com as lutas
contemporâneas.
A vivaz polêmica “Foda-se o
Neo-liberalismo” teve mais de 50.000 acessos nas redes sociais.
O subtítulo é uma boa indicação de
sua proposta. Ele trata de um projeto de libertação da humanidade e da natureza
de todas as formas de dominação. Com grande paixão e eloquência, Springer
conclama a uma volta às raízes geografia radical e aos conceitos anarquistas de
engajamento social e político. Através
dessa geografia da autonomia e da solidariedade, “configura-se o desejo por uma
política radical que seja capaz de conquistar o impossível”.
Springer discorre que o anarquismo
como tema contemporâneo tal como a biopolítica e a teoria do rizoma , mas também olha para trás retomando
os pensadores anarquistas clássicos, mostrando suas teses cabais contra a
hierarquia e dominação. Há uma dedicação e reconhecimento da importância de um
grande intelectual, filósofo, político e geógrafo do séc XIX, Elisée Reclus.
Springer se inspira em Reclus no que
tange ao anarquismo comunitário e o projeto de uma geografia universal, de fato
uma geografia solidária, qual comparável com o Budismo e Daoismo que
interconecta todas as coisas.
Ele também segue Reclus unindo a
estética e a ética, proclamando que “estamos prontos para a beleza”. Para Springer,
a utopia não é um ideal distante, mas presente no aqui agora. Ele faz eco as
palavras de Reclus acreditando que é crucial uma sociedade amorosa e
inteligente para ocorrer uma profunda transformação social, prefigurando assim
a ideia anarquista de grupos de afinidade como base da sociedade livre.
Springer explica que a ética da não
violência é o cerne do anarquismo e ainda observa que a oposição ao Estado é baseada
na rejeição da violência organizada exigindo maior força de organização com a
sociedade já que o anarquismo tem compromisso inabalável pela não-violência e
de absoluta condenação da guerra. Deste modo, ele se filia à tradição
anarquista-pacifista que tem seus fundamentos em Tolstoy, Thoreau e Doroty Day.
Isto também se aplica a suas
críticas à dominação colonial, investindo também contra o Estado centralizador
implantando como base de poder desde o início do processo de expansão
(conquista) colonial.
Springer escreve que “o pós
colonialismo” em qualquer sentido requer um pós-Estatismo ou anárquico que
tenha um olhar em tradição inspirada no não-estatal. Nós devemos ir contra a
alienação e contra a opressão do povo através da saber tradicional e revoluções
contemporâneas pragmáticas como as indígenas do Zapatismo que possuem profundo
entendimento histórico e de experiência baseada no conhecimento da destruição
provocada pelo capitalismo e pelo Estado Centralizados.
Finalmente, Springer faz críticas ao
urbanismo naquilo que observa estar profundamente infectado pela ideologia
hierárquica enviesada com o poder central e com modelos de especulação urbana.
Na leitura anarquista da urbanidade “os valores incorporados no espaço público
são aqueles definidos pela a democracia”.
O espaço público advém do espaço
de auto determinação através de comunidades livres. Springer constrata “o
espaço Disneylandia do capitalismo neo-liberal extraído de sua especificidade geográfica
com espaço de não-domínio da comunidade anarquista.
Conclui suas observações com o
pensamento de esperança que os lugares irão se libertar, nos quais surgirão
novas possibilidades para a realização do bem, da bondade, liberdade e da
criatividade que estarão sempre presentes e prontas para emergir. Nós necessitamos
de políticas de possibilidades, vivendo um despertar, com engajamento na vida
dos lugares que nós próprios tenhamos como horizonte.
Springer é otimista sobre essas
políticas por dois motivos. O primeiro decorre de uma longa e rica história de
realizações com possibilidades criativas vindas desde as sociedades tribais e das grandes revoluções até as experiências
comunitárias atuais.. O secundo motivo vem da emergência de possibilidades
inerentes à verdadeira estrutura da realidade.
Nós vivemos num universo de
liberdade e de criatividade. Nós devemos sempre falar que temos em nossa
natureza a liberdade e criatividade própria.
*John Clark vive em Nova Orleans e em Bayou la
Terre na costa florestal do Golfo do México. Ele tem longa história de ativismo
na Ecologia radical e nos movimentos de anarquismo comunitário e presente nas
lutas de resistência com Bayou Bridge Pipeline. Diretor do Instituto Terra para
a Comunidade e Ecologia.