O pós-fordismo precisa de trabalhadores capacitados e adaptados à acumulação flexível, seu saber, seu entendimento de mundo e ético acabam seguindo pela flexibilidade ética....elástica.
Assim, tudo de nobre que se faz na Finlândia, migrada para suas empresas filiais para o Brasil, África, Equador....acabam seguindo a regras do moedor de carne e não da flexibilidade.
Essa educação para o mundo do trabalho, descompartimentada (parecendo evolução) é de fato um argumento bom destinado à uma prática bem questionável.
Te libero da educação iluminista e te coloco na educação self-serviceTudo que antes não fazia sentido, se troca por tudo que faz sentido útil.
Sigo em baixo comentando em vermelho a matéria
http://shifter.pt/2015/03/finlandia-quer-abandonar-o-ensino-de-disciplinas-nas-escolas/
A Finlândia já tem um dos melhores
sistemas de educação do mundo, que ocupa as posições de topo na
matemática, nas línguas e na ciência dos prestigiados rankings PISA
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. Somente
países do oriente, como a Singapura e a China conseguem superar o país
nórdico.
Desde que surgiram testes internacionais comparando incomparáveis, essas relações sobre qualidade de ensino servem de faca afiada e auto justificadora de métodos e seus resultados, mas seus resultados se destinam à acumulação flexível e cirurgicamente teleguiadas a objetivos de mercado Sob esse foco a educação vai bem para quem vai bem nesses testes.
Políticos e especialistas em educação de todo o mundo olham para o
país como um exemplo e tentam replicar nos seus sistemas de ensino o
sucesso que lhe reconhecem.
Óbvio que sem ter as mesmas condições sociais e econômicas, tudo que se faz ao transportar esses modelos serve para oprimir professores que não possuem as mesmas garantias nem apoio da pressão social. Também Cuba tem sido elogiada, mas nenhuma de suas práticas merece atenção..apenas elogios evasivos. Dizem ser boas, mas não propagam como a fazem ser boa. Por que?
Mas a Finlândia não está a descansar nos seus louros. Está a preparar a maior reforma na educação de sempre, abandonando o tradicional ensino por disciplinas e implementando um ensino por tópicos.
Algumas disciplinas principais, como Literatura Inglesa e Física, já
estão a ser eliminadas das turmas de 16 anos em escolas da
capital Helsínquia.
Em vez disso, os jovens finlandeses estão a aprender por tópicos,
como a “União Europeia”, que engloba a aprendizagem de economia,
história, línguas e geografia. Num ponto de vista mais profissional, um
aluno que queira especializar-se em restauração opta por um curso que
inclui matemática, línguas (para clientes estrangeiros), competências
de escrita e habilidades de comunicação oral.
Ou seja, nada de uma hora de história, seguida de uma hora de química
e de uma hora de matemática. A ideia é eliminar uma das maiores
interrogações dos estudantes: “porque tenho de aprender isto?”. No novo modelo finlandês, todos os assuntos leccionados estão interligados e existem motivos práticos para os aprender.
“Aquilo de que precisamos agora é de um tipo de educação diferente que prepare as pessoas para o mercado de trabalho”, explicou Pasi Silander, responsável pelo desenvolvimento da cidade de Helsínquia, ao jornal
The Independent, salientando que com os avanços tecnológicos algumas formas de ensino deixaram de fazer sentido.
“Os
jovens já usam computadores avançados.
Ensino que se faz por caixa sempre foi criticado. Currículos medidos por hora aula também é outra imbecilidade formal. Finalmente se esquece que acesso social à cultura, respeito à juventude e seus direitos formam a inteligência mais que um cabedal inútil de disciplinas. Outro erro é achar que o que se ensina de disciplina compartimentada na Finlândia equivale ao que se faz no Brasil. Finalmente, pegam algo legítimo da crítica e enfiam a ideia de mercado de trabalho. Argumento legítimo, conteúdo indiscutível e objetivo banal e neurótico.
No passado, os bancos tinham
muitos funcionários a fazer cálculos, mas agora tudo mudou. Temos, portanto, de fazer as mudanças na educação necessárias para a indústria e sociedade modernas.”
No pós-fordimos há situações que o trabalhador nem precisa saber a língua de seus país ou ter estudado. O pós-fordismo e a sua característica de acumulação flexível só precisa de um executor banal. É a máxima de Ford que dizia o fordismo ser includente, pois, bastava a pessoa ter um braço que já entrava em alguma atividade da cadeia de produção. Agora, sabendo manipular um software qualquer já é um trabalhador.
A maioria dos professores sempre leccionou disciplinas individuais ao
longo das suas carreias e por isso são muitos os que se opõem a estas
mudanças. Não é difícil percebermos porquê: o novo sistema é muito mais
colaborativo, forçando os profissionais de diferentes áreas a
juntarem-se para definir o plano curricular. Marjo Kyllonen, responsável
pela educação na capital finlandesa e um dos autores desta
reforma, baptizou o novo modelo de “co-teaching” e assegura que os professores que concordarem com ele vão receber bónus salariais.
O anarquismo pregava a co-educação, educação através de mediadores e não diretiva, união por afinidades e objetivos, por projetos, intergeracional e sem compartimentação do conhecimento, isso na virada do século XIX-XX. Hoje, todas essas práticas inovadoras anarquistas são utilizadas de forma conservadora e dirigida, sob o pressuposto que o mercado de trabalho como sendo o sinonimo de felicidade e de realização pessoal. E dando certo na Finlândia..deverá dar certo em qualquer lugar do mundo, mesmo que lá não tenha as mesmas condições direitos sociais garantidos.
Cerca de 70% dos professores das escolas básicas de Helsínquia ja foram preparados para o novo modelo, de acordo com Silander. “Mudámos
mesmo a mentalidade. É ligeiramente difícil convencer os professores a
entrar na nova abordagem e a dar o primeiro passo… mas aqueles que o
fizeram dizem que não conseguem voltar atrás.”
O novo sistema de ensino finlandês está a ser “testado”
em Helsínquia, mas a intenção dos responsáveis da capital é que este
seja aplicado em todo o país por volta de 2020.