quarta-feira, 5 de março de 2014

Cooperativa Longo Maï a minha primeira experiência coletiva


Entre maio de 1991 e dezembro de 1993 vivi em Longo Maï-França. Ai tive a primeira experiência coletiva de minha vida. Nesse período passei os primeiros meses com uma equipe de marcenaria em Forcalquier/Limans. Depois me mudei para outra fazenda Longo Mai em Treynas, distrito de Chanéac, na Alta -Ardèche onde cuidava de ovelhas e animais da fazenda. Antes de partir vivi seis meses em Mas de Granier, em Saint-Martin-de-Crau, onde cuidava de legumes orgânicos, participava das feiras livres. Em cada um desses lugares tive experiência que me marcaram.

A minha preocupação com ações coletivas se iniciaram bem cedo em minha vida. Durante os anos de 1983 e 85 tive conhecimento teórico do cooperativismo na escola agrícola e esse tema sempre tomava meu máximo de idealismo juvenil, acima inclusive de minha autonomia econômica.

O desejo por processos sociais e coletivos começaram cedo, mas transitavam entre o idílico e autossuficiência rural. Dessas experiências vistas e algumas parcialmente vividas, associadas o naturalismo criou-se em mim um aspecto sectário e de entrega monástica.

Em 1991 soube da existência de uma comunidade na França através de minha irmã. Ela me informava que Longo Mai recebia jovens do mundo inteiro e que seria uma boa experiência se eu juntasse dinheiro para comprar a passagem e ver o que era isso.

Na época eu criava abelhas em Leoldina-MG. Tinha parceria com fazendeiros e cuidava de 30 colmeias. Vendia o mel e a própolis no Rio de Janeiro. Com esses ganhos e com muita ajuda eu comprava dólares para não ser corroído pela inflação agressiva da década de 1980. Pus-me a estudar francês com um professor que vivia em Leopoldina, que sempre amou a língua, mas nunca conseguiu viver em país francófono.

O que eu entendia de Longo Mai era que tinha um caráter político de esquerda, mas isso passava pela minha cabeça como um local de ações humanitárias. A percepção do que era coletivismo, organização e ações políticas eu só fui compreender quando lá cheguei.

Ao chegar na França eu não entendia nada do francês falado. Por sorte em Avingon, quando desembarquei na estação de trem, consegui encontrar um estacionamento debaixo da estação, que de fato era uma rodoviária. La estava escrito o horário do ônibus para a cidade de Forcalquier.

Forcalquier era uma dessas pequenas cidades do interior da França com poucos habitantes. Os telefones haviam acrescido um número na época e eu não conseguia fazer contato. Essa experiência de não saber me comunicar e ter que me virar me deu para o resto da vida a compreensão próxima do que é uma pessoa analfabeta e surda.

A cada pessoa de Forcalquier que eu perguntava e me dirigia eu não era bem tratado. Depois soube que Longo Mai não era muito querida na época por algumas pessoas da cidade. Entrei num bar e um camarada de bota, chapéu e adereços de cowboy puxou ou eu puxei assunto. Ele ia para Longo Mai e que eu esperasse ele tomar umas doses de Pastis (um extrato de anis estrela alcoólico que se adiciona 4 partes de água, no Brasil chama-se Arak). Achei engraçado e meio cafona, mas foi a única pessoa que entendeu para onde eu ia. Era um dia quente e o carro dele era uma kombi adaptada como uma casa.

Assim comecei a ver a terra seca, pastagem de característica árida que aprendi ser a paisagem mediterrânea da Provença. A ansiedade de chegar naquele lugar era incrível. Língua estranha, lugar diferente e totalmente descolado das coisas que me davam segurança.

Uma brasileira morava no local e me recebeu apresentando um rapaz português, José, que iria conversar comigo com mais calma e me integrar na equipe dele. José era uma pessoa de muitas habilidades por ser marceneiro, enfermeiro e por ter feito muitas coisas na vida. E tinha o lado português que é uma proximidade diferente para a cultura que eu tinha.

Nessas primeiras conversas eu fui integrado na equipe de marcenaria. As atividades gerais eram fazer cozinha uma vez por semana, fazer parte da equipe de rádio noturna, panificação, alimentar os porcos e qualquer outra atividade de mutirão para colheita.

Nesse primeiro contato senti que tudo me atraia. Não eram calorosos, mas amistosos. Não percebia relações familiares, embora houvesse muitos jovens e crianças. Localizar os casais e referenciais de família perdurou por algum tempo até que eu desistisse. Na verdade, eles não incentivavam essa sensação de família nuclear e mais tarde entendi como era essa relação entre os casais e seus filhos.

No entardecer tive a sorte de ser um dia que o Comédia Mundi, grupo musical de canções cigana ia tocar. O refeitório da comunidade era também o palco, Grange Neuve se chama. Esse espaço tinha sido no passado um abrigo de ovelhas modificado para ser uma sede de convívio. Era todo feito em pedras e madeira reconstruído por eles, embora grande, com todas aquelas pessoas e mesas ficava muito aconchegante e para minha cabeça, um tanto medieval.

O jantar me impressionava pela forma mesmo dos franceses comerem uma salada de entrada com vinho e pão, depois o prato principal e o acompanhamento, mais aquela movimentação de gente de várias nacionalidades. Só essa ambientação multicultural já me deixava extasiado.

As músicas ciganas coroaram a chegada e o início de uma paixão com tudo aquilo que era maior do que eu imaginava. Com 21 anos eu já era um romântico exagerado, mais aquele ambiente internacionalizado e fazendo coisas políticas, prática e em coletividade, me fazia perceber que aquilo não podia ser vivido só um pouquinho de mim. Decidi permanecer o máximo possível.

Eu tinha que aprender logo o francês e me virar para entender aquelas discussões tão malucas e densas. Nas noites que se seguiram eu me sentia entre extasiado e confrontado com valores morais que mais tarde percebi ser resultado de minha formação cristã, ainda que já me considerasse ateu. Ateu cristão era risível. No Brasil somos cristãos por osmose, até quem se nega crer e ter fé divina é cristão e no pior sentido.

Em qualquer noite alguém poderia bater uma faca ou garfo num copo e iria acontecer uma reunião grande. Havia um dia específico que sempre ocorria algum informe, convocação para alguma frente de trabalho, um debate de algum visitante que podia ser músico, político, jornalista ou membro de outra comunidade Longo Mai. Havia várias coletividades na França, Suíça, Áustria, Ucrânia e até na Costa Rica.

Numa forma genérica o que mais se aproximava dessa organização eram os kibutz de Israel, mas com um cunho de engajamento de esquerda. No primeiro momento eu pouco compreendia esses debates por serem temas que não faziam parte de minha formação, por serem questões políticas e abordagens próprias deles e pela precária compreensão do francês que ainda não era capaz de acompanhar essa complexidade, mesmo se fosse em português eu não teria entendido muito o que era debatido.

Tive uma formação política que era bem rasa e se limitava à justiça social. Não fazia muita ideia de questões políticas mundiais e o máximo que podia dizer era que Collor era representante das oligarquias brasileiras. Não sabia o que era luta de classes, privatização, unificação da Europa, queda do muro de Berlim, fragmentação da Iugoslávia, das descolonizações dos países africanos e a tragédia que os abatia.

Era muita coisa para meu puritanismo, vegetarianismo, ateísmo cristão, sexismo, imaturidade, romantismo, além disso, não sambava, não jogava futebol e impregnado de um ecologismo idílico-narcisista. Ao meu favor? Um pouco do calor humano brasileiro, estigma da felicidade em sofrimento, a música, cultura legal e uma vontade grande fazer coisas com e pelos outros que sempre me acompanhou. Essa vontade de fazer junto nunca me largou e mesmo com meus equívocos e imaturidade, sei bem que isso que me segurou em momentos de confronto.

O confronto, o conflito e o choque não eram evitados por eles, mas eu, na minha intuição, fugia de todos confrontos ou os fazia se qualquer segurança. Tentei ser antropofágico, mas essa estratégia não dura muito tempo em ambiente tão intenso e de relações tão orgânicas. Tentava não me mostrar tão incomodado e punha sobre mim as tarefas mais difíceis, embora pudesse assumir coisas mais simples. Essa parte cristã e estoica me fazia ir sempre para longe daquilo que me traria mais conforto e de certo modo tenho essa tendência. Assumir coisas para mim que vão dar trabalho. Um hedonista por um lado e um autocrítico severo.

Vivi seis meses em Forcalquier-Limans onde a vitalidade e a chegada de pessoas era incrível. Fiz parte da equipe que iria fazer a construção de um bar para receber os participantes do Fórum Cívico Europeu. Nem imaginava que usar britadeira me daria tantos calos e tão rapidamente em minhas mãos para quebrar aquela rocha calcária para fazer a fundação desse pequeno quiosque. Eu fazia menos ideia do que significava este fórum.

Toda semana saia um jornal chamado Le Grand Père de Chainais que continha críticas políticas com uma acidez que ia me marcar para sempre em minha escrita. Nessa época de aprendizagem do francês coincide com o momento de aprendizado da escrita do português. Punha minhas angústias em cartas aos meus amigos e parentes. Parecia uma metralhadora, mas muito dessas coisas não faziam sentido para as pessoas e outras eu nem tentava contar.

O fórum aconteceu em agosto, em pleno verão, recebendo políticos, jornalistas engajados, sindicalistas, cientistas políticos e por ai vai. Lembro-me de ver e ouvir o René Dumont, agrônomo terceiro mundista (nem existe mais essa expressão hoje), o ex presidente de Cabo Verde Aristides Pereira, ex- presos políticos de Portugal e Jean Cardonel, padre dominicano muito respeitado na França. Esses eram os que eu entendia a magnitude, contudo, havia muitos outros destacados que eu nem imaginava serem igualmente importantes.

