Dan foi a primeira
pessoa de origem nipônica que vi na minha vida em Leopoldina-MG em
1970 além do UltraSeven e UltraMan (aqueles seriados japoneses de
monstros gigantes mal feitos que sempre quase matam os heróis antes
de morrerem). Sempre me preocupei com os japoneses mortos por aqueles
monstros.
Na minha infância eu
soube de um acidente com a família de Dan que ceifou a vida da esposa
e de um dos filhos. Ficou ele e dois filhos.
Ao longo da vida eu
soube que ele produzia legumes. Creio ele ter sido da leva dos
japoneses que participaram da revolução verde no Brasil. Embora
tenha migrado na década de 1960.
Com 18 anos eu tive
contato com Dan para criar abelhas no sítio dele. Nessa época ele
vivia com uma camponesa e criava rãs, que alimentava entre outras
cosias com minhoca californiana e criava peixes de aquário. Em uma
de nossas conversas disse que queria desde jovem vir ao Brasil e o
pai dele disse que sim, desde que ele fizesse um curso superior.
Tornou-se agrônomo e partiu para o Brasil.
Isso era 1989, um dia
ele contou outra história: Antônio! O cavalo quando é novo pode
quebrar o casco que ele se forma rapidamente, mas quando ele fica
velho, o casco não se quebra mais, pois a recuperação é mais
lenta. Eu nem sei se casco de cavalo racha?
Mas na época eu tive
impressão de que ele me dizia que não estava mais na idade de
refazer a vida e queria que ela se solidificasse.
No final de 2012 eu o
reencontrei. Queria vê-lo e dizer dessa história que carreguei
comigo por mais de 20 anos.
Inicialmente me
contaram amigos que Dan tinha voltado para o Japão. Depois me
disseram que ele já voltara para Leopoldina e participava da feira
de produtores da Emater.
De fato o encontrei.
Ele mudou-se para o Japão alguns anos depois de minha partida em
1991 para auxiliar o pai, que reza a lenda era um reitor de
universidade no Japão, mas nunca perguntei se era verdade. Viveu por
16 anos no Japão, sendo 10 anos cuidando do pai até seu
falecimento. No últimos seis anos antes do retorno em 2010 ele
trabalhou numa escola pertencente aos brasileiros como motorista do
ônibus escolar.
Ele me contou que os
proprietários não sabiam japonês e ignoravam as documentações
governamentais. Ele os auxiliou a organizar as papeladas, pois era o
momento que a crise já expulsava brasileiros para o Brasil e muitas
escolas se fechavam. Até ofereceram um cargo de mais
responsabilidade para ele, mas Dan recusou, disse-me: Estou muito
velho para ser líder, posso apoiar alguém, mas não tenho pulso
duro para tomar as decisões mais difíceis! Continuou a ser
motorista.
Dan contou-me que num
certo dia comerciante e freguesa num lugar viram o ônibus dele com
inscrições em português e começaram a falar que brasileiros
éramos assassinos, ladrões e traidores, isso creio eu em
decorrência de alguns fatos passado entre brasileiros nessa
derrocada econômica de alguns migrantes!? Ele disse que os dois
achavam que ele não entendia bem o japonês. Então ele retrucou
falando que esses crimes ocorriam também entre japoneses. Nos
defendeu!
Eu perguntei se lá,
no Japão, era organizado?
- Japão muito né!? Respondeu-me.
Continuei: Dan, você não se incomoda com a bagunça do brasileiro?
- Japão muito né!? Respondeu-me.
Continuei: Dan, você não se incomoda com a bagunça do brasileiro?
- Bagunça brasileiro
bom né!? e abriu sorrisão com os dentões dele!
Finalmente contei a
história do casco do cavalo para ele!
E ele me disse que
nem fazia ideia que tinha contado algo parecido a mim!
Pois, a vida dele deu
três reviravoltas e após viver os últimos anos com seu pai, ser
motorista de escola de brasileiros no Japão, voltou ao Brasil para
vender verduras aos 72 anos em boa forma!
Pena não usar
agrotóxico né?! Foram suas palavras ao vender um molho de couve a
0,40 centavos diante de mim!