sexta-feira, 19 de setembro de 2014

História do primeiro Japonês que eu conheci!



Dan foi a primeira pessoa de origem nipônica que vi na minha vida em Leopoldina-MG em 1970 além do UltraSeven e UltraMan (aqueles seriados japoneses de monstros gigantes mal feitos que sempre quase matam os heróis antes de morrerem). Sempre me preocupei com os japoneses mortos por aqueles monstros.
Na minha infância eu soube de um acidente com a família de Dan que ceifou a vida da esposa e de um dos filhos. Ficou ele e dois filhos.
Ao longo da vida eu soube que ele produzia legumes. Creio ele ter sido da leva dos japoneses que participaram da revolução verde no Brasil. Embora tenha migrado na década de 1960.
Com 18 anos eu tive contato com Dan para criar abelhas no sítio dele. Nessa época ele vivia com uma camponesa e criava rãs, que alimentava entre outras cosias com minhoca californiana e criava peixes de aquário. Em uma de nossas conversas disse que queria desde jovem vir ao Brasil e o pai dele disse que sim, desde que ele fizesse um curso superior. Tornou-se agrônomo e partiu para o Brasil.
Isso era 1989, um dia ele contou outra história: Antônio! O cavalo quando é novo pode quebrar o casco que ele se forma rapidamente, mas quando ele fica velho, o casco não se quebra mais, pois a recuperação é mais lenta. Eu nem sei se casco de cavalo racha?
Mas na época eu tive impressão de que ele me dizia que não estava mais na idade de refazer a vida e queria que ela se solidificasse.
No final de 2012 eu o reencontrei. Queria vê-lo e dizer dessa história que carreguei comigo por mais de 20 anos.
Inicialmente me contaram amigos que Dan tinha voltado para o Japão. Depois me disseram que ele já voltara para Leopoldina e participava da feira de produtores da Emater.
De fato o encontrei. Ele mudou-se para o Japão alguns anos depois de minha partida em 1991 para auxiliar o pai, que reza a lenda era um reitor de universidade no Japão, mas nunca perguntei se era verdade. Viveu por 16 anos no Japão, sendo 10 anos cuidando do pai até seu falecimento. No últimos seis anos antes do retorno em 2010 ele trabalhou numa escola pertencente aos brasileiros como motorista do ônibus escolar.
Ele me contou que os proprietários não sabiam japonês e ignoravam as documentações governamentais. Ele os auxiliou a organizar as papeladas, pois era o momento que a crise já expulsava brasileiros para o Brasil e muitas escolas se fechavam. Até ofereceram um cargo de mais responsabilidade para ele, mas Dan recusou, disse-me: Estou muito velho para ser líder, posso apoiar alguém, mas não tenho pulso duro para tomar as decisões mais difíceis! Continuou a ser motorista.
Dan contou-me que num certo dia comerciante e freguesa num lugar viram o ônibus dele com inscrições em português e começaram a falar que brasileiros éramos assassinos, ladrões e traidores, isso creio eu em decorrência de alguns fatos passado entre brasileiros nessa derrocada econômica de alguns migrantes!? Ele disse que os dois achavam que ele não entendia bem o japonês. Então ele retrucou falando que esses crimes ocorriam também entre japoneses. Nos defendeu!
Eu perguntei se lá, no Japão, era organizado?

- Japão muito né!? Respondeu-me.

Continuei: Dan, você não se incomoda com a bagunça do brasileiro?
- Bagunça brasileiro bom né!? e abriu sorrisão com os dentões dele!
Finalmente contei a história do casco do cavalo para ele!
E ele me disse que nem fazia ideia que tinha contado algo parecido a mim!
Pois, a vida dele deu três reviravoltas e após viver os últimos anos com seu pai, ser motorista de escola de brasileiros no Japão, voltou ao Brasil para vender verduras aos 72 anos em boa forma!
Pena não usar agrotóxico né?! Foram suas palavras ao vender um molho de couve a 0,40 centavos diante de mim!