Também ajudamos a levantar uma lona de circo alugada para ocorrer o evento. Guardando as proporções era como o Fórum Social que ocorreria no Brasil anos mais tarde. Essas dinâmicas me deixavam com maior sensação de compromisso político e humano.

Conhecer delegação de pessoas da Polônia, Ucrânia, Mali e de tantas outras nacionalidades eram num mesmo tempo entusiasmante e chocante. Ter dessas pessoas um tipo de contato, de diálogo, de trocas era algo que mexia com meu entendimento de mundo, da diversidade e até da afetividade.

Eu sabia que Longo Mai havia passado por pressões, denúncias, campanhas difamatórias e processos de todo tipo. Também percebi e soube de histórias que a aproximava mais de uma seita política do que de um grupo anarquista. O fato é que qualquer comunidade tem uma crítica externa que também oscila pelo sectarismo. Ainda percebendo essas coisas eu preferia estar ali e sabia que há coisas que não se explicaria facilmente para quem vive fora de um conjunto tão complexo de relações. Longo Mai realmente assustava.

Nesse período que fiquei em Forcalquier/Limans levantamos uma casa de madeira e eu fazia um programa sobre a Bossa Nova na Rádio Livre Zinzine, ainda guardo comigo uma fita com a gravação de um desses programas. Uma madrugada por semana eu fazia uma parte da programação noturna, mas tinha vergonha de falar. Conhecer a dinâmica de uma rádio me estimulava.

Britadeira, marcenaria, cozinha, colheita de feno, panificação, programa de rádio e apicultura, além disso, debates, convívio com estrangeiros, noções do que é a África, a Provença, a riqueza cultural e a mídia banal de um país rico. Lá tive o primeiro contato com a tecnologia Minitel, uma pré-internet da França. Tudo isso regado de muito idealismo e romantismo na minha cabeça puritana.

Decidi após o Fórum Cívico Europeu ir para Ardèche. Inicialmente convidaram para fazer a “transumance” que é um transporte a pé de um rebanho de ovelhas até um local mais quente para passarem o inverno e gestarem os cordeirinhos. Foi cinco dias de comitiva, algo inexplicável de dizer. Andando a pé, em média de 20 km por dia.

Essa experiência magnífica me animou ir para Ardèche, mas não foi de todo uma decisão muito boa. Um núcleo de 4 pessoas e um bebê era muito intenso por um lado e de pouca troca do outro. Todavia, cuidar de ovelhas e ter uma cadela pastora foi uma experiência a parte.

Durante esses pastoreios eu comecei a ler livros enquanto as ovelhas paravam para ruminar. Algumas vezes soprava o vento Mistral, forte, frio, constante e tive a experiência de sentir soprar uns três dias e noites com esse vento sem trégua. Um vento de enlouquecer. Essas condições rústicas eram completadas com o tipo de abrigo. Era uma fazenda antiga que serviu para produção de amêndoas e bicho da seda. Nosso abrigo era uma casa de pedra sem calefação. Colhíamos os galhos secos nos bosques para aquecer a lareira. O fogão era a carvão nos servindo para fazer as refeições e em seu forno colocávamos dois tijolos de cerâmica vitrificada, isso servia para aquecer nossas camas. As roupas de campo eram tão esfregadas nas plantas de tomilho selvagem que até hoje me recordo do aroma que saia do casaco quando o punha no cabide dessa cabana.

Após alguns meses o primeiro cordeiro nasceu e foi contratado um caminhão para transportar as demais matrizes e dessem suas crias na fazenda nas montanhas. Um ciclo anual. Esses seis meses terminaram. De fato, o isolamento e minha imaturidade pesaram. Houve um desentendimento banal e eu acabei indo para outra fazenda.

Fui então para a fazenda que fazia produção de legumes orgânicos para as feiras livres de três cidades, para a comunidade e para exportação. Eu já tinha conhecido esse local e achei o mais caloroso. Ao meu gosto teria ficado lá de cara, mas me meti a ir para uma fazenda mais rigorosa, mais fria e que se mostrou mais difícil de estabelecer relação de afeto.

Em Saint Martin de Crau, a fazenda Longo Mai do Mas de Granier foi um momento de recomeço, de novas amizades e de compreensão melhor da coletividade, forma de organização, de decisão, resolução de conflitos e amizade com os camponeses e militantes étnicos Provençais e outros. Por estar perto de Aix em Provence, Arles, Marseille e outras cidades importantes havia a proximidade com magrebins, povo do marrocos e de outros do lado de lá do mediterrâneo.

Por lá eu ajudei a cultivar muito legumes, também cuidava das abelhas, colhia azeitonas e embalava azeite, atuava na fábrica de conservas e fazia a feira uma vez por semana e vez ou outra ajudávamos camponeses amigos em seus mutirões. De fato esse tempo foi o que mais trabalhei, que mais me diverti e aprendi.

Todas essas experiências de trabalho, organização, capacitação técnica e de convívio foi a experiência particular que tive. Com conflitos para entender o que é um país rico, nosso conceitos de riqueza, de bem estar, de autossuficiência, de politização, de apoio a causas humanitárias e políticas.

Isso ao lado de um sem número de experiências com pessoas que vinha de outras partes inquietas com aquela experiência, um tanto anarquista, autogestionada e que completava 20 anos na época.

Teria muitas coisas para preencher estas histórias. Nesse breve texto omiti muitas das coisas que me chamaram atenção e que me fizeram olhar o compromisso coletivo com outros olhos, menos romântico por um lado e mais realista. Vivi uma utopia em marcha. Com seus defeitos, com suas virtudes e com a visão clara de que aquilo estava acima de qualquer coisa socialista ou comunitária que eu tenha imaginado antes e visto depois em minha vida.

O fato de em Longo Mai eles romperem com a vida de família nuclear e de liberar as mulheres de parte do cotidiano de cuidar dos filhos foi imprescindível para entender como a gestação, o amor protetor pesa sobre a vida política e intelectual das mulheres.

Havia um rodizio para que adultos e não necessariamente os pais cuidassem da alimentação, levar e trazer da escola, assim, pais tinham uma presença com os filhos no início do dia e mais tarde. Isso iria acontecer até os 7 anos de idade. Depois essas crianças iriam ficar numa casa coletiva coordenada por um adulto e quando entrassem na puberdade iriam para outra casa autogestionada na comunidade.

Os jovens que decidissem continuar estudos iam para cidades que ofereciam esses estudos. Mas todos que continuavam na comunidade permaneciam nesse sistema até a idade posterior que equivaleria ao ensino médio do Brasil.

De algum modo essas medidas concretas assustam as pessoas que são de fora. Apartar pais e filhos é muito radical para a maioria de nós. Nada disso quer dizer muita coisa se a pessoa tem em sua idealização da vida ter uma família. Nessas vidas comunitárias, mesmo as que não desejam romper com essa condição, os filhos acabam sendo cuidados por todos.

A relação em que comunitários vivem, dialogam, decidem passos juntos e realizam conduzem a outras questões é uma experiência desafiadora, mas também libertadora. De algum modo as pessoas são liberadas de fazer compras semanais para suas casas, o cotidiano de administração de uma vida familiar deixa de ser atomizado e isso libera tempo para si e para as atividades intelectuais, políticas e de cuidados familiares.

A mulher sob essas condições não paralisa sua vida cultural, profissional, intelectual e política por ser mãe como ocorre em geral. Essa utopia não passava sem seus problemas e por algumas vezes ocorriam reuniões para resolver conflitos e discordâncias na conduta desses cuidados de filhos coletivos. Em algumas situações o apego exagerado ao próprio filho ou aos pais era tanto criticado, quanto era um assunto a ser tratado de um modo que nunca imaginei para minha formação na moral da família que conheço.

Todo esse contexto mexia com meus valores e minha compreensão de comunitarismo. Era ousado, criticado e na minha visão de brasileiro os via com certo frio afetivo. Demorou algum tempo para perceber que no caso de alguns casais isso não se apresentava como um problema, mas uma liberação.

A comparar com Summerhill, escola de internato e democrática da Inglaterra, onde se estabelecia o afastamento dos pais na idade de 7 anos para que eles não fossem vitimados pelo complexo de Édipo que alimentavam os pais. Essa perspectiva era mais forte para os jovens hippies dos anos 1960 e por socialistas mais radicais.

O fato é que quem decide viver essa utopia, questionando a vida patrimonialista, contra a moral da família e contra a total responsabilidade sobre os destinos de seus filhos, se encaixa no libertarismo, socialismo, comunitarismo e no rompimento da sociedade do controle. Mas nem todos tem a coragem de enfrentar essas coisas.

Eram nesse sentido anarquistas, revolucionários e rompiam com o falso moralismo. Isso não os livrava de rompimentos, troca de pares e da tristeza que é perder a companhia. De fato, eles não viviam o amor livre no sentido hedonista e idealistas de alguns anarquistas e socialistas. E obviamente não vivi tanto tempo para entender todas as insatisfações nem as vantagens disso. Muitos integrantes permaneceram e muitos, após anos de convívio partiram.

Alguns filhos partiram, outros após a formação decidiram permanecer e continuar essa conduta e desafio. Esse confronto da vida comum e conservadora, até entre os socialistas fora dessas utopias vivas permanece como um grande contra ponto e conflito.

Ser revolucionário ou libertário em um nível apenas do amor livre, do tipo ninguém é de ninguém, hedonista e permanecendo narcisista, nunca me fez muito acreditar em discursos comunistas e coletivistas.

Sigo ainda com Longo Mai que é fundamental romper opressão da maternidade obrigatória da mulher, num campo que assusta muitas delas, também que é esse apego romântico com os próprios filhos e amor que gera sentimentos individualistas e narcisistas nos filhos. As mães podem ser maternais, podem desejar ter quantos filhos lhes interesse e não almejar uma família planejada pela circunstância econômica de 1 ou 2 filhos no máximo.

Parece-me uma violência a decisão das mulheres esperarem a maternidade até a última data orgânica, somente após de todas as conquistas econômicas e profissionais para um dia poder ter filhos totalmente protegidas, isso não parece algo humano. O problema não é só ter poucos filhos e planejados, mas tê-los somente quando já se resolveu a segurança econômica que é prova do controle da vida dessas pessoas e é uma imposição sobre seus corpos e sentires, não uma escolha dos casais.

No ambiente dos trabalhos e atividades adultas não havia a obrigação de permanecer especialista de nenhuma função. A pessoa podia trabalhar 5 ou mais anos como pastor de ovelhas e depois trabalhar como marceneiro, produtor de legumes, jornalista, músico ou qualquer função. Era estimulado apenas não pular de função a cada inverno.

Não havia uma imposição capitalista que te circunscrevesse ser uma única coisa. Além disso tudo, ninguém trabalhava exclusivamente num setor todos os dias da semana. Assim, além de poder mudar e aprender novas funções, o trabalho escolhido não era levado à exaustão e a uma especialização prepotente.

Claro que mesmo com essa liberdade, as pessoas se especializam em obras, eletricidade, agricultura por uma identidade pessoal e isso era pensado e permitido, sempre com essa situação em que se podia alterar esse curso.

As condições de minha partida em 1993 foram muito complexas para mim, mas havia muitos refugiados de outros países e eu estava mais tempo do que permitido pela legislação e eu não era uma prioridade no momento. Do mesmo modo, ainda que tão favorável àquela experiência, minha compreensão e conduta era escapista e de algum modo isso me fragilizava e tive quer ir embora por uma decisão coletiva que me marcou para toda a vida.

Na época em que vivi em Longo Mai a média de idade era de 30 anos, em 1998, após 5 anos de minha partida eu retornei e passei duas semanas em Mas de Granier em Saint Martin de Crau e as inquietações da aposentadoria se colocavam mais evidentes. O espirito jovem e as ações continuavam, mas as contingências mudaram. As primeiras levas de jovens universitários e graduados já configuravam outros conflitos e necessidades para Longo Mai. Era notável um refluxo  e de pouca renovação próprios de todos os movimentos desse tipo na década de ouro da Social democracia na Europa e sua política neoliberal.

Longo Mai completou 40 anos em 2013. Vivendo essa utopia e tornar o impossível algo possível. Desafiando a vida no sentido que eles elaboraram para si próprios, sem sugerir uma religião, um modelo para os outros e com uma rede de relações de apoio político na França e no exterior que vai além do que eu jamais imaginei e jamais encontrei tão desafiadoramente.

Essas diversidades e outras experiências de formação coletiva existem e se confrontam com o machismo, sexismo, patrimonialismo e atomização do indivíduo e da família. São desafios práticos, ousados e que mexem com valores mais arraigados em nós do que o fetiche de alguns comunistas que não rompem com a culpa cristã.

O respeito que tenho por essas experiências e a compreensão da ousadia ofensiva para os que se assustam com essas ideias estiveram sempre sob minha forma de ver as relações e as ações coletivas. Não idealizo essas alternativas, não mitifico e sei que não são idílicas e ausentes de defeitos.

Optei viver no Brasil, agindo onde é possível o mutualismo e a compreensão dos anseios coletivos. De tal modo que não quero que ninguém copie ou reproduza Longo Mai, tanto menos que isso seja um modelo para a sociedade.

O fato é que tem pessoas que se desafiam mais e não se escondem sob a máscara de uma hipotética e sectária união coletiva, onde vivem pessoas boazinhas e afáveis, mais fetichizadas do que praticável. Não há como aceitar a sociedade injusta e uma das formas de ir contra a opressão é se unir e tentar romper com comportamentos cristalizados que começam no nível doméstico das opressões. Talvez isso que sempre me manteve em apoio crítico ao Movimento dos Sem Terras, uma ousadia combativa na luta pela terra e na conquista da dignidade, mas um pensamento conservador sobre tudo mais que nos oprime. Cada um com suas lutas possíveis, isso que importa!

A cada dia a revolução que busco é a humana e não a política econômica. Devemos permitir que pessoas mais ousadas, mais altruístas e utópicas vivam suas poesias. Desejo eu viver ou apoiar essas experiências. Realmente a frase de uma tirinha de El Roto, cartunista espanhol, apresenta a seguinte ideia: “Se não sabemos para onde vamos porque todos seguem para o mesmo caminho?”

Meu espírito de engajamento é o mesmo de quando era jovem, creio que esses desafios vão além da produção intelectual de direitos humanos. É em nossa vida que as coisas devem mudar e nesse sentido que todas as pessoas que realmente pensam mudar alguma coisa da sociedade, deve pensar como mudam o seu próprio nível de compreensão e práticas da vida antiautoritária, antinacionalista e antipatrimonialista.


Enquanto isso, devemos favorecer todo esforço que se coloca contra o autoritarismo, dos mais miúdos de nossas casas aos da superestrutura. Nada de fatalismo. Utopias miúdas de apoiar pessoas são melhores do que o pessimismo e desistência de lutar para uma condição humana digna e profícua. Isso nunca termina, sempre devemos desejar o melhor do melhor para que a dignidade global seja respeitada.

domingo, 2 de março de 2014

Preparado para tudo!

Nós nos preparamos para tudo, menos para o que não estamos preparados.

Por todo o horror que a educação formal provoca e auto comprova ser uma bosta para as pessoas mais atentas, ainda assim, as pessoas apostam nessa preparação.

Os pais são muito aterrorizados com o futuro e por isso, tornam o presente dos seus filhos um inferno.

Quando vejo amigas e amigos inquietos com suas filhos e filhos de 27 anos ou mais, me pergunto para que tanto preparo se nessa idade ainda se sentem no direito de serem co-tutores da vida desses eternos jovens.

Tanta preocupação e co-dependência da dependência.

É muito difícil que deixem esse jovens se tornarem donos de seus narizes!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Adestramento de filhos autocráticos

O texto abaixo, retirado do Portal IG Delas, trata de como deve deixar de criar pequenos tiranos. Não alerta por outro lado que os pais sentem-se muito culpados pela educação que tiveram e tratam seus filhos como cãozinhos de luxo que aprendem a falar.  

Confere o fato que na educação democrática e libertária que o principal é a criança ter liberdade, mas também uma liberdade pelo amor compulsivo e possessivo dos pais. Depois, os pais criam seus tiranos e não conseguem se libertar de adolescentes indolentes, hedonistas e auto centrados.

A culpa burguesa dos pais na educação dos filhos e na tentativa de pasteurizar-los de todas as dificuldades faz com que um dia eles temam seus filhos permanecerem na família, não com filhos, mas como sub-esposas ou sub-esposos. Alguns são expulsos, outros permanecem e valores burgueses implantados permanecem criando mutuas tiranias.

Embora todas a situações abaixo indicadas já existissem nos primórdios da educação anarquista. Temos agora que ler essa indumentária adestradora para pais infantilizados pelo sucesso econômico.


9 passos para impor limites

Terapeuta, autora, mãe e avó, Diane Levy separa as atitudes que valem a pena das que só gastam energia e compartilha sua fórmula para ter filhos disciplinados

Camila de Lira, iG São Paulo

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Interpretar a atitude da criança é chave para impor limites
Na incansável luta para impor limites, muitas vezes os pais desperdiçam mais energia do que deviam. Para evitar isso, a psicóloga neozelandesa Diane Levy, autora do livro “É Claro que Eu Amo Você... Agora Vá para o Seu Quarto!” (Editora Fundamento) e especializada no aconselhamento de pais, separa aquilo que apenas cansa daquilo que dá certo na hora de educar os filhos.

“Há um bom punhado de coisas que fazemos ao tentar educar as crianças e que simplesmente não ajudam”, ela comenta, em depoimento ao iG Delas . “Quando você evita explicar muito, avisar muito, adular, subornar, ameaçar e punir, você poupa tempo e energia e mantém a sua dignidade como pai ou mãe. Quando você pede, diz e deixa a distância emocional fazer o trabalho, suas crianças rapidamente aprenderão que quando você pede que eles façam algo – ou que parem de fazer algo – eles não tem alternativa a não ser fazê-lo”.

Segundo Diane, reconhecer e evitar estratégias exaustivas e inúteis torna os pais mais convincentes em suas ordens ou instruções. Ela explicou, a pedido do iG Delas , as atitudes menos efetivas na hora de impor limites – e, do outro lado, as que mais garantem êxito. Leia abaixo os conselhos.

Divulgação
Diane Levy: "Quando você evita explicar muito, avisar muito, adular, subornar, ameaçar e punir, você poupa tempo e energia e mantém a sua dignidade como pai ou mãe"
1. Não se explique demais
“Quando pedimos para uma criança fazer algo ou para parar de fazê-lo, nosso hábito é de seguir com uma grande explicação de porquê tal ação é necessária. Se nossos filhos não respondem à primeira explicação, pensamos que ela não teve apelo para eles (ou que eles apenas não a entenderam) e, então, gastamos tempo e energia em tentar convencê-los novamente”, explica Diane.
Se a criança não entendeu porque está sendo solicitada a fazer ou deixar de fazer algo, dificilmente ela será convencida por mais e mais explicações. O que ela precisa entender é que tudo o que você pede é para o bem dela – e assim será até ela crescer.


2. Não dê mais de um aviso
“Ao dar várias chances e avisos, nós mostramos às crianças que não acreditamos naquilo que dizemos e que não esperamos uma ação efetiva até darmos muitos e muitos avisos”, diz Diane. “A maioria das crianças entende que enquanto os pais estão nesse ‘modo de aviso’, nada irá acontecer com elas”. Portanto, seja firme.


3. Não adule
Você se pega usando frases como “se você arrumar seu quarto, ganha um chocolate” ou “faça toda a lição e te dou um brinquedo” com frequência? Pense melhor. “Quando os adultos se esforçam adulando e coagindo as crianças para que elas façam o que devem, isso significa que só os pais estão fazendo o trabalho duro, enquanto os filhos esperam uma recompensa convincente o bastante para encorajá-los a começar uma tarefa que não é mais que obrigação deles”.

4. Não suborne
As crianças devem ser acostumada a agir dentro de um senso de obrigação. “Se o único jeito de conseguirmos fazer com que as crianças façam o que mandamos é oferecendo algo, nos deixamos vulneráveis a ter que pensar em maiores e melhores ‘mimos’ com o tempo. Além disso, essa ação dá às nossas crianças a permissão de perguntar ‘o que você me dará se eu fizer isso?’ – e esse não é um bom hábito para se encorajar”, resume Diane.


5. Não ameace
Ameaças funcionam com "se você não fizer isso.. então eu irei…”. Diane explica que, assim, você abre um contrato e isso dá margem para a criança negar a oferta. "Aprendi essa lição muito cedo com o meu primeiro filho. Quando dizia 'Robert, se você não guardar seus brinquedos agora, não iremos ao parque essa tarde', ele apenas respondia 'tudo bem'. E eu ficava sem saber para onde ir", relembra.
"Outro problema em ameaçar é que, se você fala que irá fazer algo, é obrigado a cumprir isso. A maioria das ameaças que tem como objetivo persuadir a criança a fazer o que foi pedido nos pune mais do que a elas", explica Diane. E exemplifica: “Os pais ameaçam: 'Se você não fizer isso imediatamente, não verá mais TV pelos próximos três dias'. É mais provável que a vida de quem fique mais difícil com essa ameaça?".


6. Não puna
Segundo Diane, algumas crianças aprendem através das punições, mas muitas se tornam ressentidas, irritadas e se sentem tratadas de forma desleal. “Também, se usarmos a punição, nossos filhos podem simplesmente aprender como aguentá-las – e voltarem a fazer aquilo que tentamos evitar”, afirma.
Mas se os pais deixarem de explicar, avisar, adular, subornar, ameaçar e punir, o que eles podem fazer? Diane sugere uma estratégia simples, com três passos: peça, diga e aja.


7. Peça uma vez só
Diane recomenda que os pais simplesmente peçam o que deve ser feito e observem a resposta do filho. Isso dará a eles uma informação importante. “Quando as crianças se negam a fazer o que foi pedido, eles usualmente expressam uma das três formas a seguir: tristeza, irritação ou distanciamento”, ensina ela.
A tristeza é simbolizada por chateação. “Eles parecem ofendidos e dizem ‘por que eu?’”, descreve. A irritação se manifesta em confronto: “eles discutem e acusam você de ser injusto com eles”. O distanciamento é caracterizado por indiferença. “Eles ignoravam você, olham para outro lado e continuam o que estão fazendo”, completa Diane. “Tudo isso significa que a criança não fará aquilo que pediu”. Mas como reagir?


8. Diga de maneira enérgica
“Vá até o seu filho – isso pode ser um pouco difícil para os pais, pois significa que eles terão que parar aquilo que estavam fazendo, levantar e ficar do lado da criança”, orienta Diane. Segundo ela, a presença próxima vale a pena. “Uma vez que aparecemos perto da criança, ela sabe que isso significa que ela terá que fazer o que foi pedido”.
A autora recomenda que os pais falem baixo – isso mostra que eles estão no controle tanto da própria voz quanto da criança – e que olhem seu filho nos olhos.

9. Aja
Se seu filho não respondeu a nenhuma das ações anteriores, você precisa fazer algo. “A coisa mais efetiva que você pode fazer é usar a ‘distância emocional’ até que ele esteja pronto para fazer o que foi pedido”, aconselha Diane. “Pegue-o no colo ou pela mão e o leve para o quarto. Diga firmemente ‘você é bem-vindo para se juntar à família assim que estiver pronto para fazer o que pedi’, e deixe-o sozinho”, completa. Lembre-se: o seu filho tem o poder de se reunir à família ao fazer o que lhe foi pedido.

Quando as crianças são maiores – e tirá-las do lugar é mais difícil – Diane recomenda que os pais apenas determinem consigo mesmos: “eu não farei nada até que ele esteja pronto para fazer aquilo que eu pedi”. E continuem com o que estiverem fazendo, normalmente. “Quando a criança aparecer com um pedido, você pode calmamente lembrá-la de que ficaria feliz em atendê-la, assim que ela fizer aquilo que foi estabelecido (e ignorado) anteriormente”, diz a autora. “Ele pode fazer duas ou três tentativas para chamar sua atenção, mas vai acabar entendendo que precisa fazer o que foi solicitado pelos pais”, finaliza.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Cooperativa Longo Mai


Prólogo - Entre os anos de 1991 e 1992 vivi numa comunidade no Sul da França. Segue abaixo um texto traduzido e adaptado de cunho geral. Em breve postarei um texto maior explicando essa experiência vivida a 20 anos atrás. Em 2013 a comunidade fez 40 anos. E por ter vivido essa experiência concreta de libertarismo e revolucionária, antes mesmo de eu entender o que era anarquista, por isso, hoje que sou cético sobre alguns arroubos frouxos de libertarismo.

É facil se denominar anarquista, difícil é sê-lo!

Cooperativas Longo Mai

Cooperativa de Longo Mai é uma cooperativa agrícola de ideologia alternativa, secular, rural e anti-capitalista , fundada em 1973 Limans ( Alpes-de-Haute-Provence- Sul da França), que desde então se espalhou em rede. O nome é derivado da língua provençal expressando a esperança de que "dure mais tempo" , usado por exemplo em casamentos.

História
Na esteira do Maio de 68 , os jovens de grupos de estudantes austríacos Spartacus refugiados na Suíça após confrontos com grupos neo-nazistas, uniram-se a estudantes suíços do grupo Hydra. Esses estudantes foram processados por sua ações contra a Igreja, o exército, as ditaduras, por sere a favor dos refugiados, trabalhadores, etc.,

Através de angariação de fundos, eles compraram um campo de 270 ha em Limans próximo Forcalquier no Alpes-de-Haute-Provence para implantar, em 1973, uma comunidade auto-gerida rural inspiração anarquista criada em Basel (Suiça) em um congresso fundador. O grupo não poderia de fato se estabelecer em um dos países de língua alemã por causa da forte oposição dos suíços, alemães e austríacos . A colina onde se mudou Zinzine, tem uma casa de fazenda em ruínas, Grange-Neuve, e um pombal para abrigar . Com o status original SCOP (empresa de produção cooperativa), que, em seguida, assume um estado misto, combinando terras agrícolas grupo , cooperativa e EARL (Farm Limited).

O programa comunitário é formulado por Roland Perrot , que desertou durante a guerra da Argélia e conhecia pessoalmente Giono e a experiência de livre comuna em Contadour em 1930 , que se baseia nas idéias de Fourier , incluindo em seu programa o anti-militarismo e pacifismo, anti-capitalismo, a objeção de representantes políticos e pela igualdade entre homens e mulheres . A operação é baseada na auto-suficiência, na vida comunitária, no artesanato, na produção agrícola, na gestão conjunta de energia, água e não há salários, bem como o respeito ao meio ambiente (Gestão Econômica água, por exemplo). 

Em 1976, os membros procuram compra mais terras e casas e outros edifícios, levando a uma reação entre os moradores das proximidades.
Cooperativas Longo Mai organizaram várias campanhas de solidariedade internacional, particularmente para as ditaduras resistentes:
  • abrigo de 2.000 exilados chilenos ameaçados pelo golpe de Pinochet , em comunas suíças;
  • ações de solidariedade com os índios Guarani no Paraguai ;
  • apoiou adversários na Nicarágua para lutar contra o ditador Somoza , incluindo a criação de uma cooperativa de refugiados nicaragüenses na Costa Rica , ainda ativo hoje em defesa dos pequenos agricultores ;
  • a criação do Comitê de Defesa Europeu de refugiados e imigrantes (Cedri);
  • realização do Fórum Cívico Europeu (FCE) para apoiar o processo de democratização em países do Oriente ;
  • apoio ao Sindicato dos Trabalhadores da campanha (SOC), que representa a trabalhadores sazonais sem papel na Andaluzia ( El Ejido );
  • apoio à criação de uma cooperativa de Madagascar ;
  • uma campanha de opoio ao Português Otelo de Carvalho ;
  • várias ações na África .
Instituições
Longo Mai dez cooperativas operam em uma rede:
  • na França:
    • em Limans;
    • perto de Briançon ( Hautes-Alpes ), a fiação de Chantemerle, Saint-Chaffrey , trata de 12 a 15 toneladas de lã por ano;
    • Mas de Granier, a aldeia de Caphan em Saint-Martin-de-Crau ( Bouches-du-Rhône )
    • o Cabrery no Luberon : viticultura e azeite ;
  • Ulenkrug, Mecklenburg , na Alemanha;
  • Hof Stopar para Eisenkappel em Caríntia, Áustria (17 ha mais 25 ha criação de ovinos alugado);
  • fazenda a Mons, no Jura suíço (12 ha cultivados gansos e ovelhas );
  • Uzhgorod , Transcarpathia, Ucrânia, com uma escola de francês na década de 1990 ;
  • Costa Rica (Finca Sonador).
A sede da cooperativa é na Basileia, onde são organizadas campanhas de arrecadação de doações.

A cooperativa criou vários meios de comunicação :
  • rádio livre Rádio Zinzine: Fundada em 1981 e com o nome da colina sobre a qual estava a comunidade, muitas vezes ameaçados proibição de emissão. É filiada à Federação Europeia de Rádios Livres ) e do rádio edita um semanário.
  • uma agência de notícias, a agência de notícias independente (AIM), que trabalham de uma centena de jornalistas ;
  • Log Arquipélago , jornal Fórum Cívico Europeu (8p. A4);
  • e publica alguns livros.

Funcionamento da Comunidade
A comunidade é administrada pela cooperativa autogestionária. Todos os ativos financeiros são agrupados. Recursos próprios da Comunidade são o gado, grãos e produção vegetal, que consome muito. A fábrica de lã tem sua energia fornecida pela hidrelétrica própria, o calor é fornecido por energia solar e madeira. Todos trabalham, as mudanças nas tarefas são possíveis na noite de domingo, quando é realizada uma reunião para organizar a semana (equipes, reuniões, projetos, e apresentação de recém-chegados). No entanto, o trabalho é organizado entre grupos formados por afinidades e competências . Ele inclui 200 adultos e cinqüenta crianças, divididos entre todas as cooperativas, esses membros são quinze nacionalidades diferentes.

Em Limans, tem 280 , 300 ha, 80 cultivável. Ele usa a água de um poço e de algumas fontes. Materiais de construção incluem as rochas encontrada no local, tijolos de barro , palha, madeira. A cooperativa vende produtos agrícolas brutos, mas também transformado: cordeiros, cordeiros, roupas de lã, frutas e legumes enlatados, vinho e cosméticos, mais rentável . Ela gerencia um centro de férias, no povoado de Magnans (aberto a todos) Pierrerue servido também como alojamento para suas atividades . Estas atividades proporcionam-lhe cerca de metade de sua receita, a outra metade da arrecadação de donativos e subsídios.

A cooperativa é sustentada por uma associação com sede em Basileia, que levanta fundos. Cooperativa Limans depende cerca de 50% destas bolsas e subsídios, metade das suas necessidades são cobertas pela sua própria produção (2000).

Festas abertas a todos para reunir a comunidade :
  • na noite de 4 de agosto, em comemoração ao noite de 04 de agosto de 1789 (abolição dos privilégios);
  • Dia do Rádio Zinzine início de julho;

Controvérsia e críticas
A cooperativa construiu um patrimônio imobiliário importante na década de 1980: Além de possuir grandes áreas agrícolas para a realidade europea, possuía casas e um apartamento em Paris, que servem de base quando necessitam ir à capital .

Estas aquisições e os primeiros contatos diplomáticos com os políticos locais cavaram uma vala entre moradores próximos. Da mesma forma, ativismo (convites à desobediência civil , refugiados de hospedagem, incluindo do Oriente e desertores) provocaram a hostilidade dos governos europeus que lutam ativamente contra cooperativas, tendo as seguintes consequências:
  • ocorreram vários julgamento por insultar o Estado austríaco;
  • armadilhas foram criadas pela polícia alemã;
  • expulsão do território francês, cancelado pelo Conselho de Estado em 1979. Esta ordem provocou debate nos meios de comunicação, mas também uma campanha difamatória ocorrida por parte da imprensa em 1979-1980 .

O fundador, Roland Perrot foi acusado de práticas autoritárias e exploração do trabalho em decorrência do trabalho não ser remunerados diretamente, bem como pelo fato da cooperativa ser monitorada e defendida contra intrusão e que a comida distribuída é insuficiente. Também foram acusados por manter uma escola privada para suas crianças e pela negação da autoridade parental. No entanto, as regras comuns rigorosas foram relaxadas em 1982.

Regras de exploração foram objeto de críticas por parte de grupos de vigilância seitas, incluindo o relatório parlamentar de 1996. A cooperativa, no entanto, não tem atividade e trabalho religioso ou comparável apenas nos domínios político e económico, de acordo com Maurice Duval. O jornal conservador Le Figaro também viram a cooperativa como uma seita.

Estas críticas têm sido usados ​​como justificativa para batidas policiais, mas nenhuma conseguiu encontrar provas materiais para apoiar estas acusações . O mais importante é a invasão de 29 de novembro de 1989 porduzentos militares, com reforços de sobrevôos de helicóptero ), a pedido do Governo alemão: equipamento de rádio foi quebrado e uma pessoa foi presa, mas liberada no mesmo dia. 

Os habitantes locais se recusaram a aprovar essa batida e depois disso a comunidade passou a ser mais aceita. As críticas sobre o amor livre (vida de casado era proibido) e o rigor estendida na família 1970 , não são nem mais nem menos praticada atualmente na sociedade circundante, este aspecto de compartilhar as crianças podem ser relativizados porque a cooperativa tem campanha ativamente para a reabertura da escola local na cidade de Limans, bem como os adolescentes são enviados para a faculdades ou escolas de Forcalquier e Digne. Todos os processo montados com essa acusações foram julgados favoráveis à Longo Mai.

sábado, 25 de janeiro de 2014

As mulheres de olhos cinzas! Já viram?

PS: Este texto tem chamado tanta atenção das pessoas. Escrevi-o inspirado em uma ex-aluna super inteligente que se encabrestou por um rapaz ridículo e insensível à inteligência dela. Mas depois vi isso acontecer outras vezes com mulheres interessantes e vibrantes. Que bosta é gostar de alguém! O afeto que deveria libertar acaba por castrar. Tem solução?

O brilho nos olhos das pessoas é um tipo de droga que vicia.

Como professor, você tendo sensibilidade e segurança, ver esses olhos é parte da satisfação do trabalho.

Nos jovens e crianças é uma preciosidade quando alguma ideia, atividades, situação faz seus olhos reluzirem, já que parte desse resultado é algo que você sugeriu ou ajudou a construir numa dinâmica.

No caso das mulheres no entanto há um momento que isso muda. Até mesmo nas jovens universitárias.

Mulheres inteligentes, criativas, astutas, vibrantes e curiosas dão o azar em algum dia de começar um relacionamento com alguém, em geral rapazes, e, quando não há esses, comum que seja o pai a massacrar suas inteligências e brilho!

Já vi algumas estudantes, conhecidas ou amigas perderem todo o viço, claridade e nitidez dos olhos, quando começam a namorar.

Os olhos delas ficam cinzas. Se estiverem perto desses homens ficam mudas, surdas e ausentes de si, sem corpo e sem alma, zumbis sem babas.

Não sei se todas as mulheres passam por essa situação de apagão quando estão ao lado de alguém que supõe-se as amarem?!

Não sei se isso acontece com todos nós, mas lamentavelmente eu vejo isso mais nítido nas mulheres curiosas quando as perdemos para um mesmo tom de cinza.

Ver esses olhos cinzas em pessoas que um dia você viu joias nos olhares é uma violência tão sutil que vai além da opressão.

A condição da mulher não é uma mera questão de luta de classes e de libertarismo, mas também criar uma educação para os homens ou para quem se identifica com esse arquétipo para que evitem jogar suas psicopatias sobre essas pessoas.

Psicologismo!? Pós-mordenismo?

Ter essa condição feminina é foda! Mais foda do que o autoritarismo estatal!


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Libertário e a escravidão: a falsa antítese.


Tenho lido bastante sobre situacionismo, anarquismo, pós-anarquismo e tantas outras literaturas que se negam ser qualquer coisa que se aporte a alguma filiação ideológica.

Os textos quanto mais radicais negam ou dão pouca a nenhuma atenção ao mutualismo.

O medo de se identificar com os "ismos" ligados aos libertários, na verdade não nos liberta.

O simples fato de nos posicionar contra o autoritarismo já é em si uma prisão.

Não adianta desmerecer a insuficiência filosófica, política, teórica e propositiva de nenhuma corrente libertária, se intitulando mais libertário. Isso a negação, ainda que robusta, é uma prisão.

Em seu sentido poético, ser libertário é concebível, inspirador e motivador, mas na prática o libertário é apenas um tipo de prisão não conservadora.

Quem é libertário, já está filiado, só que sem fichas de militante.

Houve tanta pestilência em se assumir ideologicamente que há abusos. Ser a-ideológico não é nobre nem prudente, inclusive nos coloca até mais perto dos fascistas do que imaginamos.

Não somos livres diante da tortura, dos achaques, tiranias, maus tratos aos que são postos em posição subjugo pela classe dominante e sua guarda civil e polícia contra as pessoas por serem pobres, por genero que se identificam, por tipo de formação corporal, por etnia e hábitos culturais e religiosos  ...

Um libertário não é livre, nem o anarquista egoista é livre, senão, sinonimo de libertário seria a pessoa hedonista.

O que mais me intriga nesses sites e blogs é o abandono completo do mutualismo.

Talvez porque o mutualismo tenha um cunho amoroso.

Como se pode supor, amor é um construção cultural ou uma invenção para libertários mais libertos.

Pode-se negar a existência do amor, mas não a do afeto.

Somos afetados pelas pessoas e por algumas dessas somos capazes de fazer coisas esquisitas, loucuras e idiotices. Com radicalismo emocional que nos seria melhora tratar como crianças do que adultos responsáveis.

No que me afetou sempre no anarquismo é o mutualismo. Mesmo com esse caráter cristão da "partilha do pão" não vejo qualquer sentido em viver sem o desenvolvimento e preocupação com o mutualismo.

Essas mega mudanças estruturais preconizando o fim do Estado e das hierarquias me passa mais ser uma inspiração revolucionaria política do que humana.

A revolução política é urgente, tanto mais é a humana. Devem ocorrer concomitantes, mas nossa condição humana tosca sempre deixa o melhor para depois.

Não posso crer em quem nega o afeto.

Até nego a palavra solidariedade por essa sim ter o caráter de falso altruismo.

O mutualismo nos sentidos que pesquiso nas relações humanas não está e reparar aos que não tem nada, nem de supor uma justiça aos que foram roubados, mas pelo prazer do afeto que isso carrega.

Não é para mim o mutualismo tal como o cooperativismo que me vem sempre um sentido prático de unir forças para alguma finalidade comum.

Solidariedade, cooperativimo e gentileza estão muito abaixo do sentido do mutualismo.

O mutualismo está antagonicamente oposto à caridade.

E para mim, a genese do mutualismo está em ser e querer ser afetado pela nossa humanidade e não meramente para salvar os que são depauperados de sua dignidade.

Devemos lutar contra o autoritarismo, contra o Estado, mas ter esse espírito de que somos melhores do que nossos algozes é uma grande bobagem messiânica.

Escondemos um sentido cristão, messiânico de iluminação marxista contra a desigualdade, enfim, sermos responsáveis demasiado pelos que não podem ou acreditamos não entender sua condição de expropriação.

O que parece tão maduro, me passa a imagem de distribuição de hóstias quando alguém chuta a porta e a arromba. Há tanto de cristão nisso que vejo uma escravidão dissimulada de libertarismo.

Tentando me afastar da retórica dissimulada. Não me importa nenhum militante infeliz sob a capa de libertário, tal como um vegetariano ingênuo, que é melhor que ninguém por suas objeções gastronomicas. 

O ser puro é uma bosta!




domingo, 19 de janeiro de 2014

Por que os militares de hoje não admitem os crimes cometidos pela ditadura

Não devemos deixar uma linha sequer dos crimes realizados pelos militares e civis durante a Ditadura Militar.

Embora os mortos tenham sido comparativamente menores aos dos países vizinhos, a destruição das vidas de quem sobreviveu é um holocausto moral que deve ser devidamente julgado.

Leiam o artigo seguinte:



domingo, 19 de janeiro de 2014

Por que os militares de hoje não admitem os crimes cometidos pela ditadura

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É do jornalista Luiz Cláudio Cunha o extenso, hiperbólico e contundente artigo publicado na última edição da revista Brasileiros, no qual mostra por que os militares brasileiros de hoje se recusam a fazer o mea culpa pelos crimes da ditadura.
São 20 páginas que, na íntegra, somam mais de 12 mil palavras. Nelas, Cunha cobra dos militares o mesmo gesto feito pelo jornal O Globo em setembro do ano passado – a histórica admissão do erro do veículo-âncora das Organizações Globo para o apoio dado ao golpe militar de 1964 e aos 21 anos subsequentes que fizeram o País imergir no mais longo período autoritário de sua história.
O momento é propício para cobranças e gestos do gênero. Afinal, 2014 não será apenas o ano da Copa do Mundo no Brasil: em 31 de março (ou 1o de abril, dependendo do intérprete daqueles dias confusos), completam-se 50 anos do golpe; abril também marcará os 30 anos da importantíssima e derrotada campanha das Diretas Já; e, em novembro, se chegará aos 25 anos da primeira eleição direta para a Presidência da República depois das décadas de ditadura.
Protesto contra a ditadura no Rio, em 1964: a foto de Evandro Teixeira é uma das imagens mais reproduzidas do período
Protesto contra a ditadura no Rio, em 1964: a foto de Evandro Teixeira é uma das imagens mais reproduzidas do período
Acrescente-se à galeria de efemérides a conclusão das atividades da Comissão Nacional da Verdade, que deve publicar seu relatório final no segundo semestre.
Tudo somado, pode-se ter um ano-marco dos processos de verdade, memória e justiça, e da consolidação dos direitos humanos no Brasil.
Não é pouca coisa, e o artigo de Cunha oferece uma relevante contribuição para entender sérios entraves nesse terreno. Seu título é direto na contraposição da inércia dos militares ao gesto do Globo: “Por que os generais não imitam a Rede Globo”.
Cunha é o experiente repórter que chegou a ser consultor da Comissão Nacional da Verdade, e dali foi afastado por criticar alguns dos seus integrantes e a falta de empenho do ministro da Defesa e dos comandantes do Exército e da Marinha no esclarecimento de crimes da ditadura.
Embora crítico das Organizações Globo, o exemplo do mea culpa a que recorre é justificável: para ele, a Globo foi o principal sustentáculo civil do regime autoritário. “Não cabe discutir se o gesto da Globo envolve puro marketing, medo velado das manifestações, mero oportunismo político ou um genuíno arrependimento”, afirma o artigo. “O que importa é o inédito, amadurecido, eloquente reconhecimento de um memorável, irremediável erro pelo mais poderoso grupo de comunicação do País”.
O jornal O Globo – lembra Cunha – fez dura oposição ao governo de João Goulart e “já em 1965, no ano seguinte à sua deposição, inaugurou a rede de televisão que se forjou e se consolidou à sombra do regime militar que a Rede Globo apoiou com o fervor de fã de auditório”. (Ele não cita, mas convém lembrar que a esmagadora maioria dos grandes jornais, incluindo aqueles que mais tarde seriam vistos como opositores do regime, Estadão e Jornal do Brasil, fez o mesmo em 1964: apoiou a derruba de Jango.)
Em setembro de 2013, O Globo publicou duas páginas e um editorial em que reconheceu, com solenidade e sem disfarces, o equívoco do apoio ao golpe militar e à ditadura subsequente. Não foi a única confissão. O jornal também admitiu que a tíbia cobertura da campanha das Diretas Já resultou de um erro de avaliação político-jornalístico.
Os militares fingem que nada fizeram
Por que os militares não fazem o mesmo? Porque “fingem que nada fizeram ou nada têm a se desculpar”, responde Luiz Cláudio Cunha em seu artigo, contabilizando o balanço de 21 anos de uma ditatura que atuou “sem o povo, apesar do povo, contra o povo”:
- 500 mil cidadãos investigados pelos órgãos de segurança;
- 200 mil detidos por suspeita de subversão;
- 11 mil acusados nos inquéritos das Auditorias Militares, cinco mil deles condenados;
- Dez mil torturados nos porões do DOI-Codi;
- Dez mil brasileiros exilados;
- 4.862 mandatos cassados, com suspensão de direitos políticos, de presidentes a vereadores;
- 1.202 sindicatos sob intervenção;
- Três ministros do Supremo afastados;
- Congresso Nacional fechado três vezes;
- Censura prévia;
- 400 mortos pela repressão, 144 dos quais desaparecidos até hoje.
“A mentalidade dominante dos generais brasileiros (…) rechaça qualquer avaliação do passado recente, escorregando pelo raciocínio simplório e fácil do ‘revanchismo’”, afirma Cunha.
Pressões como a da revista Brasileiros, da Comissão Nacional da Verdade ou do projeto Arquivos da Ditadura, do jornalista Elio Gaspari, ajudam a iluminar as sombras existentes sobre o papel dos militares na violação de direitos humanos naquele período.
Vladimir Herzog, morto sob tortura no DOI-Codi: a tese do suicídio foi vendida pelos militares
Vladimir Herzog, morto sob tortura no DOI-Codi: a tese do suicídio foi vendida pelos militares
São alvos, por exemplo, a localização dos restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia, a violência contra povos indígenas, os assassinatos dos jornalistas Vladimir Herzog e do ex-deputado Rubens Paiva, as suspeitas sobre as mortes dos presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek e o desaparecimento de milhares de presos políticos enquanto estavam nas mãos do Estado.
E a tortura. A tortura foi  o instrumento extremo de coerção e extermínio, último recurso da repressão política que o Ato Institucional n° 5 libertou das amarras da legalidade.
Para usar uma expressão celebrizada por Elio Gaspari, foi quando a ditadura envergonhada transformou-se em ditadura escancarada; quando a primeira foi substituída por um regime anárquico nos quartéis e violento nas prisões: foram os Anos de Chumbo, que conviviam com o Milagre Brasileiro. Ambos reais, coexistiram negando-se. (Para muitos, houve mais chumbo do que milagre, uma vez que a tortura e a coerção dominaram o período.)
Em seu artigo na revista Brasileiros, Luiz Cláudio Cunha lembra os exemplos de generais argentinos e uruguaios, que assumiram publicamente as atrocidades cometidas. Igualmente as comissões daqueles países, que ajudaram a Argentina e o Uruguai a não temer abrir cicatrizes fechadas do passado.
(O artigo não cita, mas é possível lembrar outros exemplos notáveis de reavaliação do legado de violência do passado, como a África do Sul do apartheid, o Peru de Fujimori e o Chile de Pinochet.)
O silêncio que diz muito
O texto de Luiz Cláudio Cunha põe o dedo em riste para os três comandantes das Forças Armadas: o general Enzo Martins Peri, o almirante Júlio Soares de Moura Neto e o brigadeiro Juniti Salto. Sem qualquer ligação com as sombras deixadas pelos colegas de farda da ditadura, os três deixam claro a discordância com a ideia de exumação do passado.
Em 18 de novembro de 2011, ao sancionar a lei que criava a Comissão Nacional da Verdade em cerimônia no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff (ex-guerrilheira) era aplaudida por toda a plateia ao sublinhar aquele “dia histórico”, segundo suas palavras. Aplauso seguido por todos os presentes, exceto por quatro pessoas: justamente os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e do chefe do Estado-Maior Conjunto.
Foi uma cena curiosa: todos eles contidos, mãos sobre o colo, imóveis. No código consentido dos comandantes militares, a ausência do aplauso foi uma das maneiras de dizer pouco e insinuar muito.
A resistência da banda fardada
O artigo de Cunha cita outras evidências que refutam prognósticos otimistas quanto a possível mea culpa dos militares:
- Mentiras expostas em livros didáticos usados por 14 mil alunos matriculados em escolas militares do País;
- O excesso de escolas que homenageiam presidentes e comandantes militares;
- O “sumiço” de documentos como explicação de oficiais para defender a impossibilidade de elucidação de casos de tortura e desaparecimento da época da ditadura;
- A dificuldade que militares ainda demonstram para aceitar a prevalência da autoridade civil (como o espantoso incidente envolvendo o ministro da Defesa, Celso Amorim, e seus assessores civis, barrados na entrada do CIE, o Centro de Informações do Exército, sob o argumento de que ali não entram civis, apenas militares; só o ministro, calado, pôde entrar).
Diante dessa resistência, o mais provável, diz ele, é que “incapazes de reconhecerem suas culpas, os militares brasileiros comprometidos com os abusos da ditadura sejam compelidos a prestar contas à Justiça”, segundo afirma Luiz Cláudio Cunha. Ele acredita na revisão da Lei da Anistia.
Jurisprudência para punir torturadores
Como lembrou, em entrevista publicada no iG, o cientista político Mauricio Santoro, assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional no Brasil, há jurisprudência internacional para punir agentes do Estado envolvidos em atos de violação dos direitos humanos. Depois de estudar os casos de comissões da verdade em cerca de 40 países, Santoro constatou que, mesmo em locais onde as leis de anistia não foram revistas, condenações têm ocorrido.
Há também o conceito de justiça de transição, que no Conselho de Segurança da ONU abarca mecanismos e estratégias (judiciais ou não) para avaliar o legado de violência do passado, atribuir fortalecer a democracia e garantir que não se repitam as atrocidades. responsabilidades, tornar eficaz o direito à memória e à verdade.
Para resumir claramente: oficinais-generais que ordenaram, estimularam e defenderam a tortura levaram as Forças Armadas brasileiras ao maior erro de sua história. Os crimes da época envenenaram a conduta dos encarregados da segurança pública, desvirtuaram a atividade dos militares da época e macularam, até hoje, a sua imagem.
Como pergunta Luiz Cláudio Cunha, por que os generais de hoje não admitem os erros dos seus colegas de farda do passado?

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Assassinato de Anísio Teixeira - Carta Capital


Esses crimes todos: Jango, Juscelino, Herzog, Ruben Paiva....e tantos outros não podem ficar se esclarecimentos.

Anísio Teixeira foi torturado e assassindo e simularam uma queda num fosso de elevador!

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-assassinato-de-anisio-teixeira-2603.html?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

A história tem dessas coisas: as ditaduras acreditam poder esconder as patas depois de cometer crimes, e as patas sujas de sangue um dia reaparecem
por Emiliano José publicado 13/01/2014 10:53
Agnaldo Novais/Agecom Bahia
Anísio Teixeira
O educador Anísio Teixeira
Em 11 de março de 1971, Anísio Teixeira passou boa parte da manhã na Fundação Getúlio Vargas (FGV), na Praia do Botafogo, no Rio de Janeiro. Joaquim Faria de Góes Sobrinho, amigo e colaborador de Anísio, colega de trabalho, soube da visita que ele faria ao apartamento de Aurélio Buarque de Holanda, situado na Praia do Botafogo, 48, edifício Duque de Caxias. Sugeriu-lhe fosse a pé. De carro, teria de dar muitas voltas.
Anísio saiu antes das 11 horas em direção ao apartamento de Aurélio Buarque de Holanda, aceitando recomendação de Sobrinho. Almoçaria com ele, e pediria voto: era candidato a membro da Academia Brasileira de Letras. Depois desse almoço, iria para a Editora Civilização Brasileira, na Glória, Rua Benjamin Constant. Ali, trabalhava como consultor.
Anísio tinha uma rotina relativamente rigorosa. Chegava da Civilização Brasileira entre 18,30 e 19 horas. Neste dia 11, um pouco antes das 20 horas, a mulher de Anísio, Emília Ferreira Teixeira, liga para a filha Anna Christina Teixeira Monteiro de Barros, preocupada: nada de Anísio chegar. A filha tranqüilizou-a: o pai poderia ter saído com o embaixador Paulo Carneiro, seu amigo e um dos articuladores de sua candidatura à Academia. Carneiro era representante do Brasil na UNESCO, em Paris, em visita ao Brasil naquele momento.
Mas, o tempo passava, e nada de Anísio. Logo, o apartamento, à Rua Raul Pompéia, 58, apartamento 803, em Copacabana, começou a se encher de parentes e amigos. Começa uma via-crucis: delegacia de polícia de Copacabana, onde não havia qualquer notícia; não estivera na Editora Civilização Brasileira. Terminaram o dia no Hospital Miguel Couto, onde também não havia sinal dele.
Dia seguinte: não estivera também no edifício de Aurélio Buarque de Holanda. Tudo muito estranho, a família em polvorosa. E mais angustiado ficaram todos quando o jornalista Artur da Távola, genro de Anísio, informa que o acadêmico Abgar Renault soubera do comandante do I Exército, Sizeno Sarmento, que Anísio Teixeira estava “detido para averiguações” em dependências da Aeronáutica.
No dia 13, jornais noticiam o desaparecimento do educador. E às 17 horas, Anna Christina recebe um telefonema: “aqui é da polícia...”. Ela passa o telefone para Lúcio Abreu, amigo da família. O educador fora encontrado morto, nas palavras da polícia, no fosso do elevador do edifício onde residia Aurélio Buarque de Holanda.
O corpo estava agora no Instituto Médico Legal. Fora retirado do fosso sem perícia técnica. Na autópsia, estiveram presentes o acadêmico Afrânio Coutinho, o neurologista Djalma Chastinet Contreiras e os médicos Francisco Duarte Guimarães Neto, Domingos de Paula e Deolindo Couto, estes três, professores da UFRJ. Segundo relato dos presentes, havia duas grandes lesões traumáticas no crânio e na região supra-clavicular, incompatíveis com a suposta queda. Relatam, também, a existência de um instrumento cilíndrico, provavelmente de madeira, presumível causador das lesões. O legista, quando prosseguia com sua descrição, foi interrompido abruptamente por dois funcionários provenientes do local de onde o corpo fora retirado, que afirmavam ter sido “morte acidental por queda em fosso de elevador”.
No edifício onde Aurélio Buarque de Holanda morava, outro genro de Anísio, Mário Celso da Gama Lima, junto com um detetive policial, José Pinto, constatava: o corpo não poderia ter caído do alto e chegado ao ponto onde fora encontrado. Não passaria entre duas vigas logo acima, separadas entre si por uma distância de pouco mais de 20 centímetros. As lentes intactas dos óculos de Anísio, encontradas no local, outra evidência da farsa – não havia, então, lentes inquebráveis. Os dois subiram para testar as portas dos elevadores de cada um dos andares. Não conseguiram abrir nenhuma delas.
Mário vai ao IML, a autópsia em curso, ele não consegue assisti-la. O médico e professor da UFRJ, Francisco Duarte Guimarães, havia assistido, e lhe diz sem qualquer vacilação: “Mário, tio Anísio foi assassinado”. Dos que assistiram a autópsia, Mário ouviu a certeza: Anísio fora assassinado.
Foi enterrado no dia 14 de março de 1971, no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. A morte ocorria menos de dois meses depois da prisão, tortura e desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, também no Rio de Janeiro. À época, os esforços para elucidar o caso junto à delegacia responsável esbarravam no fato de que a polícia só admitia tratar o fato como crime comum, malgrado admitisse a hipótese de assassinato. Quando houve a tentativa de incriminar serventes, o filho de Anísio, Carlos Antonio Teixeira, resolveu suspender a investigação.
Esclareço que essas informações estão baseadas em textos produzidos principalmente pelo professor João Augusto de Lima Rocha, da Escola Politécnica da UFBA, membro do Conselho Curador da Fundação Anísio Teixeira e da Comissão da Verdade da UFBA, autor do livro “Anísio em Movimento” e, também, no Memorial enviado à Comissão Nacional da Verdade e à Comissão da Memória e Verdade Anísio Teixeira, da Universidade de Brasília, assinado pelo filho de Teixeira, Carlos Antonio Ferreira Teixeira; por Haroldo Lima, ex-deputado federal, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo e sobrinho-neto de Anísio Teixeira, e pelo próprio João Augusto.
O Memorial anexa matéria do jornal Última Hora, de 15 de março de 1971, onde sérias dúvidas são apresentadas em relação à tese de acidente. A polícia, em princípio, segundo a reportagem, conclui que se Anísio tivesse caído no espaço do elevador de serviço jamais iria cair no platô.
O repórter informa: o corpo estava exatamente sobre o platô, de cócoras, com a cabeça sobre os joelhos e as mãos segurando as pernas. Entre os pés, uma poça de sangue. Na parede, bem no canto, abaixo das duas pilastras, alguns pingos de sangue. Mais nada. E as pilastras não mostravam ranhuras no cimento, na pintura, nem marcas de sangue, coisa que aconteceria se o corpo tivesse batido ali. Ainda segundo a reportagem: quando a portinhola que dá acesso ao platô foi aberta e encontrado o cadáver, outra porta, a da casa de força também estava escancarada. A perícia encontrou ali muitos respingos de sangue.
Outra conclusão categórica da polícia, ainda segundo a matéria: acidente é praticamente impossível. A posição do corpo feria tudo o que já fora visto até ali em acidentes como aquele. “Alguém matou e colocou ali o cadáver do professor Anísio Teixeira”. O repórter anota ainda outras observações da polícia: o chão em volta da portinhola que dá acesso ao poço do elevador havia sido lavado, os óculos de Anísio haviam sido encontrados em uma das pilastras e tudo leva a crer que foram colocadas ali,  e ao ser retirado do fosso o cadáver estava sem sapatos e sem paletó. E os elevadores haviam sido revisados havia apenas 20 dias.
O Memorial relata, ainda, depoimento de Luís Viana Filho, de 1988, dado ao professor João Augusto de Lima Rocha, que preparava então o livro “Anísio em Movimento”, publicado pela Fundação Anísio Teixeira, em 1990, e republicado pela Editora do Senado, em 2002. Viana Filho, no depoimento, informa que, procurado pela família, buscou notícias, e recebeu a informação de que Anísio fora detido pela Aeronáutica para esclarecimentos, mas que seria libertado.
E noutro depoimento, dado em 1989, Afrânio Coutinho diz acreditar que Anísio fora morto sob torturas. E diante de James Amado, sua esposa Luiza Ramos, Pedro Roberto Ivo das Neves e do próprio João Augusto, disse ter escrito um documento sobre o episódio, depositado no cofre da Academia Brasileira de Letras, com a recomendação de só ser aberto 50 anos após a ocorrência dos fatos, em 2021, portanto. Coutinho cita o brigadeiro Burnier como um dos responsáveis pelo assassinato de Anísio, o mesmo Burnier dos sinistros planos do Para-Sar e da explosão do gasômetro da Avenida Brasil, abortados pela resistência do capitão Sérgio Macaco.
São muitas as evidências de que Anísio Teixeira foi morto sob tortura. A história tem dessas coisas: as ditaduras acreditam poder esconder as patas depois de cometer crimes, e as patas sujas de sangue um dia reaparecem. É momento de resgatar a memória, revelar a verdade, fazer justiça. Sem condescendência com os criminosos.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Rolezinho não é anarquista, mas é um fato inescapável aos acrátas

O rolezinho que assusta mídia, comerciantes, polícia e autoridades tem um sabor especial.

As praças foram sequestradas. Não há locus para a juventude.

Os jovens se facebookizam!

Mas eles querem estar tribalizados, mesmos os que ingenuamente escolhem os shoppisssssss para se encontrar.

Quando os e.mails começaram a ser uma realidade em 1997 e se efetivaram em 2001 com as famosas Listas de Discussões, que poucos leem, sempre eu vi um potencial de articulação e mobilização nessa comunicabilidade.

Agora ela acontece, com funções, motivos e objetivos bem distintos dos de alteração a ordem autoritária.

Mas outros fenômenos como o rolezinho surgirão!

É bem banal o que baliza esses encontros, mas é eficiente!

Quando reclamam que há escolas sofrendo com a violência e sendo locais de perda de tempo da juventude, bom comparar a dinamicidade, capacidade de realização e de ação direta do rolezinho.

Tem tantos fenômenos mais atraentes que a escola, que realmente fica difícil competir.

Importente saber que essa moçada daqui a 10 anos já tiveram esse aprendizado de mobilização e sabem de seu efeito.

Mas usarão para um promoção de video games????

Eu num sabo!


sábado, 11 de janeiro de 2014

A pedagogia anarquista grita aos ouvidos dos que dela necessita!



Em 2004 tive uma experiência em sala de aula que considero a mais significativa sobre meu pensamento a favor da pedagogia anarquista.

Na formação de geógrafos e educadores em geografia o trabalho de campo é sempre colocado como peça chave. Rouseau, Tolstoi e tantos outros precursores da educação sugerem ir no mundo real para aprender sobre a física e o mundo. 

Assim, alguns geógrafos marxistas no Brasil que se preocupam com a pedagogia, didática e transformações em prol de uma sociedade mais justa juntam ao coro da aula de campo, excursões, visitas de campo, aula externa e qualquer outra prática que tire os estudantes da sala e da escola para ver o mundo em sua dinâmica própria.

Então, no mesmo ano de 2004 eu fiz aulas de campo no litoral de João Pessoa com estudantes do ensino médio do CEFET-PB. Essas aulas eram para brindar a amizade e confiança já adquirida e conquistar outros mais reticentes. Depois pedi a todos que fizessem um relatório expedito, nada discursivo que apenas relatasse o que viram.

Foi uma experiência bem sucedida e consegui chegar a um resultado satisfatório, salvo um relato do estudante Y que mostrou outro sentido do que pedi e que após ler seus escritos, tive discussões em minha casa, perdi uma noite de sono e fiquei no dilema entre dar uma boa avaliação ou anular o valor desse trabalho.

Passei muitos anos buscando esse relato entre minhas coisas e já tinha dado como perdido, até que 9 anos após, revendo antigas correspondências, me deparo com esse importante documento de minha formação.

Agora reproduzo esse relato e finalizarei com o eu aprendi disso e por qual razão esse conteúdo é uma marco simples mas de muita valia para o que fui desenvolvendo depois.

Relato do estudante Y

Pouco sei falar da aula de campo de geografia que ocorreu no último sábado, eu quase desisti de ir devido à minha rotineira preguiça, de madrugada tomei banho de laminas cortantes e quando fui para a parada de ônibus mal notei que perdi um ônibus que passava bem ao alcance de meus olhos. Mas incrivelmente consegui chegar lá, eu me deparei com a minha turma desunida que finge ser “legal”, mas que REALMENTE não é! Cumprimentei alguns amigos que eu não tenho e tentei entrar no jogo dissimulado do 2° ano , sim, por que eu não poderia deixar de ser ridículo também? Por um dia eu não poderia deixar de ser o estanho da sala?  Eu estava em uma praia que nunca havia ido, e (era sábado). Quando descemos para a areia o professor falou de umas pedras; o que pode ter de interessante em pedras? Eu tentei escutá-lo, na verdade eu até escutei, mas sinceramente não lembro de quase nada do que ele disse, talvez porque eu não achei interessante, por que as pedras não eram tão “adoráveis” como as pessoas da sala?
O meu objetivo continuava de pé, apesar de andar, andar, andar... E o sol então? Deus seria quase perfeito se eu não existisse o dia! Mas, mesmo com todos os problemas, eu tentei ser simpático, como na verdade eu sempre tento, acho agora que sou o mais dissimulado daquela turma! Não quero me apegar aos detalhes que não existem sobre este ignóbil passeio!
Também não falarei das pedras, nem sobre as falésias vivas ou mortas, nem das moribundas. Pois na verdade, nada sei sobre tudo, e nem consigo fazer uma relação normal, assim como fazem todas as pessoas!
O que me lembro é que fiz duas coisas inéditas, talvez disso eu não me esqueça: dancei forró (um ritmo nojento) pela primeira vez, não que isto seja motivo de orgulho, mas foi algo inédito para mim; era engraçado os aborígenes da praia lavando roupas num rio fétido (rio peruca, eu acho!), com pessoas apontado-as como se fosse algo muito distante de nossa realidade; também fiz outra coisa surpreendente, tirei uma foto com a turma que eu não faço parte (eu odeio ser fotografado!).
Mas, por que eu não dormi naquele dia? O que me levou a ir para esta simples aula de campo? Nada? Pois na verdade eu não fui, eu continuei dormindo para que eu perdesse meu tempo fazendo relatório completamente sem nexo! E sabe o que disseram as pessoas da sala num só coro com belíssimos sorrisos: - Nos adoramos a aula de campo!

Quando me deparei e li esse relato eu desmontei de tristeza e de raiva. Trabalhei um dia sem remuneração, vi todos felizes e por qual razão um jovem perderia tempo de fazer um testemunho de si, dos outros e de minha prática tão negativos?

Demorei bastante a perceber que ele me deu uma prova maior de confiança, afinal, por que se auto denunciar? Hoje relendo, percebi que ele aprendeu muito mias do que eu imaginei. Na época tasquei a nota máxima. O espanto do estudante Y quando viu isso foi engraçado! Ele realmente queria se ferrar! Coisa de jovem suicida!

Sofri para entender o negativismo e a apresentação de falta de sentido que a aula de campo teve. Mas na época eu entendi que a melhor coisa que uma estudante pode oferecer a um professor é a confiança de que suas palavras serão respeitadas. Também, que não há uma prática pedagógica que seja boa para todos.

Hoje, com os parâmetros da pedagogia anarquista, compreendo que o ensino formal, unificado, de massa, obrigatório e autoritário faz muito mal às pessoas. Alguns conseguem falar do mal estar que sentem, outros não se demonstram perturbados e sobrevivem.

Esse relato ranzinza foi um dos primeiros eventos que me deram a partida para sair da proposta marxista na pedagogia em seu cunho reducionista, autoritário e diretivista